elementos como origem, fenótipo e ascendência. Podemos citar, a título de exemplo,
“qualidades” como “cabra”, “mulato”, “pardo”, “caboclo” e, dentre outras categorias
utilizadas para nomear as dinâmicas de mestiçagem biológicas e culturais procedidas na
América portuguesa, “mameluco”
(PAIVA, 2015).
Um número considerável das atas, contudo, não expressam nitidamente as
“qualidades” dos sujeitos, apresentando somente siglas que nos dão margens para
cautelosamente refletirmos sobre as possibilidades. São os casos dos batizandos que
receberam a “qualidade” “P”, a qual cogitamos se tratar das “qualidades” “preto” ou
“pardo”
; a “qualidade” “NC”, que supomos ser “negro cativo” ou “nação Congo”; para
sigla “PC”, levantamos as possibilidades de ser uma referência a “pardo cativo” ou “preto
cativo”; e, por fim, “B”, a qual reconhecemos ser um indicativo para a “qualidade”
“branco”, a qual soma o maior número de ocorrências nos três livros de registros de
batismos, num total de 85 registros
.
Dos 189 registros de assentamento de batismos referentes à povoação do Jardim
das Piranhas, encontramos somente um no qual um índio recebe tal sacramento. Em
1804, o índio chamado Lino recebera os santos óleos na Capela de Nossa Senhora dos
Aflitos, filho de Miguel Corrêa, natural de Vila Flor, e Teresa de Jesus, natural da
Freguesia do Açu (FGSSAS, LB nº 1, 1803-1806, f. 38v).
O número reduzido de batismos de índios já havia sido constatado por Helder
Macedo, em ocasião de sua dissertação, estudo no qual o historiador contemplou toda a
Freguesia de Santa Ana como recorte espacial. Dos 685 registros investigados, do
período de 1803 a 1806, 73,28% dos batizandos são designados como brancos, 16,20%
como negros, 9,24% como pardos e somente 1,16% como índios. O caso do índio Lino,
batizado na Capela do Jardim das Piranhas, é um dos oito batismos de índios que foram
realizados na Freguesia do Seridó durante o período supracitado (MACEDO, 2007).
No que concerne às mesclas biológicas envolvendo índios e brancos, inicialmente foram estes chamados
de “mestiços”, contudo, esse termo posteriormente foi aplicado para genericamente qualificar filhos de
uniões mistas. Sendo assim, “mameluco” (ou “mamaluco”), “curiboca” e “caboclo” eram as “qualidades”
mais costumeiramente empregadas para designar os descendentes de índios e brancos. Para os filhos de
índios e africanos, atribuía-se à “qualidade” “cabra” (PAIVA, 2015).
Suspeitamos que é mais provável que seja um indicativo para a “qualidade” “pardo”, dada a
superioridade numérica dos pardos nos livros de assentos da Freguesia do Seridó. Segundo Macedo, dos
1.064 batizados registrados no Seridó entre 1803 e 1818, 41,92% eram de pardos, frente a 39,94% de
brancos (MACEDO, 2013). Ressaltamos, ainda, conforme Paiva, que a partir do século XVI, “pardo” foi
usualmente um indicativo de “qualidade” que “denotava alguma mistura com negros, crioulos, mulatos ou
zambos, que poderia ter ocorrido com brancos ou índios, principalmente” (PAIVA, 2015, p. 234), apesar de
variar de acordo com a época e região.
Além desses, há 33 registros nos quais a “qualidade” não é informada, mas que possivelmente também se
tratem de indivíduos com a “qualidade” “branco”. Conforme Helder Macedo (2007), é possível deduzir tal
fator com base na preponderância de brancos na Freguesia do Seridó, não sendo, assim, necessariamente
obrigatório sua distinção nos assentos religiosos.