Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.11-27, jul./dez., 2019
incorporação de conteúdos sobre História da África e dos africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional nos
currículos escolares. Não é uma simples incorporação de conteúdo, o que “está em pauta
é o repensar de atitudes e valores, de ressignificação do ensino enquanto instrumento de
valorização da identidade.” (GARRIDO, 2017, p. 175)
No segundo capítulo, “Livros do Ensino Médio aprovados no PNLEM: Cotrim;
Schmidt; Pedro”, Garrido analisa os livros das duas gerações (1997 e 2008) dos autores
selecionados. O método utilizado é a análise do conteúdo, portanto, a autora primeiro
realiza a “desmontagem dos textos, fragmentando o corpo do texto para obter unidades
lógicas; em seguida, essas unidades serão confrontadas com outros referenciais
bibliográficos” (GARRIDO, 2017, p. 79), objetivando a emergência de novos significados.
A desmontagem do texto inicial resulta em um segundo texto, um metatexto capaz de
pluralizar a captação de significados do texto original. Assim, é possível ampliar as
interpretações de leituras possíveis e evitar uma leitura superficial.
Os referenciais bibliográficos que Garrido utiliza para confrontar as fontes
dialogam com uma revisão historiográfica que ocorre a partir da década de 1980, e que
ainda perdura, propondo uma nova interpretação sobre o sujeito histórico. De forma
geral, pensando na questão da representação do negro, pode-se dizer que essa
historiografia emergente recusava “a predominância de um enfoque socioeconômico e
estrutural passando a privilegiar abordagens que ressaltavam variáveis políticas e
culturais, para um melhor entendimento das relações sociais construídas entre
dominantes e dominados.” (GOMES, 2004, p. 159).
Portanto, as reflexões de Sidney Chalhuob (1990) e Walter Fraga Filho (2004) se
destacam na obra de Garrido. Eles sustentam que o negro, escravizado ou livre, como
agente ativo socialmente, é partícipe das transformações sociais mesmo com as
limitações que lhe são impostas. Ocorre, pois, a sua valorização enquanto sujeito
histórico, diferente da ideia de passividade e anulação pelo dominador que era propagada
por modelos, marxistas ou não, que privilegiam os aspectos estruturais, resultando na
coisificação do negro. Para isso, são empregados métodos e fontes que aproximam o
historiador ao cotidiano da população negra – como as memórias, os processos
criminais, testamentos –, documentos que de alguma forma dão voz à ela ou nos relatam
sua participação na sociedade. Dessa forma, apesar das limitações sociais, é possível
apreender as redes familiares e de solidariedade construídas por esse segmento social,
os meios criados para a sua participação no mercado de trabalho, as negociações entre
negros e ex-senhores. Além disso, como os autores trabalham com regiões diferentes,
Rio de Janeiro e Bahia respectivamente, o diálogo entre eles possibilita contestar