4
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº2, p. 03-05, jul.-dez., 2014.
Hélio Rebello Cardoso Júnior
Rodrigo Bianchini Cracco
Tiago Viotto da Silva
Hartog e Antoine Prost referem-se à losoa ricoeuriana para debater questões
ligadas às conexões e divergências entre memória e história, ao papel da narração
em história, e para defender o discurso histórico enquanto produção que almeja
a verdade, em oposição aos referentes ccionais. Contudo, essa apropriação
se dá ainda de forma parcial, cheia de reticências. Já outros historiadores como
François Dosse, Patrick Garcia e Christian Delacroix concedem um espaço bem
maior para a losoa ricoeuriana: o pluralismo interpretativo, o círculo mimético
e a hermenêutica histórica tornam-se referenciais em nível fundamental para a
produção do conhecimento histórico com estes autores. As apropriações, críticas
e dissociações entre a losoa de Ricoeur e os historiadores são múltiplas e
desiguais.
Genealogia e hermenêutica, portanto, tornam-se duas efêmeras
rubricas. Elas cumprem o esforço de construir uma direção, ainda que provisória,
a um conjunto de relações diversicadas entre a losoa e a história. Relações
estas que não se am somente nas guras de Foucault e Ricouer.
Poderíamos, diacronicamente, nos remeter também aos diálogos e
críticas de Friedrich Nietzsche a Friedrich Schleiermacher, aos debates suscitados
por Wilhelm Dilthey, à crítica documental da escola metódica, à sociologia de
Max Weber, às leituras desiguais da obra de Martin Heidegger por Hans-Georg
Gadamer e pelos próprios Michel Foucault e Paul Ricoeur, a losoa de Gilles
Deleuze; enm, as ressonâncias entre genealogia, hermenêutica, História e
Filosoa são inúmeras e fundamentais para a historiograa contemporânea.
Os quatro artigos reunidos neste dossiê, assim, demonstram o quão
múltiplas são as temáticas e as abordagens possíveis.
De início, temos a contribuição de Fabrício Pinto Monteiro que, a
partir das memórias de alguns autores/militantes do chamado anarquismo
pós-estruturalista, procura pensar as interfaces entre propostas políticas e
formas de escrita da história. Para isso, perpassa pelas narrativas de diversos
autores - cuja orientação política se alinha a essa renovação da política ácrata
emergente na segunda metade do século XX -, e destaca a importância que
os pensamentos de Max Stirner, Friedrich Nietzsche e Michel Foucault tiveram
na constituição dos trabalhos desses intelectuais.
As relações entre a intelectualidade e a sociedade são o principal
eixo da reexão desenvolvida por Diogo Quirim. O autor propõe discutir o papel
do intelectual a partir de uma perspectiva que não o aparte de sua imersão na
sociedade e no tempo. O texto perfaz um duplo movimento: em primeiro lugar, o
autor se debruça sobre o mito da caverna, de Platão, e sugere, como alternativa
a esta imagem, a noção de kairós - oportunidade, ocasião ou circunstância
particular -, de Isócrates, que propõe uma losoa que não precisaria afastar-