Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.181-195, jul./dez., 2019
Enquanto isso, o Japão passou por uma mudança radical com o colapso do
império de Tokugawa Shogunate e a instauração do novo governo Meiji,
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em 1868. Em
janeiro de 1869, um enviado da ilha japonesa de Tsushima chegou a Busan – cidade do
litoral sul e maior portuário coreano – para anunciar o novo governo. Os servidores
públicos coreanos recusaram-se a recebê-los por se sentirem ofendidos com a ideia de
uma instalação imperial. A recusa coreana de receber a notificação da restauração do
governo imperial era altamente ofensiva para os novos líderes do Japão, que visavam
garantir o apoio coreano de todo modo.
A importância estratégica territorial da Coreia para acordos mercantis não foi
esquecida nos debates internos japoneses sobre a situação Japão-Coreia (CUMINGS,
2005, p. 147). Em 1873, alguns oficiais de Meiji discutiram seriamente a invasão da Coreia
pelo mar sul. Em maio de 1875, o Japão enviou o navio de guerra Unyo para Busan e, duas
semanas depois, um segundo navio. Exibindo navios modernos construídos no Ocidente
convidaram a Coreia a um conflito, disparando suas armas em demonstração de poder.
Em resposta, navios coreanos foram enviados a Busan para proteção interna. Em
fevereiro de 1876, Kuroda Kiyotaka desembarcou em Kanghwa com substancial força
militar, exigindo a rendição coreana e a abertura de relações diplomáticas e comerciais
com o novo governo japonês (SETH, 2010, p. 44).
Debilitado, o governo coreano assinou o Tratado de Kanghwa
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no mesmo mês de
1876, no qual a Coreia reconhecia a nova administração do Japão, concordando em abrir
uma série de portos para os japoneses, inclusive Busan. O tratado implicou que a Coreia
fosse reconhecida como um Estado livre do Estado chinês; essa concepção, para a
comunidade internacional, implicava que a Coreia estava ao dispor do Japão (SETH, 2010,
p.13). Outros acordos do tratado designaram que o Japão tivesse autonomia para explorar
a costa e direito extraterritorial da Coreia, ou seja, o país se sujeitava a leis tributárias
japonesas. O tratado promoveu o fim do isolamento e permitiu a invasiva política
japonesa na Coreia, anexando o país à dominação imperialista no início do século XX.
A relação entre Japão e Coreia estava diretamente ligada à subordinação dos
sistemas monetários e de finanças a um sistema fiscal colonial. A nova legislação
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Por definição, a restauração Meiji foi um movimento que culminou com o fim do Shogunato e
restabelecimento do poder imperial, ocorrida em 1868, no Japão. Nesta época, reinava no Japão o
Imperador Mitsuhito, mas quem governava era o Shogun Tokugawa Yoshinobu, chefe supremo das forças
militares. “Devido às intrigas imoderadas que o Shogun Tokugawa alimentou, o Império se reduziu a
pedações, e, em consequência, veio a guerra civil [...]. Como já se declarou, a existência de relações com
países estrangeiros implica problemas muito importantes.” (Texto imperial de 1868 sobre a Restauração
Meiji, presente na obra organizada por Jean Chesneaus (1976, p. 45).
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Em resumo, segundo Michel Seth (2010), o Tratado Japão-Coreia de 1876, conhecido como Tratado de
Ganghwa na Coreia foi o tratado aplicado ao porto de Busan para que o Japão iniciasse o domínio
comercial e de exploração da península coreana.Com esse tratado, a Coreia deixa sua isolação, minado por
um sistema tributário determinado pelo Império japonês.