subordinadas. Entretanto, a crise econômica, a ampliação da concorrência internacional,
o aumento de pressões do capital financeiro e do trabalho organizado forçaram as
companhias a reverem suas formas de produzir e a cortarem gastos. Os incrementos
tecnológicos ajudaram nesta tarefa, auxiliando na dispersão da produção por meio da
subcontratação de empresas terceirizadas, e o crescimento de grandes varejistas, como
o Walmart, Target e Amazon, eliminou a necessidade das empresas de arcarem com os
custos de distribuição de seus bens. Nesse modelo, grandes companhias como Apple,
Disney e Nike se preocupam unicamente em gerir sua marca, o design de seus produtos
e em contratar empresas terceirizadas que possam se encarregar de fabricá-los no
menor preço e tempo possíveis. Dessa forma, o gigantismo industrial ressurge em locais
com mão de obra barata, abundante e com baixo nível de sindicalização, como a China,
para atender justamente a estas demandas. A Foxconn é capaz de responder a diversos
pedidos de diferentes marcas ao mesmo tempo com seus mais de 300.000
trabalhadores, contudo, diferentemente do passado, dificilmente será exaltada por tal
feito, pois a exploração e precarização do trabalho causados pela Foxconn prejudicariam
não somente ela, mas também todos os seus clientes internacionais.
As fábricas ocuparam um papel crucial ao longo dos séculos XIX, XX e XXI,
celebradas no passado
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tanto no capitalismo quanto no comunismo
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como a
encarnação da modernidade, e escondidas no presente por não simbolizarem mais um
futuro melhor. Freeman reconstrói com maestria todos os altos e baixos do mundo fabril,
enfatizando o fazer humano multifacetado por detrás desse. É um excelente guia
introdutório para diversos debates já consolidados sobre classe trabalhadora e revolução
industrial, além de contribuir também para discussões em campos mais recentes, como
de desindustrialização
, por demonstrar, simultaneamente, como este mundo
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que está
morrendo no ocidente
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foi forjado e forjou muitas das estruturas (materiais e
ideológicas) contemporâneas. Embora os casos estudados forneçam uma boa descrição
do gigantismo industrial e de sua relação com a modernidade, é uma pena que boa parte
do sul global fique de fora da obra. Seria riquíssimo para o livro analisar casos de
fábricas descomunais na América Latina, por exemplo, local que possui uma relação
Os estudos sobre desindustrialização (
Deindustrialization Studies
) datam de meados dos anos 70. Eles
almejam explicar
porque várias regiões altamente industrializadas (sobretudo regiões do norte global)
sofreram com fechamento de fábricas, ou com a realocação de unidades produtivas para países do sul
global
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especialmente nações asiáticas
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nos últimos 40 anos. Num primeiro momento, muitas das
análises se deram a partir de um viés majoritariamente econômico, destacando a mão de obra barata e
pouco organizada sindicalmente das regiões do terceiro mundo como as principais causas do fenômeno.
Contudo, com amadurecimento do campo, o leque de perspectivas analíticas se ampliou, e atualmente
muitos trabalhos abordam não somente os aspectos econômicos que motivaram estas mudanças como
também ressaltam os impactos sociais, políticos e culturais que a desindustrialização causa nas
comunidades que se organizavam fortemente em torno do trabalho fabril.