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FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº2, p. 132-160, jul.-dez., 2014.
As cartas de Londres: a participação de George Orwell nas páginas da revista nova-
iorquina Partisan Review durante a Segunda Guerra Mundial (1941-1946)
declaração da Liga foi exatamente: “A guerra se tornou o assunto!”(“War has
become the issue!”)
7
(COONEY, 1986, p.167).
Uma nova guerra mundial já se prenunciava para a Partisan e seus
editores, no entanto, assim como aconteceu com outros intelectuais europeus,
mesmo antes de 1939, quando o fascismo já mostrava sua face perigosa e
belicista, por exemplo, na Espanha, durante a Guerra Civil (1936-9), três
anos antes. Fora na Guerra Civil espanhola, aliás, que se desenhou a ante-
sala para a confrontação ideológica que se veria em confronto na Segunda
Guerra Mundial: de um lado os fascistas, apoiando o golpe militar contra a II
República e, de outro, os comunistas que suportavam a luta internacionalista
de defesa ao governo eleito em 1934 (ROVIDA, 1988; MEIHY e BERTOLLI
FILHO, 1996). Da mesma forma, fora durante a Guerra Civil na Espanha que
cou claro, para muitos intelectuais, as posições autoritárias do stalinismo,
especialmente durante a supressão de sua dissidência, em 1936, quando
do racha com anarquistas e demais grupos trotskystas, desencadeada em
Barcelona (ORWELL, 2001). Essa era, por exemplo, a posição de Orwell
desde 1937, quando ele lança seu primeiro texto acerca de sua participação
na Guerra Civil Espanhola, quando denunciara, ambos, o stalinismo e o
fascismo, como perigos irremediáveis, não apenas para o avanço progressista
das forças de esquerda, mas para a própria paz, irremediavelmente instável
no continente. Esse primeiro texto foi intitulado Spilling the Spanish beans,
publicado na revista New English Weekly, em 29 de Julho e 2 de Setembro de
1937. E antecedeu, inclusive, o trabalho de Orwell, mais conhecido do grande
público, e que se ocupa da Guerra Civil espanhola, Homage to Catalonia
(no Brasil publicado com o título de Lutando na Espanha), publicado pela
primeira vez em 1938
8
.
Dentro do contexto internacional da denição do Popular Front como
a tática internacional de combate ao fascismo, em 1935, a Partisan Review, em
seus primeiros números, era contrária a uma nova guerra mundial, combinando,
nas palavras de Terry Cooney, “a polêmica anti-stalinista com a doutrina radical
das ‘lições’ aprendidas com a Primeira Guerra Mundial”. Na primavera de 1938,
7 A denição da guerra mundial como o assunto central a ser debatido pela Liga angariou
uma massiva adesão entre os intelectuais que compunham o círculo em torno da Partisan
Review: Lionel Abel, James Burnham, F.W.Dupee, James T. Farrell, Clement Greenberg,
Dwight Macdonald, George L.K. Morris, William Phillips, Philip Rahv, Harold Rosemberg,
Meyer Shapiro e Delmore Schwartz, além de outros contribuidores que escreviam para a
Partisan.
8 Em 2001, a editora Penguin Books, de Londres, lançou uma coleção que reúne isolada-
mente todos os escritos de Orwell relativos a Guerra Civil espanhola, intitulado Orwell in
Spain. Textos que, no entanto, já haviam sido publicados em outras coleções de sua obra,
como aquelas que já nos referimos neste artigo. Produção que analisamos em grande
parte na dissertação de mestrado defendida em 2010, no Departamento de História da
Universidade de São Paulo, intitulada O último homem da Europa: a luta pela memória no
universo não-ccional da obra de George Orwell, 1937-1949, a qual contou com nancia-
mento da FAPESP.