226
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº2, p. 223-228, jul.-dez., 2014.
Luis Gustavo Martins Botaro
a anterior perseguição às tavernas, tornaram-se locais de venda, consumo de
álcool e da sociabilidade daqueles marginalizados na sociedade.
Daisy Camargo apontou outro espaço de sociabilidade, venda e
consumo de álcoois no início do século XX: os cabarés. A autora analisou
esses espaços por meio do romance Madame Pommery, de Hilário Tácito,
escrito nas primeiras décadas do século XX. Diferente da rusticidade das
tascas e tavernas, os cabarés eram locais luxuosos, ornamentados, um misto
de restaurante, hotel e bar. Gerenciados, em sua maioria, por mulheres, esses
locais eram frequentados por coronéis vindos do interior, que encontravam
diversão nos jogos de azar, o prazer no consumo de bebidas alcoólicas e nas
prostitutas que ali frequentavam (CAMARGO, 2012, p. 86). Consumia-se,
além das bebidas comuns das tavernas, o haxixe, a cocaína e a champanhe,
esta, por sua vez, entendida como uma bebida do ser urbano que se pretendia
civilizado e interligado à cultura francesa.
De acordo com a autora, os cabarés que emergiam no centro da
cidade, enquanto manifestação de outras formas de embriaguez e prazer eram
“traduções do luxo das tavernas” (CAMARGO, 2012, p. 87), mas que não
deixaram de ser perseguidos devido à conduta daqueles que os frequentavam,
sendo visto como um espaço do vício e da imoralidade. Esses locais também
sofreram as consequências das reformas colocadas em prática nas primeiras
décadas do século XX, desaparecendo para que em seu lugar se constituísse
o alargamento das ruas e a construção de prédios públicos, teatros, praças,
cafés, restaurantes luxuosos, ou seja, espaços condizentes com os anseios da
elite. Para a autora, além do desaparecimento dos cabarés, tascas e tavernas
do centro da cidade, esse fenômeno era acompanhado da exclusão daqueles
que frequentavam tais espaços, um controle do Poder Público em relação
ao prazer, aos costumes e práticas de determinados segmentos ainda mais
marginalizados da sociedade, que buscavam, a sua maneira, resistir e buscar
seus espaços num ambiente em constante transformação.
Por meio de processos criminais, a autora conseguiu identicar
as apreensões que tinham como justicativa a embriaguez. Na maioria dos
casos, os “infratores” eram brancos pobres, estudantes, imigrantes pobres e
negros, que além de serem acusados de embriaguez, logo, eram associados
a “vadiagem” (CAMARGO, 2012, p. 96-102; 132-133). Para os homens das
leis, com formação em Direito, a embriaguez era associada à vadiagem, sendo
que o ébrio era classicado como um perigo social, com propensão a cometer
delitos, a tumultuar a ordem pública e a falta de interesse ao trabalho, na
contramão do que era desejado.
Todavia, nos testemunhos daqueles que eram aprendidos, em
sua maioria, armavam exercer algum tipo de atividade, como lavadeiras