Introdução
A vila de índios de Monte-mor o Novo da América
foi fundada em 1764 no maciço
de Baturité. Antiga aldeia da Palma, era formada por indígenas das nações jenipapo e
canindé e, por conta da elevação à categoria de vila em decorrência do Diretório,
recebeu também a etnia quixelô, vinda da aldeia de Telha, para dar conta do mínimo de
habitantes exigido (ALEMÃO, 1961 [1964], p. 338-339; STUDART FILHO, 1965, p. 137 e
140; CATÃO, 1937, p. 63; CASTRO, 1999, p. 35-40). Foi uma das cinco vilas de índios
criada pela citada legislação no Ceará, além de três povoações
. Marca da ação
indigenista do ministério do marquês de Pombal, sob o reinado de dom José I, visava a
integração da população indígena à sociedade colonial portuguesa por meio da mudança
dos costumes, pelo trabalho – geralmente de aluguel a proprietários – e pela condição de
igualdade aos demais súditos da monarquia lusitana. Entretanto, apesar desse último
aspecto, havia uma contradição: os índios eram considerados incapazes, e, por isso,
deveriam ser tutelados por um diretor leigo, substituto dos antigos religiosos (SILVA,
2005; MOREIRA, 2019, p. 137-205).
Um dos epicentros dessa condição indígena dúbia na legislação portuguesa talvez
tenham sido as câmaras municipais dessas novas vilas. Por um lado, aos índios se
reservava cargos nos senados, como na condição de vereadores e juízes (PORTUGAL,
1758, p. 4-6; 8-9); por outro, deveriam dividi-los com extranaturais, como eram
chamados todos os que não fossem índios. O Diretório estimulava a convivência com
extranaturais nas câmaras e na própria vila para que os indígenas fossem melhor
civilizados, mas destacava que suas prerrogativas, como terras e os cargos nos senados,
deveriam ser rigorosamente respeitadas (PORTUGAL, 1758, p. 34-36). No entanto, com a
coexistência, eram inevitáveis os conflitos por poder e os assédios ao patrimônio
fundiário indígena. As câmaras municipais, em si, eram motivo de indignação de muitos,
ou, no mínimo, de denúncia sobre suas inviabilidades, já que os índios não teriam
capacidade para assumir tais cargos (MARCIS, 2004, p. 70; SILVA, 2005, p. 112-115;
COSTA, 2019, p. 42-43; MOREIRA, 2019, p. 279-282).
Ocupar a posição de vereador em uma vila na América portuguesa do Antigo
Regime dava ao indivíduo a condição de nobre da terra e cidadão, bem como o poder de
gerência de questões fundiárias, econômicas e comerciais do município (BICALHO, 1998,
p. 3-6). Ou seja, uma invejável posição social, política e econômica nessa sociedade tão
Atualmente é cidade homônima à serra de Baturité, localizada a cerca de 100km da capital do Ceará,
Fortaleza.
Além de Monte-mor Novo, as vilas eram Vila Viçosa, Soure, Arronches e Messejana. As povoações eram
Baepina, Almofala e Monte-mor Velho.