Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.441-458, jul./dez., 2019
patrimônio cultural, pode tornar-se fonte para o historiador à medida que resulta de uma
produção demarcada historicamente e por conta disso é capaz de expressar práticas
culturais, sociais, políticas e econômicas.
Martins (2015) complementa que as fontes para o historiador do patrimônio
cultural variam desde cartas até obras literárias, prédios a bairros inteiros, produções
isoladas a coleções completas. Abrangem as formas de expressão; os modos de criar,
fazer e viver; as obras, os objetos, os documentos, as edificações e os demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico; as
criações científicas, artísticas e tecnológicas, e necessitam ser estudadas de forma plural
nas diversas dimensões – material e imaterial. O estudo do patrimônio, por historiadores
e outros agentes, de acordo com Guimarães (2012), com suas devidas vinculações, pode
produzir narrativas acerca do passado.
A produção artística torna-se fonte para o historiador uma vez que expressa as
construções identitárias, sociais e culturais de um povo, em um determinado momento
histórico. Para Hauser (1995), a arte se expressa de forma a auxiliar no entendimento de
determinado momento histórico e permite também a compreensão das possibilidades de
rupturas e permanências, e as diversas formas de interpretar o mundo. Hauser (1995)
orienta a uma leitura da obra de arte como expressão de pensamento de uma época, não
somente em âmbito geral, mas de determinados grupos. Por meio da interpretação e da
leitura da obra de arte, podem ser reconhecidos os conflitos sociais, tais como as
tensões, as ambições e as críticas, demonstrando, com esses apontamentos, um
delineamento da história social da arte.
Caramella (1998) levanta dois principais problemas na pesquisa que envolve a arte
ou a obra de arte como objeto. O primeiro está ligado à forma canônica, regra ou lei que
é estabelecida como medida padrão, que se torna externa e independentemente do
objeto artístico, mas que irá determinar as relações de tempo-espaço da produção
artística. Com base na lógica clássica, tal cânone implica na indução como comprovação
inventariada desse argumento. O segundo problema está relacionado ao primeiro e
remete-se à produção artística como ilustração de asserções verbais, lógico-discursivas,
concebendo-a como expressão ou embalagem de uma ideia exterior, esquecendo que a
obra é sua própria ideia, portanto, representação (CARAMELLA, 1998, p. 23). No
entendimento de Caramella (1998), falar em arte ou em estilo compreende abafar e
suspender o conflito, a fissura, a contradição que a obra de arte propõe interna e
externamente, ao se colocar como um campo de forças. Pode, também, ser convertida
em narrativas acerca do passado de um determinado local ou região.