Os panditos e os jesuítas: indícios da medicina
ayurvédica nos colégios da Companhia de
Jesus no Estado da Índia (séculos XVI - XVIII)
The Pandits and Jesuits: traces of Ayurvedic
Medicine at the Society of Jesus Colleges
in State of India (16th-18th centuries)
SOUZA, Lais Viena de
*
RESUMO: No ano de 1542, quando os
primeiros missionários jesuítas
desembarcaram em Goa, a chamada medicina
Ayurveda remontava a mais de um milênio
em sua forma escrita. Entre os séculos XVI e
XVIII, a Companhia de Jesus erigiu uma
complexa rede missionária que envolvia as
atividades educativas e catequéticas no
Oriente. Os renomados colégios abrigavam
não somente os jovens educandos, padres e
irmãos, mas também serviam como
importantes centros produtores e difusores
de saberes religiosos, botânicos,
farmacêuticos, médicos. Este artigo visa
evidenciar a presença dos dicos indianos
vaidyas, denominados pelos portugueses de
panditos, assim como dos saberes e práticas
de cura da medicina Ayurveda que
confrontaram-se e dialogaram com os
inacianos. Indícios da medicina hibridizada
registrada nos escritos jesuítas, e que
circulou através das redes do Império
Português no período moderno.
PALAVRAS-CHAVE: Ayurveda; Companhia
de Jesus; Índia (séculos XVI-XVIII).
ABSTRACT In 1542, when the first
missionaries arrived in Goa, medicine
Ayurveda dates back more than a
millennium in written form. Between the
16th and 18th centuries, the Society of Jesus
built a complex missionary mission as
educational and catechetical activities in the
East. The renowned colleges shelters not
only the young students, priests and
brothers, but also were great centers that
produce and disseminate religious,
botanical, pharmaceutical and medical
knowledge. This article aims to highlight the
presence of Indian Vaidyas doctors, called
by the Portuguese as panditos, as well as the
knowledge and healing practices of
Ayurvedic medicine that confronted and
dialogued with the Ignatians. Traces of
hybridized medicine recorded in the Jesuit
texts, which circulated through the
networks of the Portuguese Empire in the
modern age.
KEYWORDS: Ayurveda; Society of Jesus;
India (16th centuries -18th century).
Recebido em: 12/08/2019
Aprovado em: 05/11/2019
*
Doutora em História pela Universidade de Évora, cidade de Évora, Portugal. Professora EBTT do Instituto
Federal da Bahia, campus Salvador, estado da Bahia (BA), Brasil. E-mail: laisviena@ifba.edu.br
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
79
Corria o ano de 1548, e da ilha de Goa foram remetidas algumas notícias sobre as
missões no Estado da Índia para os irmãos em Portugal e em Roma. O autor da carta,
possivelmente o Pe. Henrique Henriques (1520-1600), destacou o constante conflito
entre os padres e o dico que assistia os inacianos no Cogio de São Paulo. Descreveu
o tal homem como sendo da casta dos brâmanes, reputado e considerado “grande” em
sua “lei”. O religioso relatou que era costume que ficassem em disputa por uma hora ou
mais. Contudo, o “gentio" era o obstinado - em suas palavras, “emperrado” - que em
nada cria. E, quando começava a perder nos embates, partia, “malicioso e malíssimo”,
pois não havia nele “senão toda a peçonha” (WICKI, 1948, p. 254, vol. 1).
A primeira questão que se pode aventar desse relato é sobre a presença de tal
personagem - descrito com o pesadas letras - assistindo como médico no renomado
Colégio de São Paulo. A narrativa poderia ser considerada como um dos muitos exemplos
de disputas e confrontos ordinários no processo de tentativa de conversão de
populações no Estado da Índia no período moderno. Contudo, a análise mais detalhada
sobre a documentação produzida pelos missionários da Companhia de Jesus permite
entrever a figura desses brâ
manes dicos, estudiosos e detentores dos saberes e
prescrições de cura, mais especificamente denominados de panditos em Goa
(DALGADO, 1919, V. 1, II, p. 155-156; GRACIAS, 1994, p. 153; WALKER, 2002, p. 78).
A narrativa sobre o inmito pandito e os jesuítas apresenta indagações sobre
personagens, produtos, saberes e práticas de cura. Este artigo se propõe a discutir os
embates e assimilações que envolveram os religiosos da Companhia de Jesus e o sistema
de cura hindu na Índia Portuguesa entre os séculos XVI e XVIII. O corpus documental
que fundamenta este estudo é basicamente a documentação inaciana. De tal forma, entre
o dito e o não-dito, que se revelam no discurso dos religiosos os indícios da medicina
ayurvédica e sua circulação através do Império Português (CHARTIER, 2002, p. 83-85;
CERTEAU, 2007, p. 67; FOUCAULT, 2011, p. 284).
Medicina Ayurvédica e alguns debates com a historiografia eurocêntrica
Aquando as concepções e práticas dicas hipocrático-galênicas chegaram a
bordo das naus europeias no processo de expansão e conquista comercial, confrontaram
e, por vezes, dialogaram com o sistema de teorias e práticas médicas milenares nas
culturas sob influência hinduísta na Índia, denominadas de Ayurveda. Herdeira de
tradiçõ
es orais ancestrais, a medicina ayurvédica antecedeu os escritos galênicos, com
um corpus escrito datado desde ao menos o culo V (WUJASTYK, 1998, P. 39; ROCHA
NETO, 2009; DEVEZA, 2013). Enquanto saber e prática dica, pode ser identificada em
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
80
casas de caridade e cuidados médicos no império Asoka, datados do culo XV a.C.
(WUJASTYK, 1998, p. 1-2; VALIATHAN, 2002, P. 18-24).
Seguindo a etimologia da palavra, a medicina ayurvédica pode ser compreendida
como o conjunto de conhecimentos e práticas para alcançar a longevidade (ROCHA
NETO, 2009, p. 78). A principal chave interpretativa é a teoria dos humores (tridosa-
vidya) o vento (vata), o calor (pitta) e a fleugma (kapha) , que interagem com os sete
constituintes do corpo: linfa, sangue, carne, gordura, ossos, medula e men”. Assim
como na medicina Ocidental do período moderno, para conservar a saúde, era
necessário ter moderação e prevenção, abrangendo todos os fatores da vida, “incluindo
limpeza dos dentes, dieta, exercício, regimes, moralidade” (WUJASTYK, 1998, p. 3). A
alimentação, o sono, os exercícios, o sexo e os remédios deveriam ser mantidos sempre
com “limite, racional, controlado e equilibrado (WUJASTYK, 1998, p. 4). As doenças, por
sua vez, teriam suas causas internas (humores e digestão), externas (influência do
ambiente) e mentais (“por não se ter o que se quer”) (WUJASTYK, 1998, p. 70).
A tradição ayurvédica foi consolidada em textos, como no Compendium de
Caraka (século V a.C.), dividido em 120 capítulos, que apresentou as principais
recomendações quanto a farmacologia, dietética, causas das enfermidades e terapias
(WUJASTYK, 1998, p. 41). Muitos séculos antes da chegada e conquista dos portugueses
em Goa, existiam centros de estudos avançados em diversas áreas do conhecimento,
incluindo a Medicina chamados de agraharas e brahmapuris (reservadas aos brâmanes)
(FIGUEIREDO, 1984, p. 226). Segundo o Compendium, havia mais de uma forma de
prática médica ligada à ayurvédica e ao hinduísmo: (1) sacra (ligada à ritualística e às
cerimônias hindus, com recitação de mantras e oferendas aos deuses); a (2) racional
(utilizando princípios terapêuticos na “dieta, medicinas e drogas”); e ainda uma (3) que
combinava bons pensamentos e se afastar de tudo que pudesse ser prejudicial ao
indivíduo. Sobre osdicos, afirmou que o bom e virtuoso deveria saber conciliar
conhecimentos teóricos e as práticas (WUJASTYK, 1998, p.72-73). Vale observar que os
praticantes da medicina eram denominados de vaidyas, e que o termo pandito foi a
denominação dada pelos portugueses, oriunda do termo Pandit, que em sânscrito
significa estudioso (FIGUEIREDO, 1984, p. 228).
