CARVALHO, Thaís de Freitas
*
https://orcid.org/0000-0002-7381-9223
RESUMO: Este artigo lida com a repercussão
de bitos presentes na sociabilidade noturna
popular ligada ao consumo de bebidas
alcoólicas. Partindo da pesquisa em dois
jornais impressos da cidade de Pelotas na
década de 1930, A Alvorada e A Opinião
Pública, esse enfoque busca observar, no
contexto de noites que experimentavam o
crescente acesso das massas trabalhadoras, de
que forma o lazer dos bares e botequins era
percebido e veiculado nesses periódicos.
Enquanto parte intrínseca à euforia e
apreensão que compõem o imaginário
ambivalente da imprensa ao lidar com a
embriaguez, o humor aparece como recurso
narrativo singular na veiculação dessa
sociabilidade. Os esforços aqui contidos
caminham no sentido de compreender os
entrelaçamentos que compõem esse objeto,
apontando o que ele carrega de singular e de
universal através do espaço e do tempo.
PALAVRAS-CHAVE: Imprensa; Embriaguez;
Ambivalência; Humor; Sociabilidade noturna;
Pelotas.
ABSTRACT: This paper deals with the
repercussion of some habits present in
popular nighttime sociability linked to
consumption of alcoholic beverages. Based on
research in two printed newspapers of Pelotas
in the 1930s, A Alvorada and A Opinião
Pública, this approach seeks to observe, in the
context of a nightlife that experienced the
growing access of the working masses, how
the leisure of bars and pubs was perceived and
communicated in these periodicals. While an
intrinsic part of the euphoria and
apprehension that composed the ambivalent
imaginary of the press when dealing with
drunkenness, humour appears as a unique
narrative resource in the transmission of this
sociability. The efforts contained here aim at
understanding the entanglements that shape
this object, pointing out what it carries of
singular and universal through space and time.
KEYWORDS: Press; Drunkenness;
Ambivalence; Humor; Nighttime sociability;
Pelotas.
Recebido em: 22/08/2020
Aprovado em: 19/11/2020
* Mestre em História pela UFPel, Pelotas, RS, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da
PUCRS, Porto Alegre, RS. Bolsista CNPq. E-mail: thaisdefreitascarvalho@gmail.com. Este artigo constitui
parte de minha tese de doutorado, em andamento.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
A modernidade, assim como o humor, traz consigo boas doses de ambiguidade.
Pode provocar sentimentos conflitantes, como a atração e a repulsão, ou ainda estimular
o riso e o deleite em uns, e a mágoa, em outros, mas seus atributos de sedução são
incontestáveis
1
; mesmo os que saem ofendidos foram inegavelmente cativados e não
podem mais passar incólumes. A cidade de Pelotas carrega a fama de moderna e afinada
com o bom gosto desde meados do século XIX, quando os descendentes da alta
sociedade voltaram de seus estudos na Europa trazendo as modas e os hábitos dos
salões franceses, o que certamente contribuiu para imprimir os contornos da posterior
belle époque pelotense.
2
Apelidada de “Princesa do Sul” no contexto finissecular, a
cidade exportava elegância com seus casarões suntuosos, clubes e saraus da elite
charqueadora escravagista (AL-ALAM, 2007, p. 35).
Por entre vestígios de salões e perfumes, narrados em profusão, os divertimentos
e estratégias da vasta maioria da população passam a merecer alguns contornos apenas
a partir do período republicano. Mesmo assim, grande parte da sociabilidade das classes
trabalhadoras passa também a se organizar sob moldes segregados, com a formação de
sociedades de vínculo étnico e/ou profissional. As diversões das ruas e o entra-e-sai dos
botequins e armazéns de esquina eram o elo que conectava os momentos de trabalho e
lazer, pois faziam parte da transição do emprego para o descanso; das obrigações, para a
festa e a celebração. Se é verdade que os causos e histórias vividas por entre bares e
botequins permanecem inacessíveis aos historiadores, é também certo que podemos
lançar mão de todas as nossas habilidades de rastreio míope para “garimpar” os
respingos dessa sociabilidade ainda debilmente iluminada pela historiografia.
A cada de 1930 foi um período de condensação de diversas transformações em
curso em Pelotas desde as primeiras décadas do século XX. Apontado como o ocaso
1
Neste artigo, compreendem-se estas seduções da modernidade não enquanto conceito, mas como o
conjunto de estímulos aos sentidos que fizeram parte da urbanização das cidades brasileiras na virada do
século XIX para o XX. Ao longo das primeiras décadas do século passado, foram significativos os
elementos de incentivo ao desejo (e ao consumo) que passaram a fazer parte do cotidiano das massas
urbanas, expressos no impacto da eletrificação, vitrines, cinema, etc.
2
É significativo o fato de estudiosos da historiografia pelotense apontarem uma belle époque com
contornos locais bastante evidenciados. Por um lado, o fin-de-siécle seria o apogeu de Pelotas tanto
quanto a belle époque significou o período de progresso social e científico em âmbito global; por outro
lado, a decadência do período de ouro da economia pelotense obedeceria a uma gica mais estendida do
que o marco da Primeira Guerra Mundial (1914). Segundo a pesquisadora Fabiane Villela Marroni (2008), os
limites da belle époque pelotense poderiam ser prolongados até o ano de 1927. De qualquer forma, os
efeitos da crise dos anos 1920 culminados na “quebra” de 1929 - e o turbulento início da década de 1930
(com o golpe de outubro de 1930, responsável por alçar o então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio
Vargas, à presidência), parecem sinalizar importantes transformações também no contexto local da região.
Entre a sobrevivência da economia tradicional e a transição para a dinamização diversificada, o autor
Mario Osorio Magalhães (1994, p. 88) situa “a falência do Banco Pelotense, em 1931”, como um “divisor de
águas”, no que corresponde à sinalização do declínio definitivo da era que impulsionou o desenvolvimento
da cidade.
definitivo de um modo de vida pautado pela economia charqueadora, o período dos anos
1930, com suas rupturas políticas e econômicas, espalhava investimentos por diversas
áreas, intensificando o processo que levava de uma dependência quase que exclusiva de
um único produto, para um contexto de urbanização acelerada, proliferação de fábricas e
uma cultura de consumo que estendia seus braços para as classes trabalhadoras.
Pelotas também era uma das quatro cidades do Rio Grande do Sul com mais de
100 mil habitantes no final da década de 1930 (SOARES, 2007). Ademais, o pós-abolição
havia deixado grande parte da população sujeita à discriminação racial e sem os
subsídios oferecidos aos imigrantes europeus, por exemplo, fazendo com que um grande
contingente da população das cidades oscilasse entre atividades informais. Apesar de
não mais possuir a importância cabal para o desenvolvimento econômico do estado no
período, Pelotas ainda se constituía como um polo agregador de negócios, oportunidades
e educação para as cidades da metade sul. Além disso, compunha, juntamente com o
complexo portuário de Rio Grande, escoadouro da produção agrícola da região e porta
de entrada de informações, modas e produtos das principais capitais brasileiras e
europeias.
A vivência mundana e citadina dos anos 1930 deveu-se, em larga medida, às
transformações estruturais e gradativas em curso não na cidade, mas no estado, no
país e no mundo.
3
Os impactos da crise de 1929 evidenciaram as carências e
vulnerabilidades da economia brasileira, e impuseram transformações e investimentos
diversificados. As consequências desse processo foram sentidas nas formas de morar, se
locomover e conviver com os demais habitantes. A sociabilidade noturna na cidade, com
os impactos da expansão da eletrificação, proliferação de salas de cinema, cafés,
confeitarias com jazz-bands e linhas de bondes elétricos até altas horas da noite,
também constituía um desses valorizados emblemas da cultura urbana pelotense
(BORGES, 2008; LONER; GILL; MAGALHÃES, 2010).
A vida noturna tornava-se um dos maiores signos de cosmopolitismo das cidades,
junto ao Jockey Club e o teatro, com a diferença que o hábito dos cafés era mais
3
Segundo a pesquisadora Carmen Da Matta (2003), o mundanismo difundido no Rio de Janeiro da belle
époque contrapunha-se à vida privada, tendo como foco o convívio social atento aos hábitos dos grandes
centros culturais do mundo, especialmente às modas parisienses ligadas aos cafés e salões sofisticados.
