Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.547-552, jul./dez., 2019
A História (ou as histórias) torna-se aqui profundamente subjetivada no que se
refere a suas destinações. E, mais ainda, ao escrever uma história dirigida para
um público específico, o historiador pode pensar isto socialmente –
direcionando-a a grupos que cultivem identidades específicas, como a
negritude, o feminismo, o ecologismo, o movimento gay, as identidades
religiosas ou simplesmente pensar a destinação do seu trabalho em termos de
públicos consumidores, pois o mercado editorial contemporâneo até mesmo o
estimula a isto (BARROS, 2018, p. 78).
Aqui voltamos para a questão da superprodução historiográfica: por um lado
existem obras que misturam história e ficção. Os historiadores escrevem romances
históricos e apresentam uma narrativa sem problematização ou sem uma metodologia
científica. Por outro lado, encontramos algo importante, como as histórias que foram
deixadas de lado. Podemos aqui direcionar a história para um público, como a história
das mulheres, a cultura africana, as diversas religiões excluídas; encontramos uma
variedade de histórias que antes não seriam escritas e aceitas no meio acadêmico.
Encontramos na historiografia um diálogo com a sociedade. Se antes os paradigmas
historiográficos ou os grupos acadêmicos não aceitavam determinado tema, como os
pesquisados na micro-história ou dos pós-modernistas, com o tempo esses aspectos
importantes foram modificados.
Os historiadores dificilmente se assumem pós-modernistas, por conta das
polêmicas e atritos na historiografia. O que implicaria ser um historiador pós-moderno?
Seguindo um modelo de apresentação, Barros utiliza as definições de Ciro Flamarion
Cardoso, no capítulo “Traços do Pós-Modernismo: alguma síntese”, para pontuar as
cinco características principais de um historiador pós-moderno: “(1) a desvalorização da
Presença em favor da Representação; (2) a crítica da origem; (3) a rejeição da unidade
em favor da pluralidade; (4) a crítica da transcendência das normas, em favor da sua
imanência; (5) uma análise centrada na alteridade constitutiva” (BARROS, 2019, p. 81-82).
No entanto, são apenas tentativas de atribuir características, pois a rotulação de
historiadores e suas pesquisas são difíceis.
Por fim, Barros apresenta muitos questionamentos interessantes. Um deles é a
seguinte pergunta, no capítulo “Conclusões: a história pós-moderna e o contexto das
crises historiográficas”: “Será a historiografia pós-moderna um produto das crises
historiográficas, ou uma resposta a estas mesmas crises?” (BARROS, 2018, p. 99).
Em primeiro lugar, vivemos em uma época com alternativas para o historiador
optar ao escrever história, conceitos e paradigmas. Como a história é devir, é natural que
comecem a surgir novos paradigmas e questionamentos das concepções de história
existentes. A crise acontece com frequência, é a partir dela que repensamos a própria
forma de escrever e se essa ou aquela corrente historiográfica precisa ser modificada.