A complexidade da Ayurveda, sumariamente apresentada acima, foi ignorada e
negada por estudos históricos sobre a Medicina do Império Português. Saltam aos olhos
algumas referências com certo teor nacionalista e, em alguns casos, ufanista, próprios do
Estado Novo Português (1933-1974). Como se faz notar no artigo de Luís de Pina (1938),
apresentado no I Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo, no qual
debateu os contributos dos portugueses para a medicina. Afirmou que, no culo XVI, a
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
81
medicina no Japão e na China eraatrasada e a praticada na Índia por hindus era
inferior à conhecida por Garcia de Orta (PINA, 1938, p. 271; 279). Pina (1938, p. 293)
concluiu afirmando que “a História Geral das Ciências e, com ela, a História da
Humanidade” não poderia ser escrita “sem consultar os livros e documentos" nos quais
"os Portugueses escreveram com tinta perenemente luminosa, a História da sua
Expansão pelas cinco partes do Mundo”.
Em artigo intitulado História da assistência ao indígena no Ultramar Português”,
José de Jesus Coelho do Vale (1954, p. 2252) dividiu os contributos portugueses para a
medicina em fases. Sobre o primeiro período, chamado pelo autor de período das
Descobertas, apontou a política ultramarina portuguesa como caracterizada pela
“valorização do indígena como agente de progresso político, e a sua nacionalização”, e
declarou que “a assistência sob todas as formas lhes tem sido prestada, constituiu
sempre uma das mais altas preocupações da política ultramarina portuguesa”. O autor
enalteceu a ação dos missionários como “um instrumento perfeito da política de
cooperação racial”.
O autor denominou o segundo período de “Império Oriental e o caracterizou
pelas relações “pacíficas”, nas quais os indianos se aliaram aos portugueses e eram
tratados humanamentee que muitos foram “cristianizados e cruzaram-se livremente".
Enalteceu, novamente, a ação dos missionários “que chegaram mesmo às regiões aonde
não chegou a nossa ocupação política e militar, e assim contribuíram para a civilização,
cristianização e assistência dos povos da Índia, Indochina, Insulíndia, China, Coreia,
Japão e Abissínia” e Timor (VALE, 1954, p. 2253).
Nesta mesma linha, Fernando Alves Rodrigues Nogueira (1962, p. 3) escreveu
sobre a medicina, na Índia, no contexto da descolonização tardia, na cada de 60. Logo
no primeiro capítulo, afirmou que “os povos de cor levantaram-se contra o Ocidente e
colocam os brancos na cadeira dos us, sob a acusação de colonialismo, de exploração,
de tirania”, esquecendo-se que a “maré da civilização europeia alastrou pela África, pela
Ásia, pela Oceania, reconstruiu ou fez do nada a Am
érica”. No campo médico, acusou os
três continentes de copiarem e adotarem a “civilização europeia”, pois, utilizavam “os
remédios que ela descobriu, aprendem a ciência nascida e desenvolvida na Europa”.
Nogueira (1962, p. 5) afirmou que o proselitismo religioso e a medicina foram os
grandes contributos dos europeus no mundo. Especificamente sobre a Índia, declarou
que os portugueses lançaram “as primeiras sementes da ciência europeia” e da Medicina
e colocaram “um velho mundo, sob esse aspecto mais atrasado e muito menos
evolutivo[...] em contato com os fundamentos e com os progressos dessa grandiosa
edificação que é a Medicina científica europeia”. Mencionou S. Francisco Xavier,
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
82
atribuindo-lhe a afirmação de que era a Índia “um charco de peste” e enumerou os
grandes feitos portugueses como a fundação de hospitais em 17 cidades da Índia,
enfermarias, postos de socorro. Destacou especialmente o Hospital Del-Rei, em Goa,
que, segundo o autor, abrigava de 1500 a 3000 doentes locais e europeus.
Os artigos acima mencionados evidenciam a narrativa da História que se cumpre
nacionalista. A premissa básica deste artigo, e da tese da qual se originou, busca
ultrapassar o crivo de nação e nacionalismo, assim como a centralidade do Ocidente e da
Europa como fundamentos para a constituição do conhecimento histórico (SOUZA,
2018). Ideias que confluem com os debates propostos por Sanjay Subrahmanyam (2012,
p. 33-64) para as constantes delimitações anacrônicas e restritivas de nação para o
estudo do período moderno, principalmente no que toca a Índia e o Oriente. E também
convergem com as problematizações de Serge Gruzinski (2014, p. 41-45) na negativa
teórica e metodológica do eurocentrismo, passando a considerar as muitas formas de
mestiçagens e de circularidade de saberes, produzidos e interpretados pelos povos locais
e europeus, assim como a multiplicidade de centralidades entre Europa, Ásia, América e
África.
Importa destacar que, na produção historiográfica recente sobre o Império
Português, e notadamente nos campos temáticos da assistência e da área da medicina,
notáveis pesquisas que buscam ultrapassar a narrativa eurocêntrica, privilegiando a
abordagem da circulação de produtos e saberes (COSTA e LEITÃO, 2009, p. 43-53;
WALKER, 2009, p. 270). Os estudos de John M. De Figueiredo (1984) e Timothy Walker
(2002) sobre o uso da medicina ayurvédica em instituições médicas em Goa entre
meados do século XVII e princípios do século XVIII introduziram as reflexões sobre as
quais esse artigo se dedica.
A partir de relatos, decretos e correspondências entre a Coroa e o governo do
Estado da Índia, os autores destacaram a presença de médicos e funcionários indianos (e
mestiços) e de medicamentos do repertório asiático em hospitais, farmácias e
enfermarias. Não se pode olvidar que havia ainda a presença e circulação de elementos
da medicina de influência islâmica, judaica, chinesa e japonesa através da Índia
Portuguesa e das redes do Império Português. Para este artigo, mostra-se fulcral
compreender os indícios desses saberes, práticas e produtos, o que Walker (2011, p. 23-
24; 2002, p. 75) denominou por “medicina híbrida”.
Os panditos na Índia Portuguesa
Desde os primeiros anos de conquista e estabelecimento do Império Português
nas Índias, se fazem notar os contatos entre os repertórios da medicina ocidental e a
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
83
Ayurveda, e a menção aos físicos indianos. John M. De Figueiredo (1984, p. 228) destacou
que o governador Martim Afonso de Sousa (1500-1571) recomendou que os médicos
indianos e portugueses examinassem vitimas do surto de cólera em 1543. Relatou ainda
os elogios de Gaspar Correia (1495-1561) aos panditos e seus modos de curar enfermos.
Notável a esse respeito, o dico Garcia de Orta (1501-1568) registrou em seus
colóquios os saberes e usos terapêuticos não-ocidentais sobre mezinhas simples e
compostas. Além de informar aos leitores sobre a origem do produto medicinal, a
diferenciação da nomenclatura nas mais diversas partes do Oriente, o físico criso-novo
apontou as utilidades para apaziguar sintomas e a cura atribuída a febres e câmaras.
Notadamente sobre a medicina ayurvédica, destacou os produtos indianos, sua
nomenclatura nas partes de Guzerate, entre os canarins e em Goa, e apontou os
conhecimentos recebidos dos físicos indianos, e boticários (chamados de guandis).
Destacou em seus diálogos os saberes passados diretamente pelo físico hindu Malupaa
(ORTA, 1563, p. 1, 206-207; BOXER, 1963, p. 15).