No entanto, os cronistas mundanos, aspirantes ao cosmopolitismo das grandes cidades, diferenciavam-se
dos flâneurs boêmios “pobres-diabos do povo”: a boemia aburguesava-se e tornava-se dandy, com seus
observadores cultos, requintados e bem-vestidos. “Entenda-se por “mundanismo” um panorama repleto de
acontecimentos sociais, fofocas, intrigas, disse-me-disse, de modas. Consolida-se nessa época o
antagonismo entre a “cidade”, formada pelos bairros mais aristocráticos, e os “subúrbios”, com costumes e
hábitos mais simples” (DA MATTA, 2003, p. 269). Mesmo correspondendo à sua própria temporalidade
nesses processos, entendemos que o mundanismo, veiculado e festejado pelos cronistas da cidade de
Pelotas, não estava muito distante da explicação da autora.
acessível. As noites pacatas e silenciosas eram sinônimo de provincianismo,
principalmente para aqueles jovens que voltavam dos grandes centros estudantis
acostumados ao ritmo vertiginoso das noites modernas. “Almejava-se também o gênero
de vida mundano que os romances e os jornais difundiam, e um certo tipo de anonimato
que caracterizava a existência da grande cidade, graças ao qual a vida parecia mais livre
e a possibilidade da aventura mais fácil.” (ROMERO, 2004, p. 294).
As sociedades profissionais, associações culturais e grupos reunidos em torno do
lazer e do entretenimento também são elementos-chave para a compreensão de como as
sociabilidades refletiam essa inserção das classes subalternas na cultura urbana e nos
hábitos de consumo, assim como os clubes tradicionais e suas atividades que revelam
outro tanto sobre as elites. No entanto, paralelo ao desenvolvimento do associativismo -
em acentuada profusão desde os anos 1920, e reflexo de uma coletividade social e
etnicamente segregada -, a comunidade de livre acesso dos bares, kiosques e cafés se
fortalecia como reduto de uma experiência democrática, ainda que ilusória ou
temporária, de convívio entre segmentos sociais distintos.
A utopia urbana da civilização moderna estaria expressa nessa sociabilidade
cotidiana, efêmera e lúdica do “beber junto” (GAYOL, 1993; 2000). Determinados
circuitos no espaço público da cidade facilitavam esses encontros entre cidadãos
oriundos de diversos endereços, profissões, ampla faixa etária e nacionalidades. Apesar
da vasta maioria dos mencionados nos jornais ser composta de nomes masculinos,
também apareciam inúmeras referências a mulheres nos bares, embora quase sempre
associadas, explícita ou implicitamente, com a prostituição. As ruas do centro, adjacentes
à praça central e às proximidades do mercado público, aglutinavam uma profusão de
bares, cafés e quiosques, mas a localização privilegiada não daria conta de explicar
isoladamente esses cruzamentos de diferentes indivíduos caso não houvesse um hábito
amplamente difundido no cotidiano da população.
Essa circularidade cultural é basicamente condição sine qua non da sociabilidade
boêmia. O momento do dia que desafiava a regulação de corpos e comportamentos,
constituindo-se enquanto o rtice lúdico da vida moderna, combinava tanto elementos
do mundanismo burguês quanto as seduções de uma vida desregrada e transgressora
(SEIGEL, 1992). Nesse sentido, não é difícil compreender a proximidade entre os temas
da embriaguez e do crime, ora como entrelaçamento característico das principais
atuações policiais na cidade (GOUVÊIA, 2015), ora como elementos substanciais das
publicações “sensacionais” da imprensa.
São evidentes as dificuldades de se apreender, na investigação histórica de
vestígios e fontes disponíveis, o significado desses momentos para os envolvidos, ou
mesmo os rituais pertencentes a esses encontros. Nas fontes judiciais, encontramos a
riqueza das descrições; ali, descortinam-se espaços, sujeitos, caminhos e tropeços dessa
sociabilidade (CARVALHO, 2017). Porém, tais fontes, permeadas pelo caráter excepcional
do encontro com o poder da Justiça, conferem ligações frágeis com estatuto cotidiano
desses hábitos. Cientes disso, a imprensa nos parece fornecer uma percepção melhor
sustentada naqueles costumes arraigados, ocorrências corriqueiras que já não mereciam
processos criminais, mas que ainda permaneciam sob o olhar atento da sociedade e/ou
da vigilância da polícia. Para usar a expressão de Guimarães (2014, p. 122), nestas (nem
sempre inofensivas) notas cotidianas estão contidos vestígios preciosos da
“materialidade dos imaginários”.
Com tais considerações, verificamos que alguns periódicos pelotenses do período
se destacam ao propor uma comunicação mais direta com os grupos de trabalhadores do
que com a elite. Nos jornais de tiragem periódica do início do século XX, são perceptíveis
os vínculos entre o editorial e um mundo de referência, como diria Eco (1993). Ou seja,
na busca da imprensa por uma mediação representativa dos interesses comuns, as
publicações acabavam por afinar o olhar com as visões de mundo de um grupo amplo e
médio, ligado em maior ou menor medida com a manutenção e reprodução do status quo.
O mundo de referência dos editores, colunistas e noticiaristas do período se situava em
algum ponto entre o mundo dos profissionais liberais, comerciantes e trabalhadores,
ainda que buscassem a maior comunidade possível nos limites e intersecções dessas
especificidades. Todavia, produzir consenso é tarefa intimamente ligada a estar atento às
sobreposições e interpenetrações entre mundos de referência distintos; em vista disso a
ideia foi selecionar periódicos cuja abordagem se estendesse aos interesses dos
segmentos populares.
Os periódicos do período de 1930, disponíveis para pesquisa no acervo da
Bibliotheca Pública Pelotense (BPP), transitam entre aqueles vinculados a partidos
políticos (Diário Liberal, Diário Popular, O Libertador) e aqueles cuja sobrevivência,
enquanto negócio, dependia dos anunciantes do comércio e das assinaturas de
particulares (A Opinião Pública, A Alvorada), além de possuir alguns títulos cuja
circulação no período foi mais efêmera (Folha do Povo, Correio Mercantil). Com exceção
do Diário Popular e A Opinião Pública, todos os demais possuem exemplares em
periodização intermitente na hemeroteca da BPP. Alguns livros estão interditados devido
ao mau estado de conservação, dificultando, assim, o acesso a semestres ou anos
inteiros de edições dos periódicos.
Visando chegar o mais próximo possível do nosso enfoque, a escolha nesta
pesquisa foi observar essas referências em periódicos que oferecessem uma boa
cobertura das opções culturais de divertimentos populares, ou seja, próximos aos
hábitos das massas trabalhadoras; que possibilitassem análises comparativas acerca das
diferentes diversões noturnas anunciadas ao público, e que permitissem a observação do
que era veiculado nas colunas policiais. Por isso, chegamos aos jornais A Alvorada e A
Opinião Pública.
O primeiro, autointitulado “periódico litterario, noticioso, crítico”, era uma
iniciativa dos irmãos Durval e Juvenal M. Penny, e foi um dos periódicos negros
4
mais
longevos do país, cobrindo semanalmente o período de 1907 a 1965. Com poucas
intermitências, fazia parte de uma rede de periódicos negros fortemente conectada
durante as primeiras décadas do século XX, com tiragens normais variando entre 200 a
1000 exemplares, podendo chegar à tiragem semanal de 3 mil exemplares, dependendo
do ano (SANTOS, 2003; 2011). Os irmãos Penny aglutinaram um grupo bastante coeso de
colaboradores, reunindo nomes da intelectualidade negra pelotense, como Armando
Vargas, Humberto de Freitas, Rodolfo Xavier e Antonio Baobad, o qual é apontado como
o vórtice em torno do qual teriam partido as primeiras idealizações do periódico
(SANTOS, 2002).
5
Levando em consideração que a comunidade negra constituía parte
significativa dos habitantes da cidade, bem como de sua parcela de trabalhadores
(DORNELLES, 1998), o Alvorada
6
se constitui como uma fonte inestimável para esta
pesquisa.
4
Segundo a definição de Santos (2003; 2011), uma imprensa negra é aquela produzida por negros e voltada
para atender às suas questões. Os periódicos que compõem o que entendo como imprensa negra, até as
primeiras décadas do século XX, davam destaque para as questões educativas do meio negro e tinham viés
moralizador nos seus artigos. [...] tornaram-se uma imprensa alternativa aos jornais de grande circulação,
uma vez que os negros não se viam representados nas suas páginas. Eles faziam uso das suas próprias
folhas para divulgar as festas, casamentos, aniversários, batizados, nascimentos, mortes, situações de
discriminação e preconceito, assuntos políticos e sociais de interesse do público a que eram dirigidos. Os
jornais eram produzidos por uma minoria de negros alfabetizados, geralmente melhor posicionados na
hierarquia social, mas que representavam os desejos e as aspirações daquela parcela da população que
diziam representar.” (SANTOS, 2011, p. 88).
