No curto espaço de tempo que Hegel esteve em Berna, Lukács analisa o início do
seu desenvolvimento filosófico, desmistificando as interpretações feitas de sua filosofia
nesse período, que tendem a culminar, muitas vezes, na redução e vinculação de suas
elaborações a um “reacionarismo” tratando-o como absolutista e vinculando-as
unilateralmente com a “teologia”. O húngaro nos mostra que, em primeiro lugar, as
vinculações políticas de Hegel nesse período sempre estiveram voltadas para a ala da
esquerda democrática do Iluminismo e que teciam críticas ao Iluminismo alemão, pois os
“absolutistas feudais e seus ideólogos tentaram muitas vezes se aproveitar de
determinados aspectos deste movimento para seus próprios fins” (LUKÁCS, 2018, p. 68).
Hegel via a “antiga república citadina (polis) não como um fenômeno social do passado”,
mas como a constituição de “um modelo eterno, ideal não alcançado para uma mudança
atual da sociedade e do Estado” (LUKÁCS, 2018, p. 69, grifos nossos). Em segundo,
aponta que a filosofia de Hegel não teve vinculação teológica, pelo contrário, Lukács
argumenta que o alemão é um crítico do sectarismo do cristianismo primitivo (LUKÁCS,
2018, p. 71), e se interessava por seitas posteriores. Hegel, segundo seu estudioso, trata o
cristianismo como uma religião “positiva” a qual “constitui um esteio do despotismo e da
opressão” (LUKÁCS, 2018, p. 85).
A ligação de Hegel à filosofia kantiana, principalmente de Crítica da razão Prática,
é, segundo Lukács, de extrema importância para a vinculação de sua filosofia à realidade.
O filósofo alemão vê que tanto os problemas sociais como os morais vinculam-se aos
problemas da práxis, mostrando que a base de sua filosofia é a “reconfiguração da
realidade social pelo ser humano”. Lukács escreve que Hegel vai além de Kant, posto que
este último investiga os problemas morais do ponto de vista do indivíduo. Para Kant o
fundamental é a consciência como um fato moral, em contraponto a isso “o subjetivismo
do jovem Hegel, direcionado para a prática, é coletivo e social desde o início. Para Hegel,
é sempre a atividade, a práxis da sociedade que constitui o ponto de partida e também o
objeto central da investigação” (LUKÁCS, 2018, p. 73).
Já nos três anos de Frankfurt, Hegel, segundo Lukács, irá reestabelecer
criticamente algumas das suas concepções filosóficas, entre elas a sua elaboração de
positividade. Nesse momento, a “positividade” será vista como “um sinal de que o
desenvolvimento histórico já ultrapassou uma religião, e que ela merece ser destruída e
inclusive tem de ser destruída pela história” (LUKÁCS, 2018, p. 329). Essas novas
formulações também servirão de base para os “primeiros embriões do método de
Fenomenologia do espírito” (LUKÁCS, 2018, p. 177). Lukács nos expõe que todo esse
desenvolvimento do período de Frankfurt é atrelado com as constantes variações na
história da Revolução Francesa, porém suas concepções republicanas revolucionárias