A abundante produção documental da Companhia de Jesus também fez registrar a
presença dos físicos indianos ainda nas primeiras décadas do estabelecimento da Ordem
no Oriente. Em princípios do culo XVII, Pe. Sebastião Gonçalves (1557-1619) apontou a
presença dos panditos ou dicos “dos quais a Índia está bem povoada”. Relatou que
estes eram formados em medicina nas universidades e que curavam com mezinhas
“simples, muito doutra maneira que os nossos físicos” (GONÇALVES, 1957, p. 67). No
terceiro livro sobre a vida do Pe. Francisco Xavier, Pe. Sebastião Gonçalves apresentou
argumentos atribuídos ao “beato padre sobre a enganação dos brâmanes e suas curas
na Costa da Pescaria. Comparou o comportamento dos brâmanes que, visitando o
enfermo, não procuravam aliviá-lo, antes “consolar a si”, pedindo ofertas de “faes"
(pequenas moedas) "ao pagode, tanto sândalo, tantos carneiros e que logo receberá
saúde”. Por sua vez, afirmou que os padres cuidavam que os cristãos examinassem a
consciência, confessassem os pecados. E, “por que Deus muitas vezes castiga nossas
culpas com doenças”, acontece de, por vezes, o doente arrependido recobrar a saúde
sem “remédios humanosatravés da vontade divina (GONÇALVES, 1957, p. 273).
O visitador Pe. Alessandro Valignano (1539-1606) relacionou os panditos à casta
dos brâmanes, e de forma claramente pejorativa, os qualificou como de “pouco
entendimento e sem qualquer tipo de ci
ência, especialmente nas coisas de após a morte.
Afirmou que todo o seu entendimento estava posto em coisas de comer e da terra e
destacou que alguns tinham conhecimentos em Medicina e Astrologia: “sabem tanto
sobre eclipses como s”. De modo geral, sabiam “escrever e compor seus livros de
histórias e canções em prosa e verso”. Por fim, concluiu que, comparados aos europeus,
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
84
eram “vis e baixos, ainda que homens racionais, que se sabem governar e reger bem a
seu modo” (VALIGNANO, 1944, p. 30).
Cronistas estrangeiros também fizeram notar a medicina ayurvédica e sua
presença na Goa portuguesa entre fins do século XVI e princípios do século XVII. No
sistema de castas da cosmogonia hindu, os panditos eram brâmanes e estavam no topo
da hierarquia cultural e social. O neerlandês Jan Huygen van Linschoten (1563-1611) (1599,
p. 46) fez representar os brâmanes em uma litogravura (Imagem 1), e, em seu texto
informativo os descreveu como a casta ligada às funções religiosas. Contudo, destacou
que não eram todos sacerdotes, e que, em Goa, os brâmanes possuíam boticas com
grande variedade de produtos medicinais.
Imagem 1. Brâmane representado por Linschoten (1599).
Fonte: LINSCHOTEN, 1599.
O francês François Pyrard (1570-1621), outro estrangeiro que passou pelo Oriente
e registrou suas impressões, descreveu os brâmanes como “mestres e superiores entre
os idólatras”, “gente industriosa em Astrologia e outras ciências, “mui espertos em tudo,
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
85
e mui destros (PYRARD, 1944, vol. 2, p. 32-33). Elogiosamente, declarou ser “gente
meiga, pacífica, e que guarda inviolavelmente sua e palavra” e afirmou que esta boa
reputação era semelhante à de eclesiásticos, filósofos e doutores europeus. Relatou,
ainda, que, em Goa, exerciam “a medicina e a farmácia ao modo dos portugueses e da
Europa” (PYRARD, 1944, vol. 1, 277).
Pyrard (1944, vol. 1, p. 293), em sua descrição sobre Calecute, em fins do século
XVI, apontou, sumariamente, a prática de medicina pelos “feiticeiros”, afirmando que não
havia naquelas partes outras “mezinhas nem outros remédios além da feitiçaria. Narrou
que tanto gentios quanto mouros tinham por costume consultar feiticeiros e
adivinhadores para saber a sorte. Segundo o francês, esses feiticeiros “se ataviam como
verdadeiros diabos e de noite vão visitar os enfermos, levando fogo na boca, nas
orelhas, nos pés e nas mãos; cobertos todos de pelo postiço e uma infinidade de
campainhas, que fazem uma estranha e horrível bulha”. Além disso, faziam parte do
ritual, “diversos gestos, mormices e superstições, ofertas e promessas ao diabo em
presença dos enfermos, que com isso se hão por muito aliviados”.
A partir de meados do século XVI, houve um recrudescimento na perseguição das
gentilidades na Índia Portuguesa (TAVARES, 2002, p. 148-214; XAVIER, 2008, p. 131). Pe.
Pedro de Almeida, em carta enviada no ano de 1558, de Goa, noticiou aos padres e irmãos
de Portugal a proibição e o impedimento às práticas gentílicas naquelas partes. De início,
indicou o crescimento da cristandade no período do governo de Pe. Dom Gonçalo com o
auxílio do Pe. Francisco Rodriguez para a execão das provisões e privilégios de forma
que “nenhum gentio servisse ofício nenhum da república e que todos os servissem os
cristãos” e, ainda, que as rendas reais, antes de gentios, passassem somente aos cristãos.
Além disso, fizeram cumprir “as penas e castigos” no impedimento das cerimônias
públicas e “ocultas (WICKI, 1956, vol. 4, p. 204-205).
O padre relatou que não mais eram permitidos seus casamentos (com suas
“invocações diabólicas e lavatórios”), suas festas (como as oferecidas em devoção a
“Ganesa, Vinachoti e Vinaico” e nos pagodes), apreendeu-se livros “de suas falsidades e
fábulas de seus deuses”. Foi ordenada a prisão do dono deles e o enviaram para a casa
dos cativos por quatro meses. Pena mais severa recebeu um gentio com fama de “grande
feiticeiro”. O jesuíta narrou que havia circulado a notícia de que o acusado possuía mais
de “500 elefantes fantásticos”. Ao chegarem a sua casa foram encontrados 12 de metais
e de pedra. O suposto bruxo foi preso e enviado ao vigário geral. Como pena, foi
sentenciado a perder toda a sua fazenda (renda), degredado para as galés e obrigado a
permanecer com a carocha (mitra própria dos condenados pela Inquisição) “para
exemplo dos que fizerem o semelhante” (WICKI, 1956, vol. 4, p. 204-205).
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
86
Pe. Me. Belchior Nunes Barreto escreveu da Índia em 1559 sobre algumas notícias
da “limpeza da fé” e o combate às gentilidades, “cerimônias judaicas”, blasfêmias e
heresias que, com o empenho da Inquisição, se fazia em Goa. O padre advertiu que a
largueza da terra e a mistura de cristãos, mouros, judeus e gentios alargava as
“contingências das gentes”. Elogiou, ainda, o rigor do Pe. Dom Gonçalo e rechaçou a
acusação de que o estabelecimento da Inquisição afugentaria a muitos para as partes dos
mouros “e se forem alguns hereges melhor é que andara entre nós e contaminara até dos
bons cristãos” (ACL, Ms. Azul, 12: Cartas dos Padres da Companhia de Jesus ([s.d.]), 113).
Pe. João Batista de Ribera, em missiva do ano de 1565, informou sobre a
permanência de ritos e costumes gentílicos em Goa. Em suas descrições, declarou que a
cidade era “mui alegre e aprazível”, com ruas e edifícios “no modo moderno”. Os cristãos
(portugueses e “naturais”) viviam juntamente com muitos gentios, mouros e brâmanes
“que estavam em seus ritos e cegueiras, ainda que proibido em público e em segredo,
quanto ao uso de suas superstições e idolatrias”. Afirmou, ainda, que, caso fossem
descobertos, ou “levavam suas vidas” ou se convertiam ao catolicismo (WICKI, 1960, vol.
6, p. 543).
Pe. Alessando Valignano (1944), no “Regimento pera os padres que estão nas
Costas de Travancor e Pescaria (1575)”, instruiu sobre os perigos da conservação de
ritos e cerimônias gentílicas, recomendando que fossem feitas investigações para que
não se permitisse construir pagodes, que não se façam “nem feitiços, nem agouros”, não
houvessem adivinhadores, encantadores de peixe, feiticeiros, que se buscasse mudar os
costumes, como as bebedeiras, os divórcios, os amancebamentos. Era expressamente
necessário que sempre se inquirisse “se os mestres dos lugares curam com feitiços e
agouros” e se havia “casa de alcove ou alcoviteiras” (WICKI, 1970, vol. 11, p. 16-17).
