Na esteira das discussões iniciadas no dossiê anterior, apresenta-se o artigo Índios
(maravilhosamente) assombrosos na América Portuguesa do século XVI, do autor Kelvin
Oliveira da Silva. O trabalho nos traz uma interessante visão sobre as descrições dos
diversos cronistas da América Portuguesa dos quinhentos sobre o indígena recém
“descoberto”, detendo-se, especificamente, àquelas que se referiam a situações de
assombro e/ou perigo, cujas narrativas mobilizaram imagens maravilhosas e assombrosas,
semelhantes aos relatos outrora descritos por viajantes medievais. A importância do artigo
está, justamente, em revelar as impressões destes viajantes sobre a beleza (ou assombro)
dos europeus para com os povos aqui residentes.
Ainda na esteira desta discussão, temos o texto Os curacas e a capacocha: de
representações escritas a vestígios materiais, do autor Vinícius Soares de Lima. Ao
confrontar as fontes eclesiásticas espanholas sobre a prática da capacocha, isto é, os
sacrifícios realizados pelas elites dos povos nativos dos Andes, os chamados curacas, o
autor coloca em evidência o posicionamento da Igreja frente às mais diversas práticas
ritualísticas destes povos, além dos ordenamentos jurídicos discutidos por essas
autoridades para dar conta de tais práticas, à luz de uma visão religiosa enraizada no
reinado espanhol do século XVI.
Em Teoria da história e sua aplicação prática – um olhar a partir de uma hipótese
de pesquisa, Andrei Tonini realiza um trabalho de fôlego ao aproximar Teoria da História
a questões importantes da História do Direito, visando apresentar um meio de diálogo
entre teoria e pesquisa em História, cujas possibilidades permitiram evidenciar uma
hipótese de pesquisa entre o envolvimento do regionalismo político-histórico e o Poder
Judiciário. Em suma, sua tentativa consegue vislumbrar ao leitor a necessidade de fazer
com que todo o trabalho histórico possua um cientificismo.
Jhalleson Khovalik Oliveira, com o seu texto Belisário Pena: educação eugênica,
eugenia e formação da consciência sanitária nacional (1916-1932), nos traz uma breve,
porém importante análise sobre a vida e obra do médico sanitarista Belisário Pena e o seu
contato com o debate sobre a prática da eugenia que, no momento da proclamação da
República, era um assunto candente na sociedade brasileira. Com uma visão inovadora, o
médico rechaçou o uso da eugenia “negativa”, que se pautava no racismo científico, e
apostou numa regeneração da sociedade brasileira, baseada na eugenia “preventiva”, cujas
práticas estavam na educação higiênica e nas reformas sociais e do meio.
Em Elaborações de si: o folclorista Ademar Vital na década de 1940, a autora Maria
Joedna Rodrigues Marques, realiza uma breve trajetória do folclorista paraibano Ademar
Vital e sua importância para a consolidação da Sociedade Brasileira de Folclore (SBF) e a
criação da Sociedade Paraibana de Folclore (SFP), sendo estas entidades fundamentais