que há uma coincidência de interesses entre a política implementada pelo Estado e os
anseios dos intelectuais.” (VELLOSO, 1982, p. 93).
Esses intelectuais tomaram para si a missão de narrar o Brasil em uma nova
perspectiva, evidenciando e elaborando elementos que representariam a identidade
nacional. Como aponta Sergio Miceli, a relação entre o Estado e os intelectuais pautava-
se no: “[...] domínio da cultura como um “negócio oficial”, implicando um orçamento
próprio, a criação de uma intelligentzia e a intervenção em todos os setores de
produção, difusão e conservação do trabalho intelectual e artístico.” (MICELI, 2001, p.
197).
A cultura passou a ser o cenário de atuação política do Estado, ressignificando a
própria ideia do popular, anteriormente visto como razão do atraso da nação, elemento
negativo, passou a ser compreendido como detentor de uma autenticidade da cultura
nacional, conseguindo superar a imagem negativa diante da tutela do Estado. Sobre isso,
afirma Velloso:
O povo é a “alma da nacionalidade”, as elites é que se distanciaram dessa alma
quando se deixaram fascinar pelos exemplos alienígenas [internacionais]. Dando
as costas para o “país real” elas se ausentaram, se eximiram de sua
responsabilidade diante da nação. Por isso, cabe somente a elas redescobrir a
nacionalidade que sempre esteve presente intuitivamente no povo. Esse tipo de
raciocínio vem, portanto, fundamentar a intervenção do Estado na organização
social. [...] visto como a única entidade capaz de salvar a identidade nacional. [...]
A imagem do Estado “pai grande” e a do intelectual salvacionista se
entrecruzam, então, em direção ao popular. Cabe ao intelectual auscultar as
fontes vivas da nacionalidade, de onde emana a autêntica cultura. Nessa
perspectiva, a reflexão sobre a nacionalidade deve necessariamente ser
inspirada no rico manancial popular. (VELLOSO, 2007, p. 174).
Como aponta Durval Muniz de Albuquerque Júnior em sua tese O engenho anti-
moderno (1994), encontramos projetos intelectuais e políticos pautados no ‘princípio da
nacionalidade’ instaurados em instituições, departamentos administrativos e discursos,
em que “ [...] a nacionalidade é um dispositivo sutil de homogeneização das diversas
relações sociais e de sua centralização no âmbito da soberania e da dominação.”
(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 1994, p. 45), sendo assim, há uma construção de mecanismos
para produção de sentidos em torno do nacional, elaborando e categorizando os
aspectos que são considerados como pertencentes à nação. Ainda:
[...] faz emergir a procura de signos, de símbolos, que preencham essa ideia de
nação, que a tornem visível, que a traduzam para todo o povo. Ele [o dispositivo
da nacionalidade] faz emergir a procura de elementos que singularizem o país,
notadamente aqueles mais novos [...] Vista como um ente, um indivíduo, a nação
é pensada como um espaço dotado de sentimentos, costumes, língua,
comportamento, caráter e personalidade próprios. (ALBUQUERQUE JÚNIOR,
1994, p. 46, grifo nosso).