Observa-se assim a acusação dos religiosos de que a medicina ayurvédica era uma das
faces da gentilidade hindu.
Essa concepção foi evidenciada em manuscrito datado do século XVIII, no qual o
clérigo João Jacques da Cunha escreveu duras críticas sobre a relação entre a Medicina e
a Magia segundo os preceitos brâmanes. Referendado nas epístolas de S. Francisco
Xavier, acusou-os de serem “os piores, e mais perversos de todos os índios,
fraudulentos, falsários, e mentirosos, ainda se jactam de mais ilustres e nobres da Índia”.
Comparou-os a feiticeiros que viviam de enganar os homens, pois diziam aos gentios que
os deuses ficavam irados quando não lhes faziam ofertas as quais, na verdade, os
brâmanes tomavam para si. Ameaçavam o povo de que, se não fizessem o que diziam,
iriam “pagar com mortandade, doenças e incursões de Demônios” que metiam “nos
corpos, e casas dos gentios e Idólatras” (BA: 49-II-9). Desse modo, os “Brâmanes na Ásia
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
87
uniram a sua Ciência gica com a médica, para que o que não podia alcançar a
medicina conjecturando, suprisse a Magia adivinhando”, com o que concluiu o autor que
a medicina dos brâmanes nada mais era que magia, que “aprend[iam] e exercita[vam]
tendo por mestre dela ao maldito Demônio (BA: 49-II-9).
No tocante à associação entre a medicina Ayurveda e o hinduísmo, Figueiredo
(1984, p. 230) apontou que, com a intensificação do processo de cristianização em Goa, a
postura das autoridades religiosas e as governanças se tornou cada vez menos tolerante
aos praticantes da medicina de base ayurvédica. No Concílio de Goa em 1618, por
exemplo, foi determinado que ninguém, seja qual fosse a religião, grupo social ou
nacionalidade pudesse exercer a medicina ou a cirurgia sem antes ser examinado e
certificado pelo Físico-Mor ou Cirurgião-Mor, com pena de pagamento de 20 pardaus se
for identificado sem a devida certificação. A Câmara determinou ainda que não excederia
o número total de 30 indivíduos com a referida licença em Goa.
Em que pese a desconfiança e/ou ostensiva perseguição aos panditos no século
XVII, a documentação composta pelos missionários da Companhia de Jesus revela a
presença dos panditos em seus colégios no século XVI, e podem ser identificados
indícios da medicina ayurvédica nas prateleiras das boticas no século XVIII. Assim,
mostra-se necessário indagar sobre a construção de
saberes sobre cura através do
Império Português, muitas vezes, na apropriação de produtos medicinais das culturas
dos povos nativos. Sobre práticas que pudessem ser hibridizadas nos colégios
(tomando de empréstimo a expressão de Timothy Walker), relatos menos
pormenorizados sobre banhos e mezinhas, mas igualmente relevantes.
Os panditos, os banhos e a Mirigânga
Através do Padroado, a Companhia de Jesus erigiu uma série de instituições
(missões, casas, colégios, seminários, hospitais, etc.) pelos mais diversos territórios do
Oriente (OMALLEY, 2004, p. 372; BOXER, 2007, p. 97-106)
1
. Os colégios eram
importantes centros de formação de missionários e, também, pontos estratégicos para
os missionários em trânsito (ALDEN, 1996, p. 75). Os exemplos a esse respeito são
numerosos. Observa-se que, neste sentido, serviam como uma espécie de hospedaria
“casa onde se agasalham os hospedes, estrangeiros e peregrinos” (BLUTEAU, 1712, vol. 4,
1
Além do citado Colégio de São Paulo, apenas na Província de Goa podem ser relacionados as seguintes
instituições e seus anos de fundação: Seminário de Santa de Goa (1542); Colégio de Jesus de Baçaim
(1548); Colégio de Santo Inácio de Rachol (1574); Seminário de Rachol (desconhecido); Colégio das Onze
Mil Virgens de Damão (1581); Colégio da Madre de Deus de Taná (1599); Seminário de Taná (1551); Colégio
do Espírito Santo de Diu (1601); Colégio de São Pedro e São Paulo de Chaul (1611); Colégio da Ascensão de
Moçambique (1613); Colégio de Nossa Senhora de Agra (1630); Escola de Bandorá (1576) (MANSO, 2003).
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
88
p. 64). Notadamente, esta foi a configuração primordial dos colégios nos primeiros
tempos de fundação da Companhia de Jesus (OMALLEY, 2004, p. 544). Em um primeiro
momento, entre 1540 e 1547, atendiam à necessidade de acomodar e servir como
dormitórios para os candidatos da Ordem nas principais cidades universitárias
europeias. A configuração educativa se mostrou a posteriori, atendendo à necessidade
de formação dos ingressos nas Casas Professas e na aceitação da missão com crianças e
jovens (ALDEN, 1996, p. 16-18).
Segundo O’Malley (1996, p. 323), “os colégios tornaram-se os centros principais
para todos os ministérios jesuítas”. O Colégio de São Paulo contabilizou um número
extraordinário de estudantes para o padrão da época, atendendo a cerca de 2000
estudantes entre 1556 e 1607 (O`MALLEY, 1996, p. 45). Entre os anos de 1555 e 1556,
segundo apontado no Rol dos moços que no collegio de Goa doutrinados por os
padres, conviviam, em suas classes, portugueses, castiços, mestiços, malabares,
canarins, bengalas, pegus, cafres, guzarates, armênios e mouros (ACL, Ms Azul, 11:
Cartas do Japão ([s.d.]), f. 337).
A cidade de Goa era a principal via de comunicação comercial marítima para os
portugueses no Oriente, rota tamm utilizada pelos inacianos em suas viagens
missionárias (MANSO, 2009, p. 70-73; PEARSON, 2010, p. 105-107). De Goa, partia-se
para as outras províncias na imensidão do Oriente e, desde o ano de 1552, os
missionários se encontravam “repartidos por diversas partes e visitavam o Colégio de
São Paulo para tratar de negócios importantes ao serviço das almas” (GONÇALVES,
1957, p. 380). No rol dos gastos do colégio, procedido pelo visitador Pe. Alessandro
Valignano, no ano de 1586, foi informado que “todas as pessoas da Companhia que vão e
vem de diversas partes da Província” eram acolhidas. Na chegada com as naus do Reino,
alguns missionários residiam por quatro a seis meses para que viessem as monções e
pudessem partir para as suas missões de destino (WICKI, 1979, vol. 14, p. 470).
Os colégios da Companhia, de modo geral, eram instituições complexas que
envolviam em sua estrutura mais do que apenas o necessário para as atividades de
ensino, mas também os cômodos para a residência de padres, irmãos e alunos, assim
como para agasalhar os hóspedes e assistir os enfermos e convalescentes. Pe. Matteo
Ricci (1552-1610) escreveu que, no ano de 1580, o embaixador Abdullah Khân da corte do
imperador mongol Akbar (1542-1605) visitou Goa e foi recebido pelo vice-Rei D. Luís de
Ataíde (1517-1581) e a fidalguia da cidade. Nesta ocasião, esteve no Colégio de o Paulo
sendo recepcionado pelo provincial Pe. Ruy Vicente com uma “grande festa” para
mostrar a igreja e todo o edifício. Por esta altura, estavam concluídas todas as suas
oficinas: “a livraria, a botica, enfermaria, noviciado, horta, atafona, ao refeitório onde lhe
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
89
deram muito bem de merendar". Toda a estrutura, segundo o inaciano, “pasmou [a] alma”
do embaixador, que “disse que aquele colégio era uma cidade pequena, e agradeceu
muito aos Padres o agasalhado” (WICKI, 1970, vol. 11, p. 840).