5
Antonio Baobad e Rodolfo Xavier eram irmãos e operários chapeleiros que se tornaram lideranças
responsáveis pela fundação e direção de inúmeras associações culturais e sociedades trabalhistas em
Pelotas, desde fins do século XIX; dentre elas, a União Operária Internacional (1895). Os irmãos Durval e
Juvenal Penny, fundadores do Alvorada, começaram como operários de tipografias e consolidaram sua
trajetória como membros notórios da comunidade negra local. Durval tinha farmácias e consultório médico
no município, prestava atendimentos de saúde a custos baixos, facilitando o pagamento em espécie a
possibilidade de Durval ser o real Dr. Pescadinha, assinante da coluna aqui investigada, é bastante alta.
Juvenal, apontado como o dono do jornal de 1907 a 1946, era também proprietário de uma fábrica de fogos
de artifício. Ambos tinham fortes ligações com a União Operária e a Frente Negra Pelotense, além de
colaborarem na direção de clubes e associações negras. Armando Vargas e Humberto de Freitas, também
membros e consultores de sociedades culturais, estão entre os colaboradores responsáveis pela gerência
do periódico a partir da década de 1930, bem como participantes e propagadores em destaque da Frente
Negra Pelotense (SANTOS, 2002; OLIVEIRA, 2017).
6
Para fins de fluidez no texto, optou-se por algumas abreviaturas dos nomes dos periódicos mencionados.
Portanto, o jornal Diário Popular é mencionado apenas por Diário’, da mesma forma que A Opinião
Pública aparece enquanto ‘Opinião’ e o A Alvorada é muitas vezes contraído para Alvorada’.
o Opinião Pública foi um periódico fundado a partir de dissidências políticas
entre parte da equipe formadora do Diário Popular - jornal criado para ser
independente, mas em seguida vendido ao Partido Republicano Riograndense (PRR).
Fundado em 1896 pela equipe saída do Diário, redatores e noticiaristas como Arthur
Hameister, João Alves de Moura e Theodozio das Neves compuseram a sociedade
fundadora do Opinião, até que, uma cada depois, após o falecimento de João Moura
para quem os demais sócios haviam vendido suas cotas , a família do proprietário
passou a intercalar a administração do jornal com vários arrendatários ao longo das
primeiras décadas do século XX. Esse aspecto foi apontado por Beatriz Loner (1998)
como o diferencial que conferiu trajetória singular não ao Opinião em si, como aos
debates difundidos pela imprensa pelotense da República Velha, que tinha no Opinião o
contraponto editorial de grupos não necessariamente partidários, os quais dispunham de
capital e um projeto jornalístico a veicular.
Na década de 1930, o Opinião era comandado por Mario Santos, acadêmico de
Direito, que imprimia um caráter crítico e anti-imperialista ao periódico, mas em 1931 a
família dos proprietários assume a administração, permanecendo à frente do jornal até
meados de 1935. A partir desse período, o jornal assumiu um caráter dinâmico, com
editorial amplo e vários associados. Sob a direção do advogado e político Bruno de
Mendonça Lima e sua equipe, o Opinião adotava uma perspectiva mais progressista.
Segundo Loner (1998, p. 14), apesar de envolvido na criação de um partido socialista, a
qual teria sido interrompida pela instauração do Estado Novo varguista em 1937, Bruno
consegue orientar a adaptação do jornal para que este permanecesse decididamente a
favor dos interesses populares”.
O Alvorada, constituindo um semanário, possui diferenças consideráveis nestas
características físicas. Sob a direção de Armando Vargas nas décadas de 1930 e 1940, o
hebdomadário saía aos domingos e possuía dimensões mais modestas em comparação
aos diários do período, como o Opinião. Com folhas menores, recorria com parcimônia
às fotografias; porém frequentemente investia em fotografias de seus articulistas. Jornal
formado por e produzido para negros, o Alvorada investia pesadamente em uma
campanha p-educação e, nesse sentido, valorizava os exemplos que seus
colaboradores poderiam representar perante a comunidade negra pelotense. Ao longo
das décadas de 1930 e 1940, os anúncios presentes no periódico apresentavam
incremento de ilustrações, evidenciando um processo de gradativas alterações em seu
formato.
No caso do Alvorada, acompanhamos as edições disponíveis na BPP, as quais
compreendem o período de 1931 a 1935. Adotamos o critério de busca da vida noturna
popular, observando anúncios e colunas que se referissem à diversão noturna, bem
como às representações presentes no periódico acerca de hábitos desejáveis ou
indesejáveis durante o tempo livre. O Opinião, por possuir editorial mais abrangente,
permitiu observar não só os tipos de diversões noturnas veiculadas - convites para
bailes, anúncios de eventos de clubs e associações (mediante ingresso), cafés e
confeitarias -, como também as seções dedicadas àquelas ocorrências policiais que não
chegavam a caracterizar crime e que permaneciam no limbo das atividades sem
documentação preservada.
No entanto, imagens sobre esses eventos cotidianos ainda são raras. Tanto os
divertimentos quanto os desfechos trágicos dessas noites permaneciam dependentes das
narrativas textuais dos jornalistas. O recurso às fotografias, em ambos os periódicos,
parece obedecer a critérios pragmáticos, como a identificação de colunistas,
colaboradores, figuras de destaque na coluna social casos frequentes no Alvorada ,
ou ainda, retratos de políticos proeminentes e indivíduos envolvidos em crimes, tanto
vítimas quanto acusados registros mais presentes no Opinião. Se considerarmos que
Mauad (2006) situa o surgimento da fotorreportagem e da figura do editor de fotografias
na imprensa brasileira a partir dos anos 1930, não surpreende que essa técnica ainda não
esteja muito difundida em Pelotas no período.
7
Contudo, ilustrações eram bastante
recorrentes entre os anunciantes desses jornais.
Durante nossa busca pela diversão popular na imprensa, foi possível perceber
que, no editorial mais abrangente do Opinião, as opções do lazer popular não raro
apareciam permeadas pela narrativa da violência; ou seja: os relatos desses momentos
de festa apareciam somente quando acontecia algum conflito em que o hospital ou a
delegacia constituíam o destino final.
8
O Alvorada, cujo editorial estava mais voltado ao
cotidiano de trabalho, consumo e lazer do operariado, especialmente da comunidade
negra, mantinha nculos sólidos entre seus colaboradores e os clubes e associações
populares, e consequentemente, conferia maior espaço à cobertura dos bailes e eventos
anunciados.
Entretanto, em meio às leituras cuidadosas desses exemplares na BPP, saltavam à
vista elementos em comum entre as notas de ambos os periódicos no que diz respeito à
embriaguez. Ainda perpassados pelo forte apelo da campanha antialcoólica que varreu a
imprensa brasileira durante as primeiras décadas do século XX, as folhas distintas do
7
Entretanto, é prudente salientar que, na década seguinte (1940), o Alvorada apresenta incremento
substancial de imagens, dentre elas fotografias e ilustrações, o que pode constituir um indício do acesso a
novas técnicas, capacitação e/ou equipamentos.
8
Esse aspecto também foi perceptível no editorial do Diário Popular, o qual fez parte do levantamento
prévio que precedeu esta investigação.
Alvorada e do Opinião guardavam notas sutis em meio às letras garrafais do discurso da
temperança. Ao ajustar o foco das lentes, ao longo do atento trabalho de pesquisa
manual, o humor aparentemente contraditório conferia uma ambivalência sui generis ao
discurso dessa imprensa sobre a embriaguez.
O Alvorada, por exemplo, ao mencionar a relação das mulheres com a bebida, não
atribuía a estas exclusivamente o papel da temperança e tampouco associava
obrigatoriamente as mulheres que bebiam à prostituição. Uma explicação possível é a de
que as mulheres bebedoras, referidas nas notas do periódico, eram aquelas cujo hábito
era percebido em locais “permitidos” às mulheres “honestas”, como os bailes das
associações e clubes colaboradores do periódico - ademais, certamente essas mulheres
os frequentavam acompanhadas. No Alvorada: “pesquei o jovem Manéca, andar
querendo conquistar o coração da Miss Copinho. Cuidado seu moço, que namoro com
essa pequena, no fim é sempre aquela água.”
