Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.553-558, jul./dez., 2019
Os organizadores cumpriram com o que se propuseram ao apresentar um Brasil
plural durante a Ditadura militar, por meio da exibição de diversos cenários – tanto
urbano quanto rural – e atores sociais do nosso território nacional. Desse modo,
passaram por todas as regiões do país, isto é, mostrando que o Regime militar fez-se
presente em cada região e não só nos principais centros. No entanto, o modo como
organizaram e distribuíram esses temas no decorrer dos capítulos não valorizou a
coletânea, uma vez que, aparentemente, o livro segue uma ordem de apresentação, mas
em certos momentos é interrompida, ficando, assim, dispersas as regiões e assuntos que
tinham relação um com o outro. Por exemplo, os dois primeiros capítulos tratam de
temáticas da região Norte, sendo que o primeiro discorre sobre as questões políticas no
Estado do Amazonas, antes e após o Golpe de 1964. A região Norte retorna ao livro no
antepenúltimo capítulo, no qual Pere Petit também ressalta as questões políticas no
Estado do Pará durante o processo do Golpe de 1964, ou seja, trata-se da mesma região e
tema, que poderiam estar próximas na organização do livro.
Todavia, observamos ao longo dos capítulos a atenção dada ao tema da memória
e, consequentemente, ao uso da fonte oral como recurso para se chegar a ela. No
trabalho de Edmilson A. Maia Jr., por exemplo, a História Oral é utilizada como
metodologia de pesquisa e constituição de fontes, permitindo “o registro de testemunhos
e o acesso a ‘histórias dentro da história’ e, dessa forma, amplia as possibilidades de
interpretação do passado” (ALBERTI, 2008, p. 155). Assim, a História Oral permite o
estudo das formas como pessoas ou grupos efetuaram e elaboraram as suas
experiências, como vemos na narrativa de Maia Jr. sobre a trajetória de embates e
resistência do movimento estudantil de Fortaleza. A combinação da história com a
experiência relatada significa entender como pessoas e grupos experimentaram o
passado, tornando possível questionar interpretações generalizantes de certos
acontecimentos (ALBERTI, 2008).
Portanto, a História Oral é muito útil para a História da Memória, pois, segundo
Alberti (2008), apesar das críticas no início – afirmando que as fontes orais diziam
respeito às “distorções” da memória –, hoje em dia, os historiadores consideram a
análise dessas “distorções” como a melhor forma de levar a compreensão dos valores
coletivos e das ações de um grupo, como o caso dos movimentos estudantis.
Ela [a memória] é resultado de um trabalho de organização e de seleção do que
é importante para o sentimento de unidade, de continuidade e de coerência –
isto é, de identidade. E porque a memória é mutante, é possível falar de uma
história das memórias de pessoas ou grupos, passível de ser estudada por meio
de entrevistas de História oral. As disputas em torno das memórias que
prevalecerão em um grupo, em uma comunidade, ou até em uma nação, são