Como uma “pequena cidade”, os colégios seguiam um conjunto de
recomendações e normas, comuns às mais diversas províncias. A rmula do Instituto
(1a. Edição 1539) e as Constituições (1A. Edição 1552) consolidam o noster modus
procedendi ("nosso modo de proceder”) das missões iniciadas desde a Europa, África,
América e Ásia (O’MALLEY, 2004,p. 21-24). Contudo, como destacou Ines G. Županov
(2010, p. 126-131), os inacianos na Ásia adotaram desde os primeiros anos a acomodação
como método de catequização. Isso envolvia a convivência e o reconhecimento sobre a
eficiência dos panditos na cura de determinadas enfermidades, e até mesmo a aceitação
da mestiçagem entre modos não-europeus pelos religiosos, e moderada tolerância a
certas práticas culturais que não fossem consideradas supersticiosas.
No tocante à assistência e práticas de cura, vale destacar o espaço da Enfermaria.
De modo semelhante à acepção atual, a enfermaria era o local destinado à cura dos
enfermos nos hospitais e conventos (BLUTEAU, 1713, vol. 3, p. 108). Pe. Gaspar Dias, em
1567, descreveu que, no andar de cima, na parte norte do Colégio de São Paulo, estava
“uma formosa enfermaria e muito grande e fresca (WICKI, 1962, vol. 7, p. 299). As
orientações para o cuidado com os enfermos seguia preceitos comuns aos dos hospitais
em Portugal no período moderno (SOUZA, 2018, p. 243). Nas Regras do Colégio de Goa
(1552) foram determinadas as tarefas cotidianas da enfermaria: logo pela manhã, os
irmãos visitariam os enfermos e se informariam para “dar conta ao físico e tudo o que
fosse ordenado por este oficial deveria ser cumprido com “diligência”. Estava ao seu
encargo avisar ao cozinheiro as ordens médicas para a dieta do enfermo e todas as
orientações terapêuticas deveriam ser escritas e ordenadas “para que não erre nas
coisas que são necessárias para sua saú d e”. A limpeza deveria ser sempre mantida, de
forma que “não cause fastio ao enfermo” e, ainda, zelariam pelas roupas dos enfermos,
guardadas em uma arca e caso perdessem algo receberiam penitência do “mestre de
casa” (WICKI, 1950, vol. 2, p. 354-355).
No que particularmente interessa a este artigo, vale destacar os relatos sobre a
presença e necessidade de físicos nos colégios. No ano de 1586, Pe. Alessandro Valignano
remeteu uma petição ao Geral da Ordem, Pe. Claudio Acquaviva, solicitando o envio de
“algum padre que soubesse de medicina” para a Província da Índia, especialmente, para o
Japão. A razão para tal solicitação era o constante número de enfermos e a ausência de
dicos de forma que “muitos morrem por falta de quem os saiba curar”. Isto afetava até
mesmo os vice-reis que, segundo o inaciano, apenas contavam com cirurgiões cristãos-
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
90
novos pouco confiáveis, a seu serviço. Muitas vezes, a governança de Goa e seus
cidadãos solicitaram à Coroa que enviasse dicos, afirmou o visitador (WICKI, 1979,
vol. 14, p. 294).
Pe. Alessandro Valignano apontou os motivos para a dificuldade de envio de
físicos do Reino, em primeiro lugar, por considerar que, em Portugal, a medicina não
apresentava tanto prestígio como na Itália, o que justificava o fato de muitos licenciados
serem cristãos-novos (WICKI, 1979, vol. 14, p. 294). A influência judaica e a presença de
cristãos-novos na cultura dica portuguesa no período moderno foi discutida por gia
Bellini (2016, p. 90-95). A autora identificou a preeminênciadesse grupo “tanto com a
'medicina letrada quanto com a prática dica junto à população'”. Contudo, desde fins
do culo XV, concomitantemente ao processo de perseguição aos judeus na Península
Ibérica e à instalação do Tribunal da Inquisição, houve um processo cada vez mais
abrangente de expurgação, na sociedade portuguesa como um todo e, particularmente,
na área m
édica, a migração de oficiais e intelectuais.
A segunda explicação apontada pelo Pe. Alessandro Valignano foi a de que os que
eram bons dicos não queriam partir para o Oriente e aqueles que para iam apenas
almejavam juntar riquezas. Pelo exposto, desejava o padre que fossem enviados dicos
de virtude, que pudessem servir em Goa e no Jao. Nessa última parte, justificou a
necessidade, pois, mesmo que a missão nessas ilhas ainda fosse diminuta, não tardaria
que as enfermidades crescessem conforme o número de missionários “e os dicos
japoneses curavam ao seu modo, que [é] de todo muito contrário ao nosso” (WICKI, 1979,
vol. 14, p. 295-295). Essa crítica ao modo de praticar medicina pelos japoneses é um
indício da suspeita sobre práticas de cura não-europeias.
Agastamento, que se pode aventar, era alargado aos panditos. Além do relato de
desagrado do Pe. Henrique Henriques no ano de 1548 que abriu este artigo, ainda
outros registros sobre a presença de panditos no Colégio de São Paulo. A documentação
revela conflitos, e que, apesar da declarada desconfiança, havia ainda os que recorriam
aos físicos (médicos) locais para curar enfermidades que os m
édicos portugueses
desconheciam. Como por exemplo, em 1565, Pe. Francisco Lopez informou sobre “a
passagem do Pe. Josepho Ribeirodeste vale de lágrimas para a pátria celestial”. A causa
atribuída foi uma grave doença na o esquerda semelhante à impigem achaque
cutâneo”, segundo Bluteau (1713, p. 63)
que cresceu de tal maneira que o padre o
sentia as partes da carne do braço. Buscando curar-se, partiu de Cochin para o Colégio
de Goa e procurou, com “toda diligência que pôde por os meios da obediência”, a cura.
Consultou os dicos portugueses, que “não entenderam a doença”. Chamou-se, então,
um “físico cristão da terra, homem experimentado em muitas curas” que lhe aplicou
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
91
algumas ervas que, de tanta força”, acabaram por provocar chagas ainda piores. Em
apenas nove dias o padre veio a falecer (WICKI, 1960, p. 415).
Em 1579, Pe. Ruy Vicente escreveu suas dúvidas sobre a competência com os
dicos da terra. Afirmou que não havia alguém a quem pudessem entregar “a saúde e a
vida dos irmãos com a devida confiança”. Elogiou a caridade do Ir. João Batista de
Loffreda que, com seu ministério, realizava muitas curas no colégio e também no
Hospital dos Pobres da Terra. Sobre o dico que curava no hospital antes do irmão,
afirmou que era “homem sem letras”, razão pela qual padeciam muitos[...] e graves
incômodos (WICKI, 1970, vol. 11, p. 707). Observa-se que os relatos confluem à
desconfiança com os panditos, e não foram encontrados relatos detalhados das práticas
de cura e/ou conservação da saúde relacionadas à medicina ayurvédica. Há, contudo,
indícios de práticas, e narrativas sobre o uso do repertório de saberes e produtos
médicos.
Pe. Jeronimo Lobo (1596-1678) relatou sua chegada a bordo da Nau Nossa Senhora
de Belém e as boas-vindas recebidas no colégio. O inaciano narrou a acolhida pelos
padres e irmãos na qual recebeu um lavatório (banho) em uma grande tina com água
quente cheirosa. Em sua opinião, o asseio veio em boa hora, em razão da “imundícia,
breu, pez e toda a ventura que do mar e nau colhemos”. Ponderou que apenas a
lavagem seria insuficiente para laar fora toda a sujidade e maresia da longa navegação.
Concluiu que havia saído da bacia “mudado de pés e cabeça”, e quase que com nova pele
em razão da quentura da água (LOBO, 1971, p. 213).
Não haveria nada para se estranhar no relato do padre, afinal, a higiene e a
limpeza de si e da casa eram consideradas necessárias para a “saúde & edificação”,
prescritas nas Regras da Companhia (RIBEIRO, 1582, p. 19). Contudo, a explicação dada
pelo inaciano para o banho não foi em resposta às orientações da Ordem sobre o cuidado
do corpo. Escrevendo este relato cerca de uma década após este episódio, afirmou que
tal prática era própria da “gente da Índia que “se preza[va] de muito limpa” (LOBO, 1971,
p. 213).