9
(PESCADINHA, 1934a, p. 5).
Mas o quão distantes estavam os editoriais do Alvorada e do Opinião? As
características físicas do Opinião Pública traduzem exemplarmente a aparência de um
jornal diário de uma cidade brasileira de médio porte no período. As folhas variam em
termos de diagramação e disposição nas 4 páginas do periódico. No entanto, a página
que menos varia é a primeira. A capa, geralmente, contém matérias políticas locais ou
vindas de outros Estados e países; a segunda página contém um prolongamento dos
artigos internacionais e/ou de outras localidades, e já apresenta alguns anúncios; a
terceira página contém, na maioria das vezes, anúncios comerciais (atendimentos
médicos e odontológicos, remédios, alfaiatarias, casas de artigos domésticos, empresas
de viagens) e eventos de clubes. A última página, na contracapa, segue com anúncios de
teatros, cinemas, seção desportiva e notas policiais.
Ao longo das páginas de 3 e 4, em meio a anúncios de cinemas, teatros e clubes de
patinação, o Opinião apresentava, no início da década de 1930, a seção “Chronica
Policial”, que contava com excertos curtos e diretos sobre as ocorrências reportadas
pela polícia. Concomitante ao desaparecimento dessa seção preciso lembrar que o
jornal passa por diferentes administrações ao longo da década de 1930), aparece no
jornal uma seção chamada “Factos da Rua”, a qual discorria sobre múltiplas situações de
divertimentos, prisões e conflitos populares. Sem dispor de uma diagramação fixa, essa
seção variava de localização e tamanho nas páginas, e poderia ficar alguns dias sem
9
Ao longo do artigo, procuramos seguir a grafia original das fontes.
aparecer
10
, mantendo, porém, a característica de reportar, muitas vezes de forma bem-
humorada, acontecimentos fortuitos do espaço público. Ao mencionar homens e
mulheres detidos por embriaguez, o Opinião normalmente expunha os nomes completos
de todos os envolvidos.
Chronica Policial
Uma "canoa" policial na casa "Biriba"
FORAM PRESOS DIVERSOS EMBRIAGADOS
A casa "Biriba" é um dos muitos antros de borracheiras contínuas. Ontem a
policia resolveu dar, alli, uma batida, tendo feito uma limpa em ordem. Foram
presos os inveterados adoradores de Baccho: José Abreu, Casemiro Gouvea,
Antonio Alves, João Francisco Moraes, Mario Maciel, João da Cruz Freitas e as
mulheres Maria Candida Teixeira, Maria Souza Alayde Silva, Julieta dos Santos.
(CHRONICA..., 1930b, p. 4).
O Alvorada não dispunha de seções inspiradas nas colunas de variedades ou nas
crônicas policiais. Por outro lado, em conformidade com sua empreitada moralizadora e
educativa, apresentava a recorrência de artigos e crônicas sobre hábitos culturais como
o jogo, as festas e a embriaguez. Possuía uma coluna fixa chamada “Pesquei”, assinada
sob o pseudônimo de “Dr. Pescadinha”. Em tom bem-humorado, expunha hábitos,
conflitos e comportamentos indesejáveis observados entre os membros da comunidade
leitora do jornal. Esses casos eram notados pelo colunista em clubes, bares e ruas da
cidade. Por meio dos apontamentos do “Pescadinha”, podemos vislumbrar não somente a
ambivalência presente nas percepções sobre a embriaguez e os divertimentos populares,
como também o mosaico do lazer noturno popular na cidade, seus consensos e
estigmas.
11
Pesquei
pesquei o cabo Raul Barreto, (vulgo Sector), por encher o co e depois andar
dizendo a seus collegas, é eu sou é bamba.
Estou de accordo, seu Sector, porque se assim continuar dentro de pouco
tempo não existirá mais alcool em Pelotas. (PESCADINHA, 1932a, p. 5).
10
Não por acaso, é perceptível que o adensamento dessas seções se dava imediatamente após o final de
semana, quando eram reportadas a maior parte dos conflitos em bailes, bares e ruas do município.
11
O uso de pseudônimos geralmente escondia percepções moralizantes e bem-humoradas dos
proprietários ou principais colaboradores dos periódicos. Bastante difundido no Brasil, era utilizado
também por escritores consagrados no intuito de não “manchar” suas contribuições “sérias” com as
chacotas e ironias. O pesquisador Alvaro Simões Junior (2005, p. 6) destaca um trecho de Olavo Bilac, em
crônica publicada em 1897, na Gazeta de Notícias (RJ), no qual o escritor explica esse apelo entre os
colaboradores dos jornais. Nessa crônica, o poeta se opunha a um projeto de lei, então apreciado no
Congresso, o qual visava proibir o anonimato na imprensa. Consideramos tal fato esclarecedor e por isso o
reproduzimos aqui: “o uso do pseudônimo não quer dizer que o escritor não queira assumir a
responsabilidade do que escreve: todo o mundo sabe, por exemplo, que Patrocínio é Proudhomme e que
Proudhomme é Patrocínio. Mas, na produção intelectual de um jornalista, como na de um artista,
sempre a parte séria a que o escritor o seu verdadeiro nome, e a parte leve, humorística, que bem pode
correr por conta de um pseudônimo transparente. / Para cada estilo, cada assinatura.”
pesquei o Perneta e o Vavá e mais outros, no dia de São Pedro, quererem que o
balão subisse sem mecha e somente com alcool. (PESCADINHA, 1935, p. 5).
pesquei o "fogo" do Ciri... numa festa da rua G.Teles. Eu vinha passando quando
deparei com aquele incendio... (PESCADINHA, 1934, p. 4).
A variedade de temas e notas curtas que encontramos aproximavam-se dos faits
divers, no sentido de que fala Guimarães (2007), quando explica que tais textos
exploravam muito mais um engajamento de ordem moral por parte dos leitores do que
alguma consciência crítica ou elementos de justiça social. Ao mesmo tempo, essas notas
carregavam aspectos benevolentes do humor do bêbado, aquele que se diverte ao rir da
incapacidade do autocontrole derivada da intoxicação alcoólica de outrem. Apesar da
popularização das “notícias diversas” na imprensa brasileira ser apontada como um
fenômeno verificado desde a virada do século XX, é preciso lembrar que os fluxos dos
editoriais de periódicos brasileiros correspondem a distintos andamentos conforme a
região, resultando em um esforço bastante artificial de tentar implementar categorias
estanques e recortes cronológicos engessados a um país vasto e de dinâmicas tão
díspares.
Nessa linha de pensamento, as múltiplas trajetórias da imprensa das cidades de
médio porte e/ou distantes dos grandes centros do país tendem a apresentar um
desenvolvimento menos compatível com as classificações estabelecidas pela
historiografia da imprensa no Brasil. A temporalidade clássica apontada por
historiadores do peso de Nelson Werneck Sodré obedece a um critério político-
administrativo nem sempre determinante nas regiões distantes da capital federal. Sodré
(2011) assinala o início do período republicano como marco para a transição, de uma
imprensa dividida entre embate político-partidário e iniciativas isoladas do jornalismo
amador, para o surgimento de uma grande imprensa pautada no gerenciamento de cunho
empresarial.
No entanto, essa transição pode ganhar contornos particulares conforme o
desenvolvimento tecnológico e a aceleração do processo de urbanização das cidades. A
pesquisadora Valéria Guimarães (2014) destaca a difusão do telégrafo (1877-1914) como
um marco importante para o contexto brasileiro nas primeiras fases do largo período de
modernização da imprensa, o qual teria tido início em 1850; ressalta, além disso, as
trajetórias variantes entre as regiões do país. Cremos que essas ponderações fazem
muito sentido ao se pensar nas periodizações adotadas, pois não apenas as novas
tecnologias da comunicação, como o telégrafo, disseminam-se de formas distintas ao
longo do território brasileiro, como também as técnicas de impressão e equipamentos.
Muitas vezes, é justamente a adoção de novo maquinário por um jornal maior que faz
com que empreendimentos mais modestos do interior possam ter acesso a técnicas
difundidas nos grandes centros.
