2. É algo ultrajante e ilegítimo que aqueles que receberam províncias, distritos e
estados, forcem os camponeses registrados nos templos [budistas], contra sua
vontade, a fazerem parte dos bandos de seguidores dos bateren.
3. Províncias e estipêndios são concedidos no feudo com posse temporária ao
incumbente. O feudatário pode ser realocado, os camponeses não. Quando o
feudatário exige algo insensato, ele deve ser repreendido, por ser algo ruim.
4. Aqueles que possuem mais de 200 chô [ou] dois ou três mil kan [em imposto],
podem se tornar [seguidores dos] bateren após permissão das autoridades (広義)
e de acordo com o pensamento (意) delas.
5. Aqueles com estipêndios menores [a 200 chô], da mesma forma que [escolhem
entre] as oito ou nove seitas, podem decidir por si, conforme sua vontade.
6. Ouvimos que os seguidores dos bateren se congregam de maneira similar, mas
diferente, aos da Ikkō-shū. Estes estabeleceram enclaves de templos (寺内) nas
províncias e distritos e rejeitaram o pagamento de tributos anuais aos
feudatários. Além disso, transformaram a província de Kaga inteira em seus
seguidores, expulsaram o senhor Togashi, entregaram o domínio aos bonzos Ikkō
e tomaram a província de Echizen. Que isso foi danoso para a Tenka é uma
irrefutável verdade.
7. Os seguidores do Honganji e bonzos construíram templos em diversos locais e
embora a construção dos templos lhes tenha sido permitido, não devem mais
manter enclaves de templos, como antes.
8. Que o daimyō em possessão force seus subordinados a serem seguidores dos
bateren é ainda mais indesejável que os seguidores do Honganji estabelecendo
enclaves templários e isso é de grande dano à Tenka. Aqueles que não
compreendem isso devem ser punidos.
9. As pessoas de status mais baixo se pela sua própria vontade (心) se tornarem
seguidores dos bateren, assim como entre as oito ou nove seitas, não serão
incomodadas.
10. A venda de japoneses à China, Coreia e Nanban é inadmissível. Acréscimo: no
Japão o comércio de pessoas foi proibido.
11. A compra e venda de gado e cavalos para serem mortos e comidos também é
inadmissível. (EBASAWA, 2004, p. 268)
.
Os artigos seis a oito fazem uma menção explícita aos seguidores da Ikkō-shū,
particularmente àqueles do ramo Honganji. No documento em questão, os cristãos
(referidos como seguidores dos bateren) são colocados como mais nocivos que os do
Honganji. Essa comparação da parte de Hideyoshi não era inédita. Fróis, em uma missiva
de 1586, explicitou isso ao narrar a visita surpresa que o líder japonês fizera naquele ano
à casa jesuíta de Osaka:
Assentando-se [Hideyoshi] nos tatames perto do altar, chamou ao padre diante
de todos e perguntou-lhe muitas cousas acerca de uma imagem do Salvador que
no altar estava (...) e disse diante de todos estas palavras: bem sei que são os
padres melhores que o Bonzo de Vosaka, pois tendes diferente limpeza de vida e
não usais das imundices de que ele e os outros Bonzos usam, a que todos são tão
entregues e bem se conhece nisto a vantagem que lhe fazeis. (Carta de Luis Fróis
a Alessandro Valignano no dia 17 out. 1586 apud GARCIA, 1997, fol. 178v).
A transcrição desse documento para o japonês foi feita e publicada por Ebisawa (2004, p. 268). A tradução
para o português aqui transcrita foi feita a partir dessa versão em japonês, cotejando com as traduções para
o inglês feitas por Elison e Boscaro (ELISON, 1973, p. 117-118; BOSCARO, 1973, p. 225 a 234). Agradeço aqui
a Yuichi Aimoto, pelo auxílio na tradução ainda que a responsabilidade por eventuais erros seja
completamente minha.