Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.496-512, jul./dez., 2019
No tocante a nossa primeira reflexão, que aborda o conceito do vocábulo “índio”,
o pesquisador Luciano (2006)
6
, compreende o conceito como um:
[...] o nome dado aos primeiros habitantes (habitantes nativos) do continente
americano, os chamados povos indígenas. Mas esta denominação é o resultado
de um mero erro náutico. O navegador italiano Cristóvão Colombo, em nome da
Coroa Espanhola, empreendeu uma viagem em 1492 partindo da Espanha rumo
às Índias, na época uma região da Ásia. Castigada por fortes tempestades, a
frota ficou à deriva por muitos dias até alcançar uma região continental que
Colombo imaginou que fossem as Índias, mas que na verdade era o continente
americano. Foi assim, que os habitantes encontrados nesse novo continente
receberam o apelido genérico de “índios” ou “indígenas”, que até hoje
conservam (LUCIANO, 2006, p. 29-30).
A análise de Luciano (2006) nos remete ao segundo aspecto de nossa primeira
reflexão, ou seja, a maneira de interpretarmos a população indígena no Brasil. Para o
autor, não podemos interpretar a população indígena como um grupo homogêneo de
pessoas, pois, de acordo com o pesquisador, pensar o indígena “significa falar de uma
diversidade de povos, habitantes, originários das terras conhecidas na atualidade como
continente americano” (LUCIANO, 2006, p. 27). E
o autor ainda afirma:
Entre os povos indígenas, são aceitos alguns critérios de auto definição, [...],
embora não sejam únicos e nem excludentes: Continuidade histórica como
sociedades pré-coloniais. Estreita vinculação com o território. Sistemas sociais,
econômicos e políticos bem definidos. Língua, cultura e crenças definidas.
Identificar-se como diferente da sociedade nacional. Vinculação ou articulação
com a rede global de povos indígenas (LUCIANO, 2006, p. 27).
Estas observações que compõem nossa primeira reflexão, nos apresentaram um
aspecto negativo da música, visto que a identificação do indígena é feita no singular, ou
seja, a canção desconsidera sua diversidade de povos. Portanto, não podemos pensar a
sociedade indígena no singular, pois são povos compostos por diversas etnias, como, por
exemplo, os Guaranis, os Caiapós, e demais povos. Assim sendo, o título musical
“Brincar de Índio”, é muito reducionista, o que compromete o entendimento da
abrangência das atividades recreativas que compõem estes povos, convertendo-as em
uma massa de dinâmicas uniforme.
Em relação ao trecho “mas sem mocinho pra me pegar”, a questão problemática
inserida nesta frase está em seu eufemismo para se referir ao europeu, noutras palavras,
há uma suavização do comportamento do europeu ao mencioná-los como “mocinho”
(que no imaginário popular traduz um conceito de herói). Essa maneira condescendente
de os considerar, desconstrói a realidade dos resultados deste “encontro” entre
6
Gersem dos Santos Luciano, é um indígena do povo Baniwa.