Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.318-323, jul./dez., 2019
como a dança grega foi ensinada por Gaia aos guerreiros para que com seu barulho de
bater os escudos, Cronos fosse impedido de ouvir o choro de Zeus, e assim o bebê foi
salvo da fúria do pai destruidor.
O teatro e a dança que temos foi criado dentro do âmbito profano das cortes
europeias desde a Renascença, modelo da disputa com o poder secular da Igreja, usando
a mitologia greco-romana distorcida pelo pensamento cristão, na qual os deuses e
figuras mitológicas eram simples alegorias para retratar a sociabilidade aristocrática em
seu caminho para o Absolutismo. O balé clássico é o símbolo do Estado Moderno, tendo
como grande modelo o Rei Luís XIV. E aí o teatro, a dança, a música e a poesia tomaram
seus rumos independentes.
Esta busca por algo que está faltando aparece principalmente no pós-romantismo,
quando as pesquisas acabaram por tornar a distância maior ainda entre as linguagens
artísticas. A literatura tornou-se Realista, a poesia Parnasiana, a música e a pintura
Impressionista, a ópera Verista… e depois vieram o Expressionismo, Futurismo, Cubismo,
etc. A dança quase desaparece no teatro da Ópera de Paris, submissa à ópera. A obra de
arte total: É o sonho de Richard Wagner. Está lá no Natyashsastra.
Este sagrado pode ser até um termo rejeitado, mas a busca por ‘tornar visível o
invisível’ de Artaud, as intensas pesquisas teatrais do século XX, decorrente do caminho
trilhado por François Delsarte, levaram os pesquisadores para o Oriente. Delsarte
exerceu uma grande influência na Europa da segunda metade do século XIX com seu
estudo da expressividade humana, que resultou na criação da dança moderna nos
Estados Unidos, via seu aluno Steele MacKaye. Sua teoria tem três princípios básicos:
corpo-alma-espírito, de onde nasciam os movimentos expressivos. Pelos desenhos
deixados em seus parcos escritos podemos ver que ele pertencia a Ordem Rosa Cruz.
O
estudo sobre Delsarte foi uma base teórica da construção da TE, e acredito que esta
busca pelo invisível possa estar nas técnicas orientais. Concretamente falando, as
técnicas indianas e balinesas trabalham minuciosamente a cintura escapular, ombros,
braços, mãos, pescoço, cabeça e olhos que são as fontes da expressividade.
Dr. Jorge Lúzio: Como pensar os conceitos de Cultura e de Representação, para se
compreender e dialogar com as artes corporais do Oriente?
Dra. Marília Vieira Soares: Culturas têm muito em comum. A mitologia é um desses
pontos que aproximam as semelhanças e diferenças, por exemplo; o mito do dilúvio está
presente em 164 culturas bem distintas e afastadas umas das outras, inclusive nossos