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FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº2, p. 113-131, jul.-dez., 2014.
Entre discursos e práticas: a atuação do jornal “O Nordeste” no combate aos “maus
costumes” (1922 – 1927)
Nordeste explicitavam quais as normas e obrigações que os cidadãos fortalezenses
deviam seguir naquele período, ou seja, como deveriam agir no espaço urbano.
Mesmo não se tratando de um órgão ocial da Igreja Católica, era
conservador e de orientação religiosa, pois fora fundado por Dom Manuel da Silva
Gomes, terceiro bispo e primeiro arcebispo cearense (1912-1941). Este resolveu fundar
o periódico exatamente com a nalidade de preservar e disseminar os interesses da
Igreja na região e de aproximar a população dessa religião e dos seus princípios.
Conforme Pinheiro (2013), com a Proclamação da República e a Constituição
de 1891, que separou ocialmente a Igreja do Estado, o poder da primeira diminuiu.
A partir desse momento, ela passou a sentir a necessidade de reaproximar seus éis
e de manter sua inuência na sociedade brasileira. Foi com essas intenções que, no
início do século XX, ocorreu, com certa frequência, a fundação de jornais católicos no
Brasil, justamente como forma de divulgar seus princípios.
Como vimos, a Igreja Católica se utilizou da chamada “boa imprensa”
para disseminar e defender sua doutrina. Porém, esse objetivo foi realizado também
devido à ajuda de intelectuais católicos leigos, ou seja, pessoas que não pertenciam
ao clero. “Coube a intelectuais leigos da classe média urbana brasileira a tarefa de
divulgação da doutrina religiosa, porque faltavam, nos quadros do clero, sacerdotes
com preparação suciente para essa incumbência” (FURTADO, 1990, p. 9).
Com a mesma intenção foi que, na quinta-feira dia 29 de junho de 1922,
fora lançado em Fortaleza O Nordeste, que circularia até o ano de 1967
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. Seus
redatores eram Andrade Furtado e José Martins Rodrigues e era administrado por
Ildefonso de Araújo. Sua publicação era diária contendo quatro páginas, desde o
ano de sua fundação até o ano de 1926. Já no ano de 1927, o periódico dobrou o
número de páginas publicadas, ou seja, passou de quatro para oito e, posteriormente,
passou a ter duas edições, a matutina com oito páginas e a vespertina com quatro.
Sua assinatura anual custava 30$000 e a semestral custava 16$000. Porém, em
setembro do mesmo ano houve a alteração de preço isto é, as assinaturas vespertinas
e matutinas passaram a ter valores diferenciados. A do matutino custava 40$000 por
ano, 25$000 por semestre e 15$000 por trimestre. A do vespertino custava 25$000
anualmente, 15$000 semestralmente e 10$000 trimestralmente. Eram vendidos ainda
os números avulsos, que valiam $200 o do dia e $300 o atrasado.
Em todas as edições podemos encontrar uma variedade de anúncios
de produtos e serviços. Eram bastante comuns as publicidades de automóveis,
de pneus, de bancos, de loterias, de advogados, de médicos, de farmácias,
2 Neste ano o jornal foi à falência, devido a uma crise nanceira. Porém segundo Ricarte (2009), “não
é sábio estabelecer a crise nanceira como uma explicação simplista, uma fórmula de causa e efeito
para o fechamento do jornal, existe toda uma composição para que essa crise nanceira tenha tido o
êxito do m do jornal, um contexto externo entre novas visões do Vaticano II, a situação da igreja em
Fortaleza e as ações do regime militar e um contexto interno onde as mudanças de postura inuen-
ciaram um novo olhar sobre o jornal O Nordeste”.