Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.312-317, jul./dez., 2019
Dr. Jorge Lúzio: Os Estudos Orientais e Asiáticos compõem uma área complexa e
multidisciplinar. Qual a sua visão sobre os parâmetros metodológicos no trabalho com as
fontes referentes à história e às culturas asiáticas, em função da distinção entre as fontes
produzidas por europeus e as fontes dos asiáticos?
Dra. Monica Simas: Essa é uma pergunta bastante importante e complexa. Mesmo nas
historiografias produzidas na Europa existem parâmetros muito diversos quando estudamos
as histórias dos impérios, dos colonialismos, dos orientalismos. Em 1998, fiz um curso na
Universidade da Arrábida sobre historiografias dos impérios, sob a direção do Professor
Diogo Ramada Curto da Universidade Nova de Lisboa, e pude verificar essa multiplicidade
de versões, de métodos, de enfoques. Por isso, penso que uma primeira exigência para estes
estudos seja o de estabelecer contornos do objeto de pesquisa bem claros e definidos,
apontando àquelas perguntas sobre as circunstâncias; quem fala, de onde, com qual
bagagem, em que tempo, com qual objetivo, etc. Pensar as circunstâncias que geram um
conhecimento é fundamental. Como sabemos, os que estão envolvidos nestes estudos, a
própria divisão “Ocidente x Oriente” é circunstancial, já que a compreensão sobre o espaço
envolve elementos simbólicos e perspectivas locais. Para dar um exemplo, o periódico que
circulava em Macau, sobre os assuntos sínicos, tinha o nome “Ta-Ssi-Yang-Kuo”, com o
subtítulo “Arquivos e anais do Extremo-Oriente português”. No entanto, a expressão em
chinês corresponde ao modo como os chineses costumavam nomear a Índia (Grande País do
Ocidente), e por extensão, em Macau e em Ghanzou, os assuntos ligados à Índia portuguesa.
Para a China, a Índia sempre esteve a ocidente. Não existe um meridiano definido para
estabelecer o que está a ocidente ou a oriente como acontece com a linha imaginária do
Equador, a meio caminho do Pólo Norte e Pólo Sul, dividindo o planeta em hemisfério norte
e sul. O problema das fontes é imenso porque precisaríamos desenvolver ao máximo a
intermediação linguística, aquisição de outras línguas, bem como fomentar traduções, o
debate que as atravessa e trabalhos coletivos para ampliarmos a comunicação e o escopo
dos diversos estudos. Arrisco-me a dizer que este é o maior desafio dos nossos estudos
juntamente com o que chamo de “abertura metodológica”, que seria aprofundarmos as
bases dos vários pensamentos, criando metodologias próprias. Não vejo muito sentido no
nome “laboratório” se não for para realmente buscarmos experimentar novas formulações
diante dos problemas que se apresentam na nossa realidade. E as possibilidades mais
importantes parecem vir das conversas entre estudiosos de diferentes áreas. Temos muito a