A circulação de equipamentos em um mercado de segunda mão é tanto mais
importante quanto maior a compreensão de que a iniciativa periodística no período nem
sempre era acompanhada por uma profissionalização específica; muitos dos fundadores
de periódicos tinham outras ocupações e o jornal nem sempre era a principal delas. Tais
ressalvas tampouco se restringem aos aspectos supracitados. A circulação de jornalistas
e de ideias também assiste a um período de coexistência, nem sempre pacífica, entre o
novo e o velho.
Se nas primeiras décadas do século XX, periódicos como A Alvorada foram
marcados pela presença maciça da linguagem literária e rebuscada, a tendência à
oralidade nos textos e rubricas, bem como aos acontecimentos do cotidiano popular - o
que particularmente interessa a esta análise -, vai aos poucos reivindicando seu lugar,
direcionando a um movimento em franco diálogo com o adensamento das vivências
urbanas. A imprensa, enquanto cultura de massa, tanto vai penetrando no cotidiano dos
setores subalternos da sociedade quanto vai sendo penetrada por esse mundo de
referência mais abrangente. A própria emergência da administração de um jornal, como
uma empresa viável e que lucro, acaba sendo reflexo de um contexto de urbanização
cujas massas assalariadas cresciam e adentravam a lógica acelerada dos estímulos e do
consumo.
À medida que as cidades vão aglutinando diferentes formas de comunicação
voltadas ao entretenimento, como o teatro, o cinema, o rádio e a própria sociabilidade
dos centros e cafés, - onde mesmo aqueles que não haviam lido a notícia no jornal
acabavam se inserindo na discussão -, a circulação de ideias transpõe também barreiras
intelectuais. Dessa forma, o impacto diário dos assuntos em voga abrangia muito mais do
que os letrados, ou assinantes que liam o jornal no conforto de suas casas. O conceito de
cultura midiática, como o entende Mollier (2008), ajuda a operacionalizar uma pesquisa
que envolve imprensa e cotidiano oral, pois considera esse conjunto de manifestações
culturais como agentes na disseminação dos signos que perpassam a modernidade no
ocidente, moldando desejos e aspirações.
Além disso, os bares, restaurantes e cafés também facilitavam essa transmissão
via oralidade, no sentido de que captavam esse signo mundano de civilidade moderna e
passavam a deixar jornais disponíveis nos balcões (ROCHE, 2011, p. 198). Dos cafés de
inspiração francesa até os botequins de esquina e armazéns brasileiros, o hábito de
buscar esses locais para manter-se bem informado constituiu uma marca incontestável
da transição para um mundo moderno. Em vista disso, Moreira (2009, p. 98) nos diz
como era o contexto porto-alegrense da segunda metade do XIX: “foco central da
convivência social no espaço urbano, os bares representaram pontos privilegiados de
informação. Boatos eram transmitidos, jornais injuriosos circulavam e periódicos muitas
vezes tornavam-se acessíveis aos ouvidos populares por sua leitura em voz alta.”
Ao mesmo tempo, a circularidade desse movimento é expressa no crescente
espaço dos faits divers nas folhas cotidianas, ainda que com diferentes rubricas, e com a
elasticidade correspondente às necessidades tipográficas do jornal (GRANJA, 2015;
LOSNAK, 2008). “Notícias diversas”, “Factos da Rua”, “Várias” ou “Variedades” são
alguns dos termos que acabam comportando essa invasão do cotidiano pitoresco nos
temas veiculados nos periódicos (GUIMARÃES, 2007; 2013; 2014). Pautado pelo
acontecimento provável e com linguagem próxima à oralidade, esse tipo de nota ganhava
cada vez mais espaço à medida que reverberava situações cotidianas e assuntos
familiares a todos os leitores.
A proximidade entre a narrativa dessas notícias variadas e as ocorrências policiais
veiculadas no período, já fornecem pistas das premissas que guiavam a construção
dessas seções. Os acontecimentos da rua e dos locais frequentados pelo ‘populacho’
repousavam na mesma esteira do exótico, na qual desfilavam os conflitos populares que
iam parar no colo dos delegados. E a redação de tais textos, se não se enquadra
totalmente na linguagem da oralidade coloquial, é porque recorre a pinceladas formais
justamente no intuito de enfatizar, com os recursos sutis de vocabulário e pontuação, a
discriminação pretensamente benevolente que lhes é intrínseca.
Pesquei
pesquei o atrevimento do joven Rodolpho, (ventania), domingo, no E.T.C. [Está
Tudo Certo] encher o coco e depois querer fazer encrenca com alguns militares
e puchar uma navalha tentando cortar o Dirceu, (delegado), mas a sorte não lhe
protegeu, porque o que aconteceu foi que ainda andou levando uns
"trompassos" na rua, mas ainda isso não é nada, o peior é que elle
provalecendo-se da encrenca tratou de abrir o bigode acompanhado de dois
brigadas para que os outros não lhe enchesse mais o carretão e para livrar-se
de pagar alguns cobres que ficou devendo no Certo, mas dor de... cabeça não dá
uma só vez. (PESCADINHA, 1933, p. 5).
pesquei o formidavel fôgo que tomou o "bamba" Ubirajára, domingo, no Chuva,
a ponto de perder a vergonha. Pois foi tão grande o pifão que, resultou um
passeio na sua excia. "Viúva Alegre", e lá ficou até surgir o 7$800. É a maior das
vergonhas, seu Ubirajára, abandone o alcool, que não lhe desmoralisa como
envergonha a sua distinta familia. (PESCADINHA, 1933b, p. 4).
O Alvorada e seus colaboradores possuíam vínculos sólidos com clubes e
associações negras e operárias na cidade, com muitos de seus articulistas fazendo parte
inclusive das diretorias desses clubes. Divulgavam massivamente os comunicados e
convites dos eventos destas sociedades; contudo, apesar da ambivalência bem-humorada
de “Pescadinha” no que diz respeito à embriaguez e às diversões, o jornal se mantinha
firme em destacar o desserviço de uma vida de pândegas e bailes. A nota abaixo
transcrita, assinada sob o pseudônimo “Negro”, constitui um formato frequente no
periódico:
NEGRO
Tres!
Tres! São os habitos que deveis abandonar: 1 - o do alcool. 2 - o do jogo. 3 - o da
dança em demasia. Abandonando esses habitos e entregando-te a educação e
instrucção, terás dado um passo para o futuro teu e de tua familia. (NEGRO,
1933, p. 2).
Recorrendo ao discurso do trabalho, do progresso e da instrução, a mensagem do
jornal partia da premissa de que a saída de um contexto de opressão e segregação do
povo negro era fazer dos argumentos dos brancos, ao tentarem justificar o preconceito
racial, uma mentira. Para isso, os articulistas procuravam desencorajar hábitos
considerados por eles alienantes, como as festas e beberagens. A emancipação política
da comunidade negra passaria por um reordenamento de sua manifestação cultural.
As críticas aos hábitos abrigados pelo associativismo cultural propagadas pelo
Alvorada visavam alertar para as possibilidades emancipatórias das associações, desde
que os objetivos principais desses vínculos não ficassem somente no âmbito dos
divertimentos viciantes e entorpecentes do jogo, da dança e do álcool. Os articulistas
viam tais hábitos com potencial destrutivo não da solidariedade coletiva capaz de
adquirir força e lutar por melhores condições de vida, como também da expectativa de
vida dos segmentos populares e da população negra. Tal preocupação se fazia presente
nos circuitos de militância em prol da população negra desde o contexto pós-abolição,
conforme demonstrou a pesquisa de Humberto Machado (2006).
12
Abaixo, reproduzimos
uma das muitas notas curtas encaixadas frequentemente na diagramação do Alvorada,
além dos artigos completos que chegavam a ocupar meia página.
DA VIDA... E DO ALCOOL
Amigo porque não deixas este vicio? Porque ao envês de beberes não amparas o
jornal que sustenta a campanha da educação?
Chegou a hora de abandonarmos todos os vícios. O cópo não deve existir na
moderna civilisação.
12
O autor destaca a fala de Joaquim Nabuco, em correspondência datada de 1893, onde escreve que “os
negros estão morrendo e pelo alcoolismo se degradando ainda mais do que quando eram escravos.”
(NABUCO, 1893 apud MACHADO, 2006, p. 146).
a escola nos dará uma vida nova e felis! Avante, para a escola. Deixa a tasca
e o teu vicio, e verás o efeito rapido do progresso, na tua vida! (BARBOSA, 1933,
p. 8).