O banho possuía valor terapêutico atribuído no corpus hipocrático-galênico e,
também, no milenar sistema ayurvédico. Vale notar que, embora com algumas variações,
ambos os sistemas de compreensão e explicação do funcionamento do corpo estão
relacionados à teoria humoral. Dentre outras coisas, o equilíbrio dos humores poderia
ser alcançado através da moderação e da sanidade da alimentação, dos ares, do
descanso, das atividades físicas e, no que destacadamente interessa, do banho. Neste
sentido, compreende-se a indicação clara e expressa sobre o asseio dos enfermos e os
banhos nos Hospitais e tratados médicos na Península Ibérica (CONRAD, 1998, p. 11-70;
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
92
LINDEMANN, 2002, p. 9-13). Assim como, as ideias registradas séculos antes no
Compêndio de Caraka, no qual o banho foi listado dentre as terapias externas indicadas
para reequilibrar os humores e afastar as doenças (WUJASTYK, 1998, p. 73).
Importa assinalar, ainda, que a menção às “águas cheirosas” não era fortuita. Os
bons cheiros e aromas seriam um dos meios para se afastar o fétido e o putrefato, sinais
iminentes da peste (VIGARELLO, 2001, p. 26, 45; LINDEMANN, 2002, p. 179). Nos relatos
coligidos, não foram encontrados registros sobre a composição para a aromatização do
lavatório apenas mencionando o uso de ervas (WICKI, 1956, vol. 4, P. 263). Sabidamente,
a medicina ocidental moderna foi influenciada por um amplo repertório de produtos não
europeus (e seus usos) com reconhecidas propriedades medicinais. As ervas aromáticas
faziam parte do repertório das especiarias comercializadas através do Oriente e com
grande prestígio e uso no Ocidente (GRUZINSKI, 2014, p. 247-270; ŽUPANOV e XAVIER,
2014, p. 511-548).
O lavatório com águas cheirosas apresenta significados mais profundos no
entrecruzamento das concepções de pureza e limpeza cristãs e hindus. Para o
Cristianismo, o sacramento do batismo era signo da regeneração do pecado original e de
suma relevância teológica e pragmática pós-Trento (DELUMEAU, 2003, vol. 1, p. 467-
469). Pe. Gonçalo Fernandes Trancoso (1515? 1541? 1596?), em seu trabalho de
tradução de textos canônicos em sânscrito, indicou o banho como parte dos rituais de
purificação e cura no Hinduísmo (TRANCOSO, 1973, p. 228, 240, 263-264, 271). As ideias
sobre pureza e limpeza eram particularmente importantes na estrutura de castas da
sociedade indiana (SMITH, 2007, p. 22-23). Embora Cochim, Goa e outras cidades do
Estado da Índia estivessem sob o governo do Império Português e sob o domínio
religioso da Igreja de Roma, não se pode olvidar a sobrevivência de práticas e ideias
consideradas gentílicas.
É interessante destacar o relato do Pe. Pedro Almeida sobre a cerimônia realizada
no dia da Transfiguração do Senhor, em 6 de agosto de 1558, e as práticas gentílicas.
Segundo o inaciano, havia um “grande lavatório e festa na água do rio Sapatunato” (em
terra firme, em frente à ilha de Divar). Ajuntava grande multidão de gentios, “diversos
sacerdotes dos ídolos, muitos jogues e ermitões seus de diversas seitas e costumes, todo
o gênero de pregadores gentílicos que lavam os homens, com as invocações e
cerimônias”, somando, por vezes, mais de 30 mil gentios. Tal procura se dava pela crença
de que aquelas águas eram consideradas santas “por sinais que antigamente o demônio
nelas mostrou” e por se acreditar que sendo ali lavados estariam absolvidos de todos os
pecados. Naquele ano, narrou o Padre, ele e outros religiosos, com a ajuda do
Governador, conseguiram fazer com que não passassem muitas embarcações para a dita
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
93
margem do rio. Eles, os cristãos, tentaram chegar ao local da cerimônia e foram
impedidos pelas pedradas lançadas pelos gentios de terra firme. “Prazerá a N. Senhor”,
concluiu o inaciano sobre esse relato, “que o impedimento que este ano se lhe pôs será
princípio para mais não passarem, ou ao menos para daqui adiante se lhe impedir”
(XAVIER, 2008, p. 114-323; MANSO, 2009, p. 176-196; FARIA, 2013, p. 57-72).
Certos ritos e costumes como o uso da linha brâmane, a atrição corporal com
sândalo e os banhos rituais foram adaptados e acomodados. Notavelmente, foram
defendidos pelo Pe. Roberto de Nobili (1577-1656), em princípios do século XVII
(TAVARES, 2002, p. 138). O método da acomodação como estratégia para conversão dos
povos possibilitava uma abertura (com as devidas ressalvas) a modos não-europeus e
não-cristãos (ŽUPANOV, 2010).
No período moderno, as práticas de cura se confundiam e se mesclavam, em
grande medida, com magia e concepções religiosas, havendo, contudo, a preocupação em
identificar, expurgar e combater o que poderia ser considerado gentilidade (THOMAS,
1991, p. 155-234; WALKER, 2013; COUDERT, 2011, p. 25-43). Deste modo, foram
proibidos banhos coletivos nas festividades hindus em que cristãos velhos, por vezes,
participavam, assim como cerimônias e superstições para recobrar a saúde (WICKI, 1972,
vol. 12, p. 225; MANSO, 2009, p. 181).
De Macau a Coimbra, os principais colégios da Companhia de Jesus possuíam
boticas com a produção de uma grande sorte de mezinhas, com compostos e simples,
muitas vezes, utilizando elementos da farmacopeia local (ALDEN, 1996, p. 337-338;
ŽUPANOV, 2002). Algumas destas medicinas viriam a ser registradas na Collecção de
varias receitas (1766), conforme apontou Patrícia A. Maia (2012). Em suas análises, a
autora destacou a importância da botica do Colégio de São Paulo e sua comunicação com
a rede de instituições da Companhia de Jesus (MAIA, 2012, p. 96-108). Da botica de Goa,
algumas mezinhas alcançaram grande renome, como a Pedra Cordeal do Irmão Gaspar
Antonio e a Mirigânga (SOUZA, 2018, p. 145-147).
Doutor Joseph Rodrigues de Abreu (1682-1747) descreveu a Mirigânga como uma
“pedra composta de vários metais” (1739, p. 155). A mezinha foi indicada como de origem
asiática, e sua formulação apresentava elementos como “aço, calaim, chumbo, cobre,
estanho, ouro, prata e talco” e também “âmbar, almíscar, pedra Bazar” (ABREU, 1739, p.
155). Ao longo de sua volumosa obra, o mencionado fidalgo, cavaleiro da Ordem de
Cristo, familiar do Santo Ocio e dico real apresentou um extenso repertório de
remédios para conservar a saúde e cuidar dos enfermos. Não haveria nada incomum na
descrição da Mirigânga não fosse a breve observação sobre a sua invenção.
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
94
O médico informou que a pedra era fabricada no Colégio de São Paulo da
Companhia de Jesus em Goa (Estado da Índia). Sua composição era guardada em
segredo, e se distribuía “por negócio por todo o mundo”, assim como eram
comercializadas as "Pedras Cordiais do [Padre] Gaspar Antonio". Atribuiu o remédio à
“boa inteligência do Padre Antonio de Azevedo”, que em dilatadas missões” adquiriu
"com indústria a receita deste célebre medicamento dos gentios, donde florescia em
grande estimação pelos seus prodigiosos efeitos, e a que chamam os naturais
Jatuapadramadú, que vale o mesmo que Pedra de Mirigânga” (ABREU, 1739, p. 156).
outras menções diretas sobre os inacianos terem aprendido sobre as mezinhas
com médicos indianos. Acreditava-se que os calores dos trópicos estimulavam a luxúria,
que deveria ser evitada, a todo custo, pelos jovens religiosos (OMALLEY, 2004, p. 533).
