público interessado. Neste ponto, surge o quarto fator do pensamento histórico,
proposto por Rüsen: as formas de apresentação. O autor enfatiza que, muitas vezes, há
certa negligência em relação a elas, no sentido de serem valorizadas inversamente à sua
importância. A historiografia, produto da pesquisa que deve ser “apresentado”, deve ser
percebida como sumariamente importante ao ofício do historiador, e as formas de
apresentação, neste sentido, carecem de ser compreendidas como portadoras de uma
função fundamental, que liga quem pesquisa a quem busca conhecimento: são o elo que
une as duas pontas, conectando-as e tornando possível a relação entre ambas.
Sintetizando, Rüsen afirma que:
Com as formas de apresentação, o pensamento histórico remete, por princípio,
às carências de orientação de que se originou. Ele se exprime, como resultado
cognoscitivo, sob a forma da historiografia, com a qual volta ao contexto da
orientação prática da vida no tempo. Com a historiografia, o pensamento
histórico usa uma linguagem que deve ser entendida como resposta a uma
pergunta. Originada em carências de orientação e enraizada em interesses
cognitivos da vida prática, a ciência da história – com os resultados de seu
trabalho cognoscitivo expressos historiograficamente – assume funções de
orientação existencial que têm de ser consideradas como um fator próprio [...]
de seus fundamentos [...]. (RÜSEN, 2001, p. 34).
Deste modo, chegamos ao quinto e último fator do pensamento histórico,
delineado por Rüsen em Razão Histórica (2001): as funções que desempenha. De acordo
com este autor, dos interesses e das ideias, como vimos, partem as demandas da
pesquisa e as perspectivas orientadoras destas, respectivamente. Com base nelas, o
historiador elenca os métodos mais adequados para dar prosseguimento à sua
investigação, transformando carências de orientação em saber histórico fundamentado e
embasado cientificamente. Este saber, por sua vez, é apresentado de diferentes formas,
por meio da historiografia, que torna possível a ponte entre saber e público interessado.
É nesta “ponte”, ou neste processo de transposição e irradiação do conhecimento por
meio das formas de apresentação, que o conhecimento histórico exerce sua função
social: através dele, agora sistematizado, são respondidas, da melhor maneira possível,
as demandas que o originaram, as perguntas que estiveram no cerne de sua elaboração e
desenvolvimento. Assim, o conhecimento histórico, entre outras funções, possui a de
orientar, responder e clarificar as questões humanas sobre si, sobre seu passado e sobre
sua contemporaneidade. Ele, em outras palavras, possibilita que compreendamos quem
fomos, para melhor entender quem somos, observando o passado, mas pensando no
hoje.
Apresentando e explicando os cinco fatores do pensamento histórico, Rüsen
manifesta sua concepção de matriz disciplinar como cerne da ciência histórica. Explica,