Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.28-51, jul./dez., 2019
Chronologia da Congregação do Oratório da Santa Cruz dos Milagres
8
, escrita pelo
padre goês Sebastião do Rego no ano de 1746.
Segundo Sebastião do Rego, a Congregação do Oratório de Goa teve como “pais”
fundadores quatro sacerdotes de origem brâmanes da região de Margão, pertencentes
das terras de Salcete, que se reuniram em outubro de 1682 no intuito de servir a Deus e
reformar suas vidas religiosas. Os religiosos foram morar inicialmente em uma capela de
São João do Deserto de Batim e, ao revelar-se imprópria para suas atividades, receberam
depois a igreja abandonada da Santa Cruz dos Milagres na cidade de Goa.
O começo das atividades dos oratorianos está relacionado com a aprovação dos
estatutos da congregação. Foi por intermédio da iniciativa do padre José Vaz, brâmane
natural da aldeia de Sancoale, em Salcete, que se iniciou a vinculação da congregação de
Goa aos estatutos da Congregação do Oratório de Lisboa do padre Bartholomeu do
Quental
9
, que respondeu de forma favorável aos pedidos dos oratorianos goeses:
Com muita consolidação da minha alma li a carta de Vossa Reverência muito
reverenda de nove de janeiro de mil seiscentos e seis, por ver nela o devido
animo, com que Vossa Reverência e os mais padres, seus companheiros,
desejam dedicar-se a Deus Nosso Senhor, e como para esse efeito querem
tomar por protetor a nosso Santo Patriarca São Felipe Neri, e guardar os
estatutos desta nossa Congregação do Oratório de Lisboa. Não podia eu faltar
em ajudar tão santos intentos; para esse efeito vão os estatutos, e regras com
as declarações que ao pé deles e delas fiz de minha letra e sinal, e por isso o não
repito nesta carta; e assim [sic] tenho falado ao Senhor Arcebispo, que agora
vai. E quando neles seja necessária alguma mudança ou modificação, a juízo de
Vossas Reverências, ele o poderá fazer na sua provisão, com for mais serviço de
Deus Nosso Senhor, e bem dessa casa, como prelado, que leva tanto zelo de seu
oficio pastoral. E, quando Vossas Reverências se não contentem destes
estatutos, poderão procurar os da Congregação do Oratório de Roma,
parecendo-lhes mais convenientes, que nãos os tomamos pelas razões que digo
na minha declaração. (REGO, 2009, p. 24-25, tradução nossa)
10
.
8
Utilizamos a versão impressa transcrita por Maria de Jesus dos Mártires Lopes e publicada pelo Centro
de Humanidades de Lisboa. O manuscrito encontra-se na Biblioteca da Ajuda, Cód. 51 – VII – 33.
9
A congregação do Oratório de Lisboa foi fundada por Bartholomeu do Quental no início do ano de 1668.
Açoriano de São Miguel, Bartholomeu de Quental nasceu em 1627. Aos 16 anos estudou com os jesuítas na
Universidade de Évora, onde obteve o grau de doutor em filosofia. Em Coimbra estudou teologia e seguiu
carreira escolástica. Ficou conhecido por seu grande zelo religioso, sendo eleito capelão-confessor da
Capela Real de D. João IV. A grande influência que Bartholomeu de Quental exerceu no interior da corte
portuguesa foi significativa para a aprovação da congregação pelo regente D. Pedro em março de 1668.
10
[No original] “Com muyta consolacao de minha alma li a carta de Vossa Reverencia muyto reverenda de
nove de janeiro de mil seiscentos e seis, por ver nella o devido animo, com que Vossa Reverencia e os mais
padres, seus companheyros, dezejao dedicar-se a Deos Nosso Senhor, e como para esse efeyto querem
tomar por protector a nosso Santo Partriarcha Sao Felipe Neri, e goardar os estatutos desta nossa
Congregacao do Oratorio de Lixboa. Nao podia eu faltar em ajudar tao santos intentos; para esse efeyto
vao os estatutos, e regras com as declaracoens que ao pe delles e dellas fiz de minha letra e sinal, e por
isso o não repito nesta carta; e a essem (sic) fim tenho fallado ao Senhor Arcebispo, que agora vay. E
quando nelles seja necessario alguma mudança ou modificaçao, a juizo de Vossas Reverencias, elle o
podera fazer na sua provizao, como for mais servico de Deos Nosso Senhor, e bem dessa caza, como
prelado, que leva tanto zelo de seu officio pastoral. E, quando Vossas Reverencias se nao contentem
destes estatutos, poderao procurar os da Congregacao do Oratorio de Roma, parecendo-lhes mais