irregularidades, desmandos e injustiças praticadas, que estourou a greve” (SANTOS,
1987, p. 89).
O Brasil, que nesse período já passava por um aumento significativo nos números
de greve e mobilizações, assistia a mais uma greve se desenrolar, porém num setor
estratégico fundamental, o transporte. Greve dos ferroviários da Sorocabana,
paralisação de 700 mil operários em São Paulo, greve dos trabalhadores de transportes
aéreos, entre outras, marcaram o ano de 1963. Sobre a greve e a conjuntura política do
período, o Sr. Guarino relata:
A massa lutava pelas suas reivindicações, mas, paralelo ao nosso trabalho o
governo se preocupava em estimular o movimento grevista no Estado de São
Paulo para justificar um estado de autoridade, para justificar um golpe no país,
como foi dado em sessenta e quatro. (Guarino Fernandes dos Santos,
entrevista, out. 1988)
Após dias de impasse entre o governo estadual e os grevistas, o então Ministro do
Trabalho, Amaury Silva, foi a São Paulo conversar com os ferroviários e argumentou,
segundo o Sr. Guarino, “que o país atravessava um tenso e decisivo momento histórico,
havia muita gente interessada na desestabilização do governo João Goulart” (SANTOS,
1987, p. 89), propondo que os ferroviários voltassem ao trabalho. De acordo com o sr.
Guarino:
Nós na verdade fomos um instrumento político na mão desse grupo de direita
dessa greve de 18 dias. Por isso que nós voltamos atrás. A hora que nós tivemos
consciência pelo ministério do trabalho de que a greve estava sendo um
estimulo para o golpe de sessenta e quatro que devia ser em sessenta e três,
devia ser na nossa greve se nós continuássemos. A revolução seria em
novembro e não em março (Guarino Fernandes dos Santos, entrevista, out.
1988)
Logo após essa conversa, os ferroviários da Sorocabana voltaram ao trabalho no
dia 30 de novembro de 1963. Com o retorno as atividades, a administração da EFS,
compilou 100 nomes que estavam ligados ao início da greve. Os mesmos “foram
suspensos de seus serviços por 90 dias e convocados para depor em inquéritos
administrativos” (SANTOS, 1987, p. 91), que acabaram sendo arquivados até o golpe civil-
militar de 1964. Após o golpe, “43 valorosos companheiros foram enquadrados no Ato
Institucional n° 1 e sumariamente demitidos sem nenhum direito, após trabalharem mais
de 30 anos para a Estrada e o Estado” (SANTOS, 1987, p. 92). No caso do Sr. Guarino,
então presidente da União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana, além de ser
preso, teve seus direitos políticos cassados e respondeu a 15 processos civis e militares
como responsável pelas greves. Essa coalizão de forças golpistas, de militares e do