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FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº2, p. 90-112, jul.-dez., 2014.
A visão do bispo visigodo Isidoro de Sevilha em sua obra Sentenças sobre o modelo
ideal de Monarca
Es justo que el príncipe obedezca a sus leyes. En efecto, entonces
estime que todos han de cumplir su justicia cuando él por su parte
les tiene respeto. [...] Las potestades seculares están sometidas a la
disciplina religiosa, y, aunque gocen de la soberania real, se hallan
obligados por el vínculo de la fé, a n de proclamar en sus leyes la fe
en Cristo y conservar con las buenas costumbres la profesión de la Fe
(ISIDORO DE SEVILHA.Sent., V. 2, livro 3, p. 499-500, c.51, 1 e 3).
Ademais, chama-nos a atenção o fato de que a grande responsabilidade
dada aos reis por Deus será cobrada a altura de seu encargo (ISIDORO DE
SEVILHA. Sent., V. 2, livro 3, p. 498, c.50, 5). Isidoro, também, faz ressalvas sobre as
consequências de um mau governo. Dentro de suas concepções, os governantes não
carão isentos de prestarem contas de suas condutas no dia do Juízo Final:
El que en el mundo gobierna bien temporalmente, reina sin n en la
eternidad, y de la gloria de este siglo se traslada a la gloria. Mas los
que ejercen mal su realeza trás el vestido refulgente y la diadema de
piedras preciosas, caen desnudos y miserables en los tormentos del
inferno (ISIDORO DE SEVILHA. Sent., V. 2, livro 3, p. 494, c.48, 6).
O sevilhano, igualmente, fez observações à tirania, considerada
por ele o oposto das virtudes. Para o bispo, tirano era aquele que exercia a
autoridade de forma despótica. Era a forma de subir ao trono por meio de uma
sublevação. Como foram os casos dos reis Atanagildo (555-567) e Witerico
(603-610): “[...] Atanagildo ocupo el reino, que había invadido, durante catorce
años” (SEVILHA, 1975, p. 251). Já, Witerico:
[...] asesinado Liva, Witerico reivindico para si durante siete años el
reino, que había invadido en vida de aquél. Fue hombre valiente en
el arte de las armas, pero desconoció la victoria. [...] Hizo en vida
muchas acciones ilícitas, y en la muerte, porque había matado con la
espada, murió con la espada (SEVILHA, 1975, p. 269-271).
Porém, devemos salientar que, apesar de Isidoro defender essa
ideia, isso não signicava que os reis que chegaram ao trono por meio de um
golpe não tenham alcançado e legitimado seu poder de fato, isto é, a forma
como um rei chegava ao trono, não era motivo para destituí-lo. Lembrando que
o critério mais importante a ser considerado no processo de validação do seu
poder era o sucesso ou o insucesso em suas rebeliões.
Entendemos a perspectiva isidoriana de realeza como um projeto
ideológico. No qual, apresenta elementos que nos permitem identicar, em
consonância com as ideias de G. Duby (1979, p. 133-134.), características
estabilizadoras. Apresentam, portanto, um espírito conservador. Pois, Isidoro,
em seus escritos, não se afastou dos conceitos de governante formulado, por
exemplo, por Santo Agostinho e Gregório Magno. Outro ponto, nessa mesma