Pe. Henrique Henriques escreveu do Ceilão para o Padre Geral Pe. Jacobo Lainez, no ano
de 1561, sobre esta matéria. Relatou que o clima da ilha inclinava ao mal” e que os
religiosos se sentiam mais tentados da sensualidade nestas partes (WICKI, 1958, vol. 5,
p. 382). Afirmou que queria licença para experimentar uma mezinha que os iogues
(monges ascetas) da Índia usavam para mortificar a carne e que não causava nenhum
dolo, “de maneira que apetite nenhum lhe vem de sensualidade, posto que se ofereçam
todos os objetos dela” (WICKI, 1958, vol. 5, p. 382). De Trento, Pe. Jacobo Lainez
recomendou ao Pe. Henrique Henriques que fizesse essa solicitação ao Provincial e que
procurasse os médicos e, se “não é coisa que faça dano à saúde, sem mistura com
superstições, nem escândalo aos próximos não pensava ser inconveniente tomar tal
mezinha (WICKI, 1958, vol. 5, p. 661). Contudo, o Padre Geral seguinte, Pe. Francisco
Borgia, determinou que deixasse essa mezinha
e usasse o que os “servos de Deus
comumente usavam (WICKI, 1960, vol. 6, p. 526).
Os inacianos produziram uma extensa produção documental sobre plantas, ervas
e animália, com grandes contributos para o alargamento da História Natural e a Medicina
Ocidental no período moderno. muitos indícios acerca da apropriação e acomodação
de saberes e práticas de cura de hindus, assim como de outros povos e culturas, como
tupinambás. Os missionários buscaram distinguir e confrontar qualquer traço de
superstição ou gentilidade nos rituais de cura, mas aproveitaram e difundiram, em
grande medida, os produtos locais.
Considerações finais
Ao longo deste artigo, foram destacadas ideias e práticas de cura no período
moderno, enfatizando os panditos e o sistema de cura Ayurveda. Uma breve digressão
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
95
permitiu deitar por terra narrativas historiográficas que determinaram a Europa como
centro de produção intelectual ao longo da história. A partir dos registros coligidos
escritos pelos missionários da Companhia de Jesus foram confrontadas as abordagens
nacionalistas que alçaram os portugueses e o Império Português como os pioneiros na
assistência aos enfermos e produtores de saberes médicos em detrimento aos contextos
locais e sua milenar tradição.
Este artigo buscou mais que apenas apontar a presença dos panditos na
sociedade da Índia Portuguesa, e especificamente nas instituições jesuíticas. É
necessário destacar a permanência, circulação e apropriação de saberes, produtos e
práticas da medicina ayurvédica que contribuíram para a assistência aos enfermos
através do Império Português. Deste modo, foi evidenciada a constituição de uma
medicina hibridizada entre os preceitos ayurvédicos e hipocrático-galênicos e a teoria
dos humores e, até mesmo, práticas coincidentes nos cuidados para a conservação da
saúde.
Observou-se que, para os missionários, havia uma clara relação entre a cura e o
sobrenatural, que apenas poderia ser invocado ou reconhecido dentro do seu sistema de
crenças, no conhecido jogo de alteridade entre o eu/divino versus o outro/demoníaco. A
presença dos panditos e seus saberes não era sinal de ampla acomodação, como ficou
patente nas cartas acusatórias dos padres e nas recomendações à perseguição aos
chamados “feiticeiros” tal como às perseguições inquisitoriais em Goa. Os sistemas
culturais nativos, complexos, distintos e tão exóticos aos olhos dos missionários foram
muitas vezes negados e banidos do espaço colonial. Enquanto fontes indiciárias, as
páginas escritas pelos jesuítas fazem emergir panditos, banhos, Mirigânga e muitos
outros debates sobre a produção de saberes e práticas de cura através do Império
Português.
Referências
ALDEN, Dauril. The Making of an Enterprise: The Society of Jesus in Portugal, its
Empire, and Beyond, 1540-1750. Stanford, CA: Stanford Univ. Press, 1996.
BELLINI, Lígia. Grande Fulcro: Representação do Corpo e Cultura Médica no Portugal
Renascentista. São Paulo: UNIFESP, 2016.
BOXER, C. R. Two Pioneers of Tropical Medicine: Garcia d`Orta anda Nicolás Monardes.
Lecture Series 1. Londres: Wellcome Institut, 1963.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto
Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 2002.
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
96
CONRAD, Lawrence I. ed. The Western Medical Tradition: 800 BC to AD 1800.
Cambridge: Cambridge Univ. Press, 1998. vol. 1.
COSTA, Palmira Fontes da; LEIO, Henrique. Portuguese Imperial Science, 1450-1800: a
Historiographical Review. In: BLEICHMAR, Daniela; VOS, Paula De; HUFFINE, Kristin;
SCHEEHAN, Kevin. (Orgs.). Science in the Spanish and Portuguese Empires, 1500-1800.
Stanford: Stanford Univ Press, 2009. p. 35-53.
COUDERT, Allison. Religion, Magic, and Science in Early Modern Europe and America.
Santa Barbara: Praeger, 2011.
DELUMEAU, Jean. O Pecado e o Medo: A Culpabilização no Ocidente; Séculos 13-18.
Bauru: Edusc, 2003. vol. I, II.
DEVEZA, Antonio Cesar Ribeiro Silva. Ayurveda: A medicina clássica indiana. Revista de
Medicina, São Paulo, v. 92, n. 3, p. 156-165, 2013. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/79996. Acesso em: 12 ago. 2019.
FARIA, Patricia Souza de. A Conquista das Almas do Oriente: Franciscanos, Catolicismo
e Poder Colonial Português em Goa 1540-1740. Rio de Janeiro: Faperj; 7Letras, 2013.
FIGUEIREDO, John M. de. Ayurvedic medicine in goa according to european sources in
the sixteenth and seventeenth centuries. Bulletin of the History of Medicine, Baltimore,
v. 58, n
.
2, p. 225-235, 1984. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/44441714?read-
now=1&seq=4#metadata_info_tab_contents. Acesso em: 12 ago. 2019.
FOUCAULT, Michel. Arte, epistemologia, filosofia e história da medicina. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2011.
GRACIAS, Fatima da Silva. Health and Hygiene in Colonial Goa, 1510-1961. Nova Delhi:
Concept Publishing Company, 1994.
GRUZINSKI, Serge. As Quatro Partes do Mundo: História de uma Mundialização. o
Paulo: EDUSP/EUFMG, 2014.
LINDEMANN, Mary. Medicina e Sociedade no Início da Europa Moderna: Novas
Abordagens da História Europeia. Lisboa: Replicação, 2002.
MAIA, Patrícia Albano. Práticas no Império Colonial Português: Medicamentos e Boticas
no Século XVIII. 2012. 241 f. Tese (Doutorado em História) Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2012.
MANSO, Maria de Deus Beites. Convergências e Divergências: O ensino nos Colégios
Jesuítas em Goa e Cochim Durante os Séculos XVII-XVIII. In: CAROLINO, L. M. Jesuítas,
Ensino e Ciência. Lisboa: Caleidoscópio, 2003. p. 163-180.
MANSO, Maria de Deus Beites. A Companhia de Jesus na Índia 1542-1622: actividades
Religiosas, Poderes e Contactos Culturais. Macau: Editora da Universidade de Macau;
Évora: Editora da Universidade de Évora, 2009. Disponível em:
https://www.rdpc.uevora.pt/handle/10174/2310. Acesso em: 12 ago. 2019.
NOGUEIRA, Fernando Alves Rodrigues. A Medicina Portuguesa na Índia. Porto: s.n.,
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
97
1962.
OMALLEY, John W. Os Primeiros Jesuítas, tradução por Domingos Armando Donida. São
Leopoldo: Unisinos; Bauru: EDUSC, 2004.
PANDITO. In: DALGADO, Sebastião Rodolfo. Glossário luso-asiático (Coimbra: Imprensa
da Universidade, 1919), v. 1, II, p. 155- 1566.
PINA, Luís de. Contribuição dos Portugueses Quinhentistas para a História da Medicina
do Oriente: Nota Preliminar. Lisboa: República Portuguesa; Ministério das Colónias, 1938.
p. 265-299.