A embriaguez era considerada, nas primeiras décadas do XX, um grande problema
social e de saúde blica, e o discurso médico ajudava a respaldar a campanha contra o
alcoolismo. Conforme demonstra a pesquisa de Maria Izilda Santos de Matos (2001), tais
campanhas recorriam aos papéis de gênero ao apelar às responsabilidades atribuídas a
homens e mulheres na configuração familiar. É significativo o fato que esse tipo de
campanha tenha angariado tamanha capilaridade nas primeiras décadas do culo XX,
pois muitas vezes os artigos reproduzidos em periódicos pelotenses haviam sido
originalmente publicados em jornais de cidades maiores.
Porém, o consumo de bebidas alcoólicas não era tão popular apenas por ser
potencialmente perigoso. Esse hábito era agregador e responsável por suavizar, ainda
que de modo temporário, os contornos ásperos do cotidiano de grande parte dos
brasileiros. Em um período de transformações urbanas que impunha autorregulações de
toda ordem, a fim de caber nos novos moldes do trabalho e convívio mundanos, o “copo”
significava uma fuga da rigidez normativa desse processo de modernização, o qual
conflitava com muitas tradições rurais ainda vivas, embora algumas em nítida oposição
aos parâmetros da civilidade citadina.
Estes segmentos das classes subalternas, forçados a correr atrás de um processo
que muitas vezes não compreendiam, tinham no álcool não o veículo para um mundo
mais familiar, cujo turbilhão das mudanças a enfrentar permanecia como que suspenso;
às vezes o tinham também como elemento básico de sobrevivência, pois o valor calórico
de bebidas, como a cachaça, constituía uma alternativa acessível para que aqueles
privados de uma dieta nutritiva pudessem seguir operantes (ALGRANTI, 2011). Os efeitos
colaterais e consequências a médio e longo prazos para a saúde física e psíquica ficavam
ofuscados pela necessidade imediata.
Para além dessas considerações, podemos lembrar as três funções sociais do
beber apontadas por Mary Douglas (2003). Em primeiro lugar, beber estrutura o mundo
como ele é, pois o consumo de bebidas confere significado às relações humanas e a cada
parte do dia. Em segundo lugar, beber constrói um mundo ideal, onde a ameaça de um
caos dolorido é substituída por uma ordenação tolerável e desejável. Por último, o álcool
estabelece uma economia alternativa - em certos casos, criando uma vasta gama de
necessidades e relações em torno dos mercados negros.
Na presente pesquisa, é significativo o fato que a construção de um mundo ideal
desempenha um importante papel ao abarcar os anseios coletivos por um alívio
cotidiano, marcado pelo cair da luz e pelas suavizações das linhas que dividem rua e
casa, realidade e utopia. E não é por acaso a semelhança entre uma das funções
contemporâneas da embriaguez e o mundo da realidade dionisíaca - ou do “altar de
Baccho” - de que fala Nietzsche (2005, p. 24): o contraponto de um mundo cotidiano de
culpa e de destino (ordenação de mundo vulgar e ruim) representado pela aniquilação
das barreiras (ordenação de mundo mais elevada).
Para Damatta (1991), a sociedade brasileira, por exemplo, profundamente
relacional, se debate entre diferentes esferas de sentido, em torno de visões
diferenciadas de si mesma, mas que recorre a um extensivo sistema ritualístico capaz de
aproximar e minimizar temporariamente as distâncias entre elas. Essa equação acaba por
produzir espaços liminares e situações reveladoras dessa síntese, como são os bares e
como é o humor. Conforme Saliba (Entrevista, 7 jun. 2011): “tudo indica que, pelo humor,
o brasileiro apropriava-se, por momentos, do espaço público, que lhe era negado pelo
poder republicano nas suas mais variadas e perversas formas de exclusão social.”
Enquanto periódico negro bem informado sobre a situação mundial, o Alvorada
aproveitava a popularidade da coluna para também alertar sobre os perigos que
rondavam o povo negro de todos os países diante da ascensão de movimentos
totalitários como o fascismo e o nazismo. A invasão de Mussolini nos territórios da
Abissínia (atual Etiópia), no que posteriormente ficou conhecida como a Segunda Guerra
Ítalo-Etíope (1935-1936), ocorreu em três de outubro de 1935. Ao final do mesmo mês, a
cobertura desses acontecimentos permitia à coluna “Pesquei” mesclar o riso com a
consciência política, qualidade tão defendida pelo jornal. Isso prova que o humor não
necessariamente implica alienação; o “Pescadinha” escrevia com a fala, mas pensando
com a lucidez dos ativistas: pesquei o "fogo" do J. que até parecia que ia explodir. Se a
Dejanira te assim vai te mandar para a Abissinia” (PESCADINHA, 1935a, p. 5). É
impossível afirmar categoricamente que todo o espectro de leitores e receptores da
coluna compreendeu a analogia do Dr. Pescadinha com o fascismo italiano. Porém, é
preciso destacar que essa analogia não estava isolada, mas sim, fazia parte de uma série
de notícias que acompanhavam de perto a ascensão do autoritarismo na Europa, suas
consequências nos países africanos e para o movimento negro como um todo.
13
Contudo,
13
Via de regra, o Alvorada mantinha uma postura elogiosa da política varguista, a qual, a partir do período
de 1935, dava mostras mais eloquentes de sua simpatia com o autoritarismo. Esse processo culminaria com
o decreto do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, que recebeu o apoio do jornal em notícias
posteriores. Entretanto, avaliar o grau de adesão política do periódico implicaria em observar atentamente
a produção de cada um de seus colaboradores, levando em consideração o provável impacto da censura,
fosse esta externa (governamental), interna (editores do jornal) ou autoinfligida. Tal empreitada, apesar de
relevante, foge ao escopo deste artigo. Para saber mais sobre censura à imprensa no Estado Novo e uma
seria um erro pressupor que todos os leitores do jornal lessem com igual atenção desde
os artigos de capa até a coluna do Dr. Pescadinha.
Como já vimos, as diversões das classes médias e trabalhadoras no contexto
pelotense também sofreram o impacto das inovações advindas com os estilos e as
tecnologias do mundo moderno. A proliferação das salas de cinema ao longo das
primeiras décadas do século XX atestam a velocidade da disseminação da informação e
dos novos hábitos de diversões noturnas, impulsionados pela difusão da eletrificação,
transportes e condições de vida, como saneamento e moradia. No entanto, a propagação
dessas novidades também teve peso considerável e, acompanhando essa aceleração de
atividades e circularidade de hábitos culturais, os assuntos do cotidiano ganhavam cada
vez mais espaço na imprensa da cidade.
O crescente espaço da seção desportiva, por exemplo, é também um reflexo da
importância dessas interações na cidade. A sociabilidade decorrente dos jogos de futebol
amador adensava as relações cotidianas, mesmo no âmbito dos bairros afastados e zonas
distritais da época.
14
Em grande parte tomadas pelos campeonatos de futebol, as colunas
de esporte, contendo coberturas dos jogos, chegam a receber páginas duplas em
periódicos com poucas folhas. Entretanto, temos razões para crer que a movimentação
derivada do futebol nem sempre era abstêmia ou sequer pacífica
15
:
pesquei na partida Juvenil e America, a "trinca do alcool", quando sairam do jogo
quebrando "cana", o Cangussú era o que vinha mais "ferido".
Mocinhos, vocês julgam que vão terminar com todo o alcool que tem em praça?
(PESCADINHA, 1932, p. 5).
Temas recorrentes, como o confronto entre modos de vida tradicionais e a
aceleração da vida moderna, eram notados de maneira singular nas representações das
ocorrências noturnas do espaço público. A proximidade entre as notas de variedades e
as narrativas pertencentes às crônicas policiais é evidente, e não apenas quanto à
abordagem minuciosa sobre o jornal A Alvorada, ver, respectivamente, Tania Regina De Luca (2011, p. 173)
e José Antonio Santos (2003).
14
É significativo que os autores apontem a década de 1930 como o início da profissionalização dos
jogadores negros, o que também evidencia os efeitos políticos e o impacto da organização e luta dessas
associações e movimentos culturais, em uma conjuntura de transformação de mentalidade que vai
ganhando força à medida que se retroalimenta das contradições cada vez mais visíveis da modernidade
(RIGO, 2004; MACKEDANZ, 2016).
