subordinadas. A organização social entre os índios são bem mais complexas do que pode
parecer se nos vincularmos exclusivamente à compreensão patriarcal.
Em cada sociedade, a prática poligâmica possuía um sentido e significado, e entre
os Tupinambá, podemos destacar obtenção de grande família que possibilitaria muitas
lavouras, abundância de alimentos e bebidas fermentadas, conferindo assim, status
social, visto que a agricultura era o principal apoio alimentar destes índios, a base da
economia vinha desta atividade e o labor agrícola era um saber dominado pelas mulheres.
Nas aldeias, as unidades de produção constituíam-se em torno de um grupo de parentes,
as mulheres possuíam uma relação direta com a terra, sendo elas de fundamental
importância para a manutenção da família, da linhagem, tendo como papel principal
cuidar das lavouras, produzir e distribuir os alimentos necessários ao grupo. As fontes
dão indícios de que a mulher era um símbolo de riqueza/prosperidade e poder que podia
ser representativo tanto para ela quanto para os homens de seu grupo familiar, marido,
pai, irmão e filhos. Esta concepção pode explicar o fato de serem ofertadas aos aliados
políticos, não como algo que as declinassem ou desvalorizassem, pelo contrário, com
teor valoroso.
Claude D’Abbeville registra que “dão com muita facilidade o que mais prezam,
suas filhas e suas mulheres” e ainda, que era comum “entre eles prometerem suas filhas
ainda crianças aos principais da tribo, ou aos que tem em amizade”. O mesmo religioso
narrou a ida dos índios Tupinambá para estabelecer relações amistosas com outros
índios que habitavam as margens do rio Mearim. Nesta oportunidade, pediram as filhas e
mulheres dos principais “[...] que obtiveram, junto com muitos outros enfeites, que só
estes povos faziam muito caros e preciosos” (ÉVREUX, 2007, p. 43).
Entre os índios, por exemplo, parecem não compactuar com a possibilidade de
viverem distante delas. Em uma passagem do relato de Claude D’Abbeville descreveu que
um índio chamado Tecüare Ubuih havia manifestado o desejo de viver como os padres.
Ao anunciar sua aspiração, uma criança indígena chamada Acaiuy-Mirim reforça a quase
impossibilidade de viver sem as mulheres em sua sociedade:
Eu, (disse o índio Tecüare Ubuih), d’ora em diante desejo viver como os Padres,
trazer um vestido pardo como elles, só possuir o mesmo que elles tem, andar
com a cabeça baixa e olhando para o chão, como elles, não quero mais saber
nem de raparigas e nem de mulheres, nem namorar com ellas, enfim quero viver
e proceder como elle. Achava-se presente o menino Acaiuy-Mirim (de quem já
falamos), e ouvindo estas palavras, atilado e com gravidade ou modéstia
ordinária, disse imediatamente a Tecüare Ubuih: Dizes, que querer viver como
os Padres, e que não cuidas mais de mulheres, como elles o fazem, porém não
cumprirás tua palavra. Tu as deixarás por uma ou duas luas, mas quando ficares
angayuar, (quer dizer- magro: não há moléstia que elles mais temam do que o
emagrecimento), irás logo procurai-as como fazia antes (ABBEVILLE, 1975, p.
86).