COTA JR, Eustáquio Ornelas
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.2, nº1, p. 63-79, jan.-jun., 2015.
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A coleção sul-americana começou em 1939 com a compra de um dos melhores
quadros do brasileiro Portinari, o governo brasileiro doou recentemente ao
Museu o mural, St. John’s Day [sic]21. A escultura mais importante da coleção
também é brasileira. Christ de Maria [Martins], foi uma doação de Nelson A.
Rockefeller. Leigh Athearn deu a primeira pintura da Bolívia, e da Comissão
Nacional de Cuba para a Cooperação Intelectual veio a primeira aquisição
cubana. Assim, até o final de 1941, o Museu tinha cerca de 70 obras latino-
americanas, um terço delas eram gravuras, eram apenas 11 artistas de quatro
países. Quatro artistas foram, no entanto, de grande importância e foram
magnificamente representados: Orozco, Rivera, Siqueiros e Portinari22.
O texto de Alfred Barr revela o discurso institucional sobre a formação da coleção.
Escrito em 1943, Barr identifica a exposição de Diego Rivera, em 1931, e as doações
das primeiras obras da coleção, em 1935, como as primeiras iniciativas nos campos
da arte e cultura latino-americana. No entanto, percebemos que, entre 1931 e 1939, há
apenas exposições sobre arte mexicana, com destaque para os muralistas. Mesmo as
aquisições de obras no período, também foram basicamente de arte mexicana. Isso
nos fez questionar se havia, nesse período, realmente uma consciência representativa
da arte latino-americana ou eram apenas atividades voltadas ao contato, exposição e
aquisição da arte mexicana
23
.
Em 1939, quando ocorreu a aquisição de obras sul-americanas, o artista e país
mencionado por Alfred Barr foi Candido Portinari, do Brasil. Em 1939, Alfred Barr
havia adquirido para o MoMA a tela Morro, de Portinari, e, no mesmo ano, foi doado
pelo governo brasileiro a obra St. John’s Eve, tornando-se as primeiras obras de um
pintor brasileiro a fazer parte da coleção da instituição
24
. Entre outubro e novembro de
21. Aqui há uma incorreção. A tela cujo título é St. John’s Day é uma obra do artista brasileiro Heitor dos
Prazeres, adquirida em 1942. A obra de Cândido Portinari doada pelo governo brasileiro se chama St.
John’s Eve, como consta no catálogo. Pode se conferir na própria catalogação das obras presente no
documento. Ver. THE Museum of Modern ART (New York, N.Y.). The Latin-American Collection of the
Museum of Modern Art. Edited by Lincoln Kirstein. New York: MoMA, 1943, p. 91.
22. No original: The Museum’s Latin-American collection was begun in 1935 with Mrs. John D. Rockefel-
ler, Jr.’s gift of Orozco’s Subway, followed a year later by two large Riveras. In 1937 a trustee anonymously
gave a remark able group of four Orozcos, including the famous Zapa tistas; and the same year Dr. Gregory
Zilboorg pre sented the first of the Museum’s paintings by Siqueiros, a series to which Lieutenant Edward
M. M. Warburg and the Estate of George Gershwin have also contributed./Over a hundred drawings,
watercolors and prints by Rivera and Orozco, the gift of Mrs. Rockefeller, in creased the collection of Me-
xico’s “big three” which was further and greatly augmented in 1940 by the acquisition of Rivera’s Zapata,
Siqueiros’ Ethnography and Orozco’s Dive Bomber which the Museum commissioned. Other Mexican
works were given by Major Merle Armitage, T Catesby Jones and the Museum’s Advisory Committee./
The South American collection began in 1939 with the purchase of one of the best paintings by the Bra-
zilian, Portinari, whose government has recently given the Museum his large mural decoration, St. John’s
Day. The most important sculpture in the collection is also Bra zilian. Maria’s Christ, the gift of Nelson
A. Rockefeller. Leigh Athearn gave the first Bolivian painting and from the Cuban National Commission
for Intellectual Co operation came the first Cuban acquisition./Thus by the end of 1941 the Museum had
some 70 Latin-American works, a third of them prints, but by only 11 artists in four countries. Four artists
were, how ever, of great importance and were magnificently repre sented: Orozco, Rivera, Siqueiros and
Portinari. BARR, Alfred H. “Foreword.” In: Museum of Modern ART (New York, N.Y.). The Latin-American
Collection of the Museum of Modern Art. New York: MoMA, 1943, p.3.
23. Para responder essa questão se faz necessária a análise da documentação dessas ações do Museu
voltadas à arte no período entre 1931 – 1941. Elas são chamadas de arte latino-americana. De todo modo,
a questão é bastante relevante, pois mostra que no texto de Alfred Barr Jr. há um discurso institucional
que precisa ser analisado.
24. Museum of Modern Art (New York, N.Y.). MoMA Press Release Archives, 1940: nº 069_1940-10-