15
De acordo com Fausto (1984, p. 104), a partir da década de 1920 é possível assinalar um período de
popularização do futebol. Em livro clássico sobre a criminalidade e o cotidiano de São Paulo, o autor
ressalta também o aparecimento concomitante dos conflitos nas quadras. No enfoque pelotense desta
pesquisa, percebemos que os casos de violência ou mortes decorrentes de conflitos iniciados nos campos
de futebol na maior parte das vezes, quadras informais e campeonatos amadores ganhavam grande
cobertura da imprensa, a qual noticiava tais ocorrências destacando o contraste entre essa forma de
sociabilidade “familiar” e diurna, e os desfechos violentos.
disposição nas páginas dos jornais, mas no condizente ao texto. Apesar da flutuação
dessas notas nos enquadramentos a maior frequência pertence à última página, mas ao
longo da década, as notas podem ser observadas desde a capa até a contracapa -, a
rubrica ‘Factos da Rua’, por vezes, se confunde com as ocorrências relatadas nas
crônicas policiais do Opinião.
Factos da rua
No "Club Beija Flor"
Por ordem do sr. Capitão Manoel de Cordeiro, subprefeito, foi presa, ontem,
à noite, a mulher Liberata Tavares que promoveu grossa desordem no "Club
Beija Flor", à Praça Piratinino de Almeida, aggredindo a mulher Graciana Araújo
que sahiu ferida na testa. (FACTOS..., 1932, p. 1).
Chronica Policial
Devotos de Baccho
Por haverem, em demasia, "sacrificado" no altar de Baccho, foram fazer
penitência no posto os adoradores do velho deus pagão, Hans Peter, Mario
Dias, Sylvio Freitas, José Belarmino Ferreira e Germano Hernandes.
(CHRONICA..., 1930a, p. 4).
O humor carrega consigo uma historiografia específica, rica e extensa. Expoentes
brasileiros destes estudos, os trabalhos de Verena Alberti (2002) e Elias Saliba (2002)
merecem destaque pelos esforços hercúleos, com análises que perseguiram as origens
das mais remotas reflexões sobre o riso na história da humanidade. Todavia, uma
consideração importante para esta análise é o quanto o modo de vida mundano e francês
- não por acaso impregnado de humor e desdém - pautou as referências brasileiras e,
particularmente, as pelotenses, no que diz respeito às aspirações de modernidade. Das
modas literárias e vestimentas, dos hábitos de lazer ao futebol, a elite pelotense viajava à
Europa ou mandava seus filhos estudarem nas universidades europeias - ou mesmo na
capital federal, impregnada de influências francesas -, trazendo consigo os signos e
referências que pautavam o cotidiano das cidades modernas. (RIGO, 2004)
O tipo de humor difundido nos circuitos literários franceses, herdeiro de uma
ironia sutil e blasé oriunda do universo cortesão, combinado com a profusão de
pasquins, cançonetas e sátiras presentes na tradição popular, exportava uma espécie de
capital simbólico associado ao uso de tiradas irônicas e inteligentes. Segundo Minois
(2003, p. 348-349), o humor francês também adotou características marcadamente
ébrias, apesar de se tornar, a partir de 1900, mais cauteloso ao rir do bebum, efeito das
campanhas antialcoólicas em curso. Mesmo o jornalismo presente na imprensa norte-
americana, cuja influência para o Brasil na década de 1930 se achava em ascensão,
também se encontrava imbuído dessa mentalidade irônica e sarcástica entre seus
escritores - aspecto exemplificado magistralmente na obra de Mark Twain (1835-1910) -,
a qual vinculava a capacidade de redigir um texto com espírito zombeteiro a determinado
status aspirado entre os escritores (MINOIS, 2003).
Mas nenhuma influência externa explica isoladamente a ampla adesão ao humor
entre os brasileiros. Essa assinatura” carrega tintas tão diversas quanto arraigadas na
construção de sociedade que aqui se fez, desde os tempos coloniais. Diante da
informalidade fundadora de nossas bases, sem um projeto norteador que pautasse
nossas origens, o “jeitinho brasileiro se explica enquanto estratégia de sobrevivência
(DAMATTA, 1983). Aproximador e provedor de necessidades negligenciadas pelo âmbito
público, o “jeitinho também está expresso na importância da sociabilidade dos bares
para aqueles escanteados do trabalho formal. Na camaradagem com o dono do bar, ou na
generosidade alegre de uma “rodada”, o jornaleiro mantinha-se a par das oportunidades
de “bicos”, e alguns certamente ficavam atentos às possibilidades ilegais de sustento.
Diante de uma realidade nem sempre agradável aos sentidos, as massas
trabalhadoras, que passavam a integrar o público consumidor dos temas veiculados nos
jornais, ajudaram a retroalimentar essa via de mão dupla, em que o trago e o riso
cotidianos ajudavam a não sucumbir ao abandono da existência. Com efeito, surgia o
divertimento proveniente de notas tão corriqueiras, que relatavam os dilemas e situações
diárias presentes em qualquer “boteco”, pensão, festa ou baile. O uso frequente das
aspas nos títulos desses textos curtos insinuava a ironia por trás dos eufemismos:
Pesquei
pesquei naquele "Baco" perto do Arroio, o Janjão, dansando com a camisa prá
fóra das calças, o Jeronimo "virando" de tomancos, a Chinóca namorando o
soldado Miguel, o Dudú brigando com o Valentim e o gaiteiro, berrando porque
desde ás 8 horas estava a sêco...
Opa! baile da flôr da malandragem... Vocês pensam que Pelotas é a térra da
bagunça? (PESCADINHA, 1933c, p. 4).
Se levarmos em consideração as três classificações tradicionais expostas por
Saliba (2017) a respeito das técnicas para a produção do riso - a saber, superioridade,
alívio e incongruência -, é possível perceber que, na ironia presente nessas notas cheias
de aspas e conotações nas entrelinhas, existe uma espécie de entrelaçamento entre as
três teorias. Nesse sentido, não surpreende que tais classificações não deem conta de
explicar a complexidade dos processos que envolvem o recurso ao humor, conforme
argumenta Saliba (2017), porém, levantam possibilidades interessantes de reflexão para
análises específicas de produções humorísticas.
No caso das notas aqui analisadas, por exemplo, não como não perceber o tom
de superioridade no humor que ironiza as agruras cotidianas dos embriagados, o qual usa
a constante disputa presente entre os sujeitos no convívio em sociedade para produzir
uma “[...] súbita concepção de alguma eminência em nós mesmos, pela comparação com
a fraqueza dos outros ou com as nossas próprias fragilidades.” (SALIBA, 2017, p. 13). Ao
mesmo tempo, é impossível não perceber o alívio cômico proveniente de uma liberação
de impulsos supostamente vergonhosos presentes em cada leitor, relacionados à libido, à
moral ou à escatologia. É como se a leitura e a identificação com as transgressões alheias
fizessem reverberar desejos próprios suprimidos, e essa satisfação ficcional abrisse uma
“válvula” que desafoga as tensões provenientes de tal supressão, causando o riso.
Ninguém admitia publicamente gostar do samba ritmado, herdado do “maxixe
desavergonhado”, das piadas de caipiras ou das anedotas obscenas. Mas
dificilmente resistia à sedução de tamborilar com os dedos, chacoalhar os pés
ou ouvir e difundir, ao do ouvido, “a última piada”. Parece que a sociedade
delegava aos humoristas, os “palhaços por um dia” ou “engraçados
arrependidos”, a representação, em relances rápidos e efêmeros, desses desejos
sutilmente recalcados ou encobertos. (Elias Thomé Saliba, entrevista, 7 jun.
2011).
Por último, mas não menos importante, o uso da incongruência também aparece
em determinadas narrativas do período, as quais brincavam com a dualidade entre
percepção e representação do mundo; esse uso abrange uma vasta gama de produções,
justamente por explicar o riso por meio do contraste entre representação intelectual e o
mundo real dos objetos. Apontada por muitos como condição do potencial humorístico,
essa disparidade acaba por gerar a ideia de abordagem linguística do humor, segundo a
qual os leitores possuiriam uma competência humorística baseada na performance, que
consiste em ser capaz de prever o modo de comunicação utilizado. O riso, portanto,
ocorreria quando esse modo de comunicação rompesse com essa previsibilidade,
expresso sensivelmente quando “[...] o texto humorístico começa a ser percebido de uma
maneira e termina de outra, diferente do inicial.” (SALIBA, 2017, p. 16).
