Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.290-311, jul./dez., 2019
hebreus, ancestrais religiosos do mundo ocidental, aparecem como subjugados por
povos não-europeus, marcados por governos tidos como despóticos e que acabam por
colocar fim à independência do povo de Iaweh, como se pode ver nas seguintes
passagens: 1) “O rei da Assíria deportou os israelitas à Assíria e os conduziu para Hala e
sobre o Habor, rio de Gozã, e para as cidades dos medos” (LA BIBLE DE JÉRUSALEM,
2003, p. 526, 2 Reis 18: 11, tradução nossa)
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; e 2) “Ele [Nabucodonosor] deportou Joaquim
[rei de Judá] para a Babilônia; assim também a mãe do rei, as mulheres do rei, seus
eunucos, os nobres do país, ele os fez partir em exílio de Jerusalém para a Babilônia” (LA
BIBLE DE JÉRUSALEM, 2003, p. 537, 2 Reis 24:15, tradução nossa).
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A partir desse tópico religioso, pode-se perceber uma espécie de miscelânea de
qualificações entre a área mesopotâmica e a egípcia no quesito de política exterior, mais
especificamente sobre seu caráter dominador frente aos hebreus. O que se evidencia, do
ponto de vista religioso, traçado pela Bíblia, é uma espécie de comunhão entre Egito,
Assíria e Babilônia. Essa concepção conjunta das potências africanas e próximo-orientais
pode ser observada no Bereshit Rabba:
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todos os reinos [que] são designados com o nome de Assur [são assim
chamados] porque eles se enriqueceram [...] às custas de Israel. [...] Todos os
reinos [que] são designados pelo nome de Nínive são assim chamados porque
eles se adornam [...] às custas de Israel. [...] Todos os reinos designados pelo
nome de Mizrayim (Egito) são assim chamados porque eles perseguem [...] Israel
(BERESHITH, 1961, p. XVI:4, tradução nossa).
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Apesar de existir uma descrição negativa no plano religioso, as sociedades
mesopotâmicas e egípcia são encaradas como o berço da civilização ocidental
(MESKELL, 2002, p. 3, 6; LANGER, 2017, p. 184). Seriam nessas regiões onde os
primeiros Estados e as primeiras cidades se desenvolveram, o que, na concepção
ocidental mais tradicional de civilização, provaria a emergência de formas mais evoluídas
de organização humana. Isso as colocaria em contraposição aos barbarismos que eram
vistos no nomadismo e em outras formas de interação que não dependiam da existência
de um Estado regulador. Em suma, Mesopotâmia e Egito Antigos compunham – e para
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[no original] “« Le roi d'Assyrie déporta les Israélites en Assyrie et les conduisit à Halah et sur le Habor,
fleuve de Gozân, et dans les villes des Mèdes »” (LA BIBLE DE JÉRUSALEM, 2003, p. 526, 2 Reis 18: 11). .
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[no original] “« Il déporta Joiakîn à Babylone ; de même la mère du roi, les femmes du roi, ses eunuques,
les nobles du pays, il les fit partir en exil de Jérusalem à Babylone »” (LA BIBLE DE JÉRUSALEM, 2003, p.
537, 2 Reis 24:15).
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Trata-se de um texto rabínico de exegese judaica provavelmente escrito entre 300 e 500. Aqui utilizamos
a edição feita para o inglês por Freedman e Simon (BERESHITH,1961).
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[No original] “All kingdoms [which] are designated after the name of Asshur [are so called] because they
enrich themselves […] at the expense of Israel. […] All kingdoms [which] are
designated by the name of Nineveh are so called because they adorn themselves […] at the expense of
Israel. […] All the kingdoms designated by the name of Mizrayim (Egypt) are so called because they
persecute […] Israel” (BERESHITH, 1961, p. XVI:4).