PEARSON, Michael N. Mercados e Continuidades Mercantis no Oceano Índico: Situar os
Portugueses. In: BETHENCOURT, F.; CURTO, D. R. A Expansão Marítima Portuguesa,
1400-1800. Lisboa: 70, 2010. p. 93-114.
ROCHA NETO, Anderson Moreira da. Um estudo dos textos clássicos do Ayurveda em
perspectiva histórico-antropológica. 2009. 258 f. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva)
Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2009.
SMITH, Virginia Sarah. Clean: A History of Personal Hygiene and Purity. Oxford: Oxford
University Press, 2007.
SOUZA, Lais Viena de. Missionários do corpo e da alma: Assistência, saberes e práticas
de cura nas missões, colégios e hospitais da Companhia e Jesus (Goa e Bahia, 1542-1622).
2018. 382 f. Tese (Doutorado em História)Universidade de Évora, Évora, 2018.
SUBRAHMANYAM, Sanjay. Impérios em Concorrência: Histórias Conectadas nos
Séculos XVI e XVII. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2012.
TAVARES, Célia Cristina da Silva. A Cristandade Insular: Jesuítas e Inquisidores em Goa
1540-1682. 2002. 319 f. Tese (Doutorado em História) Programa de s-Graduação em
História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2002.
THOMAS, Keith. Religião e o Declínio da Magia: Crenças Populares na Inglaterra,
Séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
VALE, José de Jesus Coelho do. História da Assistência ao Indígena no Ultramar
Português. [S.l: s.n], 1954.
VALIATHAN, M. S. Diseases in Ancient India. In: SALEMA, A. Ayurveda at the Crossroads
of Care and Cure: Proceedings of the Indo-European Seminar on Ayurveda Held at
Arrábida, Portugal, in November 2001. Lisboa: Centro de História de Além-Mar
Universidade Nova de Lisboa, 2002. p.18-24.
VIGARELLO, Georges. História das Práticas de Saúde: A saúde e a Doença desde a Idade
Média. Lisboa: Editorial Notícias, 2001.
WALKER, Timothy D. Evidence of the Use of Ayurvedic Medicine in the Medical
Institutions of Portuguese India, 1680-1830. In: SALEMA, A. (Org.). Ayurveda at the
Crossroads of Care and Cure: proceedings of the Indo-European Seminar on Ayurveda
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
98
Held at Arrábida. Lisboa: Centro de História de Além-Mar Universidade Nova de Lisboa,
2002. p. 74-104.
WALKER, Timothy D. Acquisition and Circulation of Medical Knowledge within the Early
Modern Portuguese Colonial Empire. In: BLEICHMAR, Daniela; VOS, Paula De; HUFFINE,
Kristin; SCHEEHAN, Kevin (Orgs.) Science in the Spanish and Portuguese Empires,
1500-1800. Stanford: Stanford Univ Press, 2009. p. 247-270.
WALKER, Timothy D. Supplying Simples for the Royal Hospital: An Indo-Portugueses
Medicinal Garden in Goa (1520-1830). In: JARNAGIN, L. Making of the Luso-Asian World:
Intricacies of Engagement. Singapura: Institute of Southeast Asian Studies, 2011, p. 23
47.
WALKER, Timothy D. dicos, Medicina Popular e Inquisição: A Repressão das Curas
Mágicas em Portugal durante o Iluminismo. Rio de Janeiro: Lisboa: Fiocruz; Imprensa de
Ciências Sociais, 2013.
XAVIER, Ângela Barreto. A Invenção de Goa: Poder Imperial e Conversões Culturais nos
Séculos XVI e XVII. Lisboa: Impr. de Ciências Sociais, 2008.
ŽUPANOV, Ines G. Accommodation. In: AZRIA, R.; HERVIEU-LEGER, D. Dictionnaire des
faits religieux. PUF, 2010. p. 1-4.
ŽUPANOV, Ines G.; XAVIER, Ângela Barreto. Quest for Permanence in the Tropics:
Portuguese Bioprospecting in Asia 16th-18th Centuries. Journal of the Economic and
Social History of the Orient, 57, 4, p. 511-548, 2014.
Fontes manuscritas
Academia das Ciências de Lisboa (ACL). S
ÉRIE AZUL. Manuscritos 11, 12. Biblioteca da
Ajuda (BA). 49-II-9.
Fontes impressas
ABREU, José Rodrigues de. Historiologia medica, fundada e estabelecida nos principios
de George Ernesto Stahl...: tomo segundo dividido em duas partes...: parte primeira...
Lisboa Ocidental: Na Officina de Antonio de Sousa da Sylva, 1739.
BLUTEAU, Rafael C. R. Vocabulario portuguez e latino, aulico, anatomico,
architectonico, bellico, botanico, brasilico, comico, critico, chimico, dogmatico,
dialectico, dendrologico, ecclesiastico, etymologico, economico, florifero, forense,
fructifero... autorizado com exemplos dos melhores escritores portugueses, e latinos...
Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712 - 1728.
GONÇALVES, Sebastião. Primeira parte da história dos religiosos da Companhia de
Jesus e do que fizeram com a divina graça. Tradução por Joseph Wicki. Coimbra:
Atlântida, 1957, 1960, 1962.
LINSCHOTEN, Jan Huygen van. Navigatio ac Itinerarium Iohannis Hugonis Linscotani in
Orientalem sive Lusitanorum Indiam. Descriptiones eiusdem terrae ac tractuum
Littoralium. Praecipuorum Portuum, Fluminum, Capitum, Locorumque, Lusitanorum
hactenus navigationibus detectorum, signa & notae... Collecta omnia ac descripta per
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.78-99, jul./dez., 2019
99
eundem Belgicè; Nunc vero Latinè reddita. Hagae-Comitis: Ex officinâ Alberti Henrici
Impensis Authoris & Cornelii Nicolai prostanque apud Aegidium Elsevirum, 1599.
LOBO, Jerónimo. Itinerário e outros escritos inéditos. Edição crítica Manuel Goncalves
da Costa. Lisboa: Livraria Civilização, 1971. Biblioteca Histórica.
ORTA, Garcia de. Coloquios dos simples, e drogas he cousas mediçinais da India, e assi
dalgu[m]as frutas achadas nella onde se tratam algu[m]as cousas tocantes amediçina,
pratica e outras cousas boas, pera saber / postos pello Doutor garçia dorta : fisico
del Rey nosso senhor, vistos pello muyto Reuerendo senhor, ho liçençiado Alexos diaz :
falcam desenbargador da casa da supricaçã inquisidor nestas partes. Goa: Joannes de
Endem, 1563.
PYRARD, François. Viagem de Francisco Pyrard de Laval: Contendo a notícia de sua
navegação às Índias Orientais, organizado por A. de Magalhães Basto e Joaquim
Heliodoro da Cunha Rivara. Ed. rev. e actualizada. 1, 2. Porto: Livraria Civilização, 1944.
RIBEIRO, António. Regras da Companhia de Iesu. Lisboa: Antonio Ribeiro, 1582.
TRANCOSO, Gonçalo Fernandes. Tratado do Pe. Gonçalo Fernandes Trancoso sobre o
Hinduésmo Maduré 1616. Edição crítica e anotada Joseph Wicki. Lisboa: Centro de
Estudos Históricos Ultramarinos, 1973.
VALIGNANO, Alessandro. Historia del principio y progresso de la Compañia de Jesús en
las Indias Orientales: 1542-64. Roma: Institutum Historicum; Bibliotheca Instituti
Historici, 1944.
WICKI, Joseph, ed. Documenta Indica. Roma: Tipografia Pio X, 1948-1988, 18 vols.
Monumenta Historica Soc. IESU. Disponível em:
http://www.sjweb.info/arsi/Monumenta.cfm
. Acesso em: 12 ago. 2019.
Wujastyk, Dominik. The Roots of Ayurveda: Selections from Sankskrit Medical Writings.
New Delhi; New York: Penguin Books, 1998.