Contando com essas estratégias, alguns textos do Opinião, no início da década de
1930, transitam habilmente por esses eixos, utilizando o material das ocorrências
corriqueiras dos “fatos da rua” para rir das desgraças do cotidiano. Como sentenciou
Saliba (Entrevista, 7 jun. 2011), “a vida do brasileiro é tão cheia de incongruências que,
para fazer humor, ele faz uma paródia da vida real.” Isso fica expresso, por exemplo, na
alusão ao imaginário da mitologia grega e da literatura para descrever o estado de
embriaguez seguido de uma noite no “xadrez”:
Chronica Policial
Alcoolatras perigosos
Dois inveterados adoradores de Baccho, andavam pelas ruas a desenhar
palavras cruzadas, em passos ora horizontaes, ora verticaes. A branquinha ia
fazendo prodigios nas entontecidas cabeças dos dois ferozes inimigos da lei
secca e, tanto assim, que dentro em pouco [vir]am-se ambos - numa visão
[al]coolica - deante de fantas[ti]cos animaes monstruosos, [an]ti-diluvianos,
dinosauros [fa]bulosos de fauces escan[ca]radas e longas caudas [pi]ntadas...
Que fazer? Um de faca e outro de facão, avançaram indomitos. E quando
despertaram, encontraram-se calmamente deitados no xadrez no posto policial
e alliviados do peso alcoolico e das afiadas armas... (CHRONICA..., 1930, p. 4).
A rubrica “alcoolatras perigosos” institui parte da brincadeira com as
expectativas do leitor, à medida que prepara os ânimos para a narrativa de cenas
ameaçadoras, mas rompe com o esperado ao tratar a agressão como um episódio cômico
de alucinações embriagadas. Os faits divers e crônicas policiais veiculados diariamente
no Opinião, na década de 1930, transitam entre a ironia diante das diversões e conflitos
populares e abordagens de tom mais sóbrio e conservador. Assim, contempla e entrelaça
diversos tipos de riso e de leitor, segundo as teorias “clássicas” descritas por Saliba
(2017): aquele que ri por se sentir superior à condição degradante dos bêbados detidos e
expostos ao ridículo nas páginas dos jornais; o riso que se diverte em desafogar suas
próprias vontades similares e não realizadas, ou negadas/escondidas; e o riso causado
pela incoerência entre a situação real, orgânica, de bêbados intoxicados e levados presos
pela polícia, e a descrição do acontecimento no jornal, que brinca com a fantasia
alcoólica remetendo à sua simbologia mitológica e literária.
uma ambivalência emblemática que vem demonstrar a linha nue na qual se
equilibrava o Opinião no período, visto que as oscilações presentes nas abordagens da
embriaguez também apresentam correlação com as diferentes administrações do
periódico no período. Enquanto iniciativa em defesa dos interesses das classes populares
e trabalhadoras, o jornal nem condenava totalmente o hábito de embriagar-se, tampouco
deixava de enfatizar suas consequências nefastas. Com as notas espartanas das
descrições policiais, aproximava-se da ética do trabalho, a qual satisfazia empregadores
e boa parte dos anunciantes; com o recurso eventual ao humor, o escritor provocava o
riso, driblava as conotações políticas e permitia um leque variado de interpretações sem
se comprometer explicitamente a nenhuma - e ainda poderia agradar os anunciantes de
vinho e distribuidoras de bebidas.
Na esteira dessas narrativas aparentemente conflitantes, parece repousar uma
proposição tão simbólica das noções de convívio social e civilidade na modernidade: o
modelo de comportamento é aquele capaz de gozar dos momentos lúdicos sem perder o
autocontrole. Afinal, essa postura funciona como uma admissão de que os efeitos
positivos do beber são amplamente conhecidos e que suas potenciais consequências
nefastas não deveriam justificar a abolição do hábito a priori, mas sim estimular sua
disciplinarização.
Os dois ébrios
(De uma anedocta)
Em uma linda noite de luar,
Encontrei lá perto da Avenida,
Dois homens que estavam a palestrar
Sobre o triste vício da bebida.
Diz o primeiro com um ar ameno;
_ Não devemos acreditar mais em beber,
A bebida é um grande veneno,
Devemos tratar é de comer!
Dois mil réis, é apenas o que temos,
O que vamos agora nós comprar,
No armazem do amiguinho Lemos,
Para a nossa fome saciar?...
Isso não é pergunta que se faça
Principalmente nesta occasião,
Compraremos 1$800 de cachaça
E, para sobremesa sim, um pão.
Respondeu-lhe o outro com franqueza:
_Para fazermos bem a digestão,
Não devemos comer é sobremesa;
E para que queremos tanto pão?...
(JOCA, 1932, p. 7).
As notas variadas de ambos os periódicos conviviam com a veiculação paradoxal
entre as duas correntes que mencionamos acima: uma preocupada em alertar para os
malefícios do consumo de bebidas alcoólicas, seu potencial destruidor de famílias e
vínculos laborais, a qual adotava desde reportagens inteiras de capa a artigos da
campanha antialcoólica de outros centros; e outra, que recorria a um tipo de humor
produtor de alívio, quase que um salvo-conduto para situações em que o próprio leitor
tenha perdido o controle no consumo de bebidas - ao rir daqueles que passavam do
ponto”, mas sem que esse riso culminasse em uma retórica proibicionista.
Pesquei
pesquei a Nena, andar envolvendo-se com a vida dos outros, sábado último,
quando terminou o baile no Fica [Clube Fica Aí Pra Ir Dizendo], ela começou
gritando que a vergonha daquele cordão era a d. Tomazia.
Ora, d. Nena, qual é o papel ridiculo que fês a d. Tomazia dentro do Fica ai? Se é
por tomar a sua cerveja isso não vai ao caso, porque eu sei que você também
um dente por sua "cevadinha" e mesmo boca fexada não apanha mosca d. Nena.
(PESCADINHA, 1933a, p. 4).
O que repousa nessa aparente contradição constitui a ambivalência moderna
tipicamente brasileira, que demonstra estar alinhada com a ordem propagada enquanto
norma, mas relativiza esta última deixando subentendido que incorrer no erro não é uma
situação definidora ou irreversível. É a historicidade do jeitinho brasileiro que chega até
nossos dias com o “é proibido, mas se quiser, pode.”
Considerações finais
A linguagem bem-humorada encontrada nos periódicos pelotenses da década de
1930 parecia constituir um recurso narrativo capaz de agregar leitores de mundos de
referências distintos, conciliando abordagens distantes acerca do tema da embriaguez.
As possíveis conclusões desta pesquisa se alinham com Saliba (2017), quando argumenta
que o uso do humor na redação do texto também atende ao apelo de ampliar as
possibilidades interpretativas, o que, não por acaso, é perceptível nos jornais pelotenses
que pretendiam alcançar desde donos de fábricas até o operariado.
O recurso ao humor também se mostrava eficaz enquanto uma abordagem
possível diante do turbilhão de transformações pelas quais as cidades de porte médio
passavam no início do século XX. Mudanças que não se restringiam ao espaço físico,
mas que invadiam as noções de convívio social, lazer e comportamentos, condicionavam
paulatinamente a capacidade de consumo à respeitabilidade, ao pertencimento, tornando
cada vez mais indissociáveis o ‘ter’ e o ‘ser’. A incapacidade de explicar e conferir sentido
imediato às novas imposições que atravessavam o cotidiano, fez com que o riso fosse a
alternativa possível ao desespero, aproximando inseguranças de grupos distintos.
Por outro lado, o humor parece ser o instrumento da resiliência daqueles
segmentos que só podem contar consigo mesmos para se reerguer. Magistralmente
captado pelos jornalistas “anfíbios” destes periódicos, os quais transitam entre a
mitologia grega e o submundo da “flor da malandragem”, esse instrumento confere
contornos menos alarmantes ao autocontrole tão rígido e simbólico da modernidade
civilizada. Afinal, “[...] o humor, por mais agressivo que seja, incentiva a sociabilidade,
sublima a agressão, administra o cinismo e, em alguns casos, estiliza a violência,
dissolvendo-a no riso.” (Elias Thomé Saliba, entrevista, 7 jun. 2011).
Em suma, essa intersecção entre sociabilidade, embriaguez, sonho e
sobrevivência, que de fato constitui as intrincadas relações no espaço dos bares e da
vida noturna popular, de forma alguma pode ser apreendida pontualmente. Contudo, nos
agarramos aqui aos resquícios disponíveis dessas vivências e procuramos conduzir o
leitor por todos os vieses que os compõem, para que possamos delimitar seus contornos
e profundezas, buscando conceber a amplitude do que ainda nos é impossível ver.
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