Introdução
Os documentários PROMISES (2001) e NEY: Nosotros, Ellos y Yo (2015)
contribuem com a discussão acerca do conflito israelo-palestino, especialmente no que
concerne às questões cujos desdobramentos aconteceram a partir da década de 1990. A
estreita relação entre ambas as produções e a questão da Palestina relaciona-se ao fato
de que os diretores são judeus e partilham de questões comuns no tocante à construção
de suas identidades. Nas duas produções cinematográficas o documentarista vai a
campo; modo de representação conhecido como participativo
. Em Promises, as imagens
captadas nas terras israelenses e palestinas são do período em que vigorou o processo
de paz iniciado com o acordo de Oslo
. Já em NEY, a maior parte das imagens refere-se
ao fim desse período, quando eclodiu a segunda Intifada
. Conforme os documentários,
Goldberg (judeu americano) e Avruj (judeu argentino) viveram fora da região do conflito,
mas o problema enfrentado por árabes e judeus naquela região tornou-se parte deles
também. É válido ressaltar que a produção de filmes documentários pode expressar os
“valores e crenças” de uma determinada comunidade através da construção ou
contestação das questões relacionadas ao pertencimento dessa comunidade no que se
refere ao tempo e ao espaço (NICHOLS, 2012, p.181-182).
O cinema se tornou, sem dúvida, um meio importante para o desenvolvimento de
estudos concernentes aos conflitos do Oriente Médio, especialmente para pesquisadores
que se encontram distantes geograficamente da região. O filme tem o potencial de
atravessar fronteiras, considerando sua difusão através dos festivais, além de agregar
diferentes significados por meio dos seus dispositivos referentes às imagens e sons. O
Segundo Nichols, nesse modo de representação os documentaristas “vivem entre os outros e falam de
sua experiência ou representam o que experimentaram”, além de reduzirem “a importância da persuasão,
para nos dar a sensação de como é estar em uma determinada situação, mas sem a noção do que é, para o
cineasta, estar lá também” (NICHOLS, 2012, p. 153).
O “acordo de Oslo” marcou o início do processo de paz e o fim da primeira Intifada (1987- 1993). No dia 11
de fevereiro de 1993, na cidade de Oslo, Noruega, a liderança árabe palestina aceitou a proposta inicial
para o estabelecimento de um acordo. O que ficou estabelecido para Israel foi a retirada das suas forças
militares – deixando o controle dos territórios adquiridos em 1967 – e que Israel acabasse com a expansão
dos assentamentos, além do reconhecimento da autoridade palestina. Já os palestinos deveriam renunciar
ao terrorismo praticado durante o período de guerra e reconhecer o direito à existência do Estado de
Israel (LODOS, 2019, p. 220).
A segunda Intifada teve início em setembro de 2000, após uma visita de Ariel Sharon à Esplanada das
Mesquitas. No ano 2000, devido às disputas políticas, o primeiro ministro de Israel, Ehud Barak, procurou
retomar o acordo que ficou paralisado após o assassinato de Isaac Rabin, primeiro ministro de Israel, em
1995. Arafat não assinou o acordo de Camp David e, segundo Pappé, por conta disso os Estados Unidos e
Israel “o castigaram de imediato, apressando em apresentá-lo como um belicista”. O autor afirma que isso
foi uma humilhação e que, somada à visita do líder israelense à Esplanada das Mesquitas, desencadeou a
segunda Intifada (PAPPÉ, 2016, p. 278).