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FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº2, p. 73-80, jul.-dez., 2014.
Tudo está estremecido: por que a losoa da história oresce em tempos de crise?
Não há, de fato, falta de contra-exemplos. Henry Thomas Buckle,
cujo nome na Inglaterra vitoriana tardia era quase sinônimo de losoa da
história, estava mais conante ao traçar as leis da evolução histórica. De
maneira similar, quando Albert Maria Weiss, um hoje, esquecido lósofo suíço,
invejava “as poucas mentes rarefeitas que receberam a losoa da história
como matéria de seu pensamento, o mais belo tema que uma caneta humana
pode trabalhar” (SPIESS, 1937, p.5), ele demonstrava que havia pensadores,
abençoados com maior tranquilidade que Vico, Droysen e Troeltsch, para os
quais a losoa da história não era uma busca atormentada pela redenição
das relações problemáticas entre passado e presente, mas a conrmação da
ilusão reconfortante de que a história estava do seu lado.
Ainda assim, na maior parte dos casos, a losoa da história atraiu
atenção acadêmica porque havia uma necessidade coletiva de repensar as
relações passado-presente herdadas (isto é, modos herdados de estudar,
interpretar, representar ou se relacionar de outra maneira com o passado).
Quando em meados do século XX, lósofos da história dedicaram livro
após livro ao “sentido da história”, eles o zeram porque as visões históricas
grandiosas de Buckle e Weiss haviam sido despedaçadas, deixando
sociedades a se perguntarem em que direção, se é que havia alguma, a história
estava caminhando. E, em nossos dias, um dos assuntos mais debatidos
acaloradamente na losoa da história é a percebida falta de sentido no que
parece o momento negativo denidor da identidade europeia – o Holocausto.
Também não é coincidência que Hayden White, cujo trabalho gira
em torno do desejo de libertar os seres humanos de tradições opressivas
5
,
seja, hoje, mais amplamente lido na Europa oriental, na América Latina e na
China. Um periódico de ponta no campo, History and Theory, recentemente
declarou que essas regiões demonstram um interesse muito maior na losoa
da história que a América do Norte e a Europa ocidental (de maneira que o
periódico se vê cooperando com a Academia de Ciências da China ao invés da
Associação Histórica Americana) (KLEINBERG; FAY, 2012).
Em resumo, parece que a losoa da história oresce em tempos de
crise, ou, mais precisamente, em contextos espaço-temporais de incerteza a
respeito da plausibilidade das relações herdadas entre passado e presente (por
exemplo, os modos herdados de dar sentido ao passado). Se frequentemente não
há demanda clara pela losoa da história enquanto as relações convencionais
entre passado e presente são sucientes, o gênero atrai intenso interesse, assim
que a história muda do belo para o sublime (isto é, de uma resposta para uma
pergunta, ou do previsível ao aventuroso ou ameaçador).
5 Conforme argumento em PAUL, Herman. Hayden White: the Historical Imagination. Cam-
bridge: Polity Press, 2011.