visigodo e às primeiras unções régias ocorridas no Ocidente europeu, haja vista que os
visigodos foram os primeiros a realizá-las. Barbero de Aguilera defendeu a ideia de que a
formação de uma teoria política no Reino Visigodo foi obra de Isidoro de Sevilha, tendo
sido evidenciada no IV Concílio de Toledo em 633. Nesse sentido, Everton Grein também
buscou com sua pesquisa compreender a concepção teórica da realeza cristã, como
escolhiam e legitimavam os soberanos no interior dessa sociedade.
Fruto de uma tese de doutorado, o livro foi organizado em quatro capítulos.
Munido de epístolas, atas conciliares, documentos jurídicos, dentre outras fontes sobre o
tema, Grein demonstrou conhecer bem os manuscritos e a historiografia sobre o
período. Vale ressaltar que, além do material tradicional sobre o tema, o pesquisador se
valeu de poesias visigóticas, algo inovador na medida em que tais fontes, na perspectiva
de Grein (2019, p. 43), foram marginalizadas pelos pesquisadores. Esse conhecimento em
relação às fontes fora salientado por Luis A. García Moreno (2019), pesquisador da área,
ao escrever o “Prólogo” da obra, no qual teceu elogios a Everton Grein pela finura e
inteligência com que concebeu sua pesquisa.
No primeiro capítulo, o autor apontou que o reino dos godos foi construído
sobre as antigas estruturas do Império Romano, tendo absorvido muitos aspectos da sua
forma de organização, o que Edward Arthur Thompson (2014) constatou em sua obra
Los godos en España. Na sequência, iniciou sua narrativa a partir da conversão pessoal
de Recaredo ao catolicismo em 587, dando enfoque ao projeto de unificação política e
religiosa intentado por Leovigildo. O referido monarca, ao associar seus filhos como
consortes regni, teve de lidar com a revolta de seu filho mais velho, Hermenegildo. O
pesquisador descreveu, de maneira detalhada, as implicações dessa disputa familiar para
a unificação do reino e apontou como os prelados da época descreveram Leovigildo e
seu filho rebelde. Ao analisar os escritos visigodos e os exteriores ao reino, observou
diferenças na forma de compreender o ocorrido, sendo alguns apoiadores de
Hermenegildo enquanto outros ficaram ao lado de Leovigildo.
Notou-se que, pelo menos em Hispania, os clérigos optaram por ficar do lado de
Leovigildo que, embora ariano, tinha um projeto de unificação para o povo godo da
península. Findadas as disputas, foi a missão de Recaredo concluir o projeto de seu pai,
convertendo o reino visigodo em católico através do III Concílio de Toledo, sob a
presidência de Leandro de Sevilha. Tal bispo foi descrito pelo autor como figura central
na consolidação dos visigodos como herdeiros do Império Romano, tendo no III Concílio
de Toledo adotado insígnias correspondentes ao período imperial, dando a conotação de
que Recaredo seria o continuador de tal herança. Além disso