que aconteceu, ele existe por si mesmo. A necessidade de interpretação e de
investigação restariam sem sentido nessas hipóteses.
No entanto, o curso positivista que a história tomou, somado a outras tantas
circunstâncias, fizeram com que ocorresse a crise do historicismo, tratada por Troeltsch
como residente no pensamento histórico-filosófico que alterou “sentimento vital” da
história, impondo-a a ânsia pela plenitude e totalidade, sem que isso fosse algo
imprescindível para o estudo histórico. (TROELTSCH, 2010, p. 454).
Quando Nietzsche (2005, p. 273) chama de homens históricos todos aqueles que
olham o passado para se estimularem ao futuro, realiza uma crítica ao uso da história:
olhar para trás para justificar sua esperança em um mundo melhor, que a felicidade e a
justiça ainda estão por vir, só demonstra como a-históricos eles seriam. Esse olhar para
o processo histórico não estaria a serviço do conhecimento, mas da vida.
Se a história ficar apenas a serviço da vida, estará também “a serviço de uma
potência a-histórica”, e, dessa maneira, jamais conseguirá se tornar uma ciência pura,
como, no exemplo de Nietzsche, a matemática. Então, para que seria útil para nós nos
ocuparmos do passado? A História auxilia na criação da ideia da realização do
impossível. Ao vislumbrar atos de grandeza outrora realizados, os homens acreditariam
ser possível repeti-los, se repetissem a história. Assim, a História mostraria ao ser
humano a possibilidade de conseguir realizar o impossível, pois ele já foi feito antes.
Entretanto, a comparação presente – passado é inexata para Nietzsche. Para realizar
essa comparação, quantas diferenças precisarão ser negligenciadas, também seria
necessário destruir toda e qualquer individualidade do passado. (NIETZSCHE, 2005, p.
274).
A reflexão proposta por Nietzsche se torna crítica quando ele expõe seu
descontentamento com a necessidade de se colocar a história como ciência de qualquer
maneira “pela ciência, pela exigência de que a história seja ciência”. O autor chama a
história de ciência do “vir-a-ser universal” e argumenta como “perigosa audácia” o lema
escolhido pelos historiadores da época, o “haja a verdade, pereça a vida”. (NIETZSCHE,
2005, p. 277). A ideia da crítica é clara: a transformação dos documentos em verdade nua
e crua destrói a vida. Seguindo o pensamento do autor, é preciso atentar para as várias
fontes e construções que o processo histórico possui, e só assim construir a utilidade da
história.
Para que essa utilidade da história se concretiza, Nietzsche argumenta:
Formemos agora uma imagem do evento espiritual que se produziu, com isso,
na alma do homem moderno. O saber histórico jorra de fontes inexauríveis,
sempre de novo e cada vez mais; o que é estrangeiro e desconexo entre si se