Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.529-546, jul./dez., 2019
Introdução
As discussões sobre História Pública
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iniciam-se com mais vigor entre os anos
1970 e 1980 (ALMEIDA; ROVAI, 2013, p. 1-2). No contexto britânico ela era sensível às
questões ligadas à memória, à narrativa e aos conteúdos identitários, abordadas de uma
perspectiva alinhada à “história vista de baixo”
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.
No caso estadunidense, com engajamento político menor se comparado aos
ingleses, a ênfase recaía sobre a necessidade de expandir a audiência da história. Uma
das preocupações evidenciadas era “lidar com um público diverso e com as mídias;
refletir sobre os sujeitos fora do ambiente acadêmico, com suas vontades e discursos
múltiplos”
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(ALMEIDA; ROVAI, 2013, p. 2).
No Brasil, semelhante aos dois exemplos acima mencionados, a História Pública é
marcada por uma realidade particular
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. Ao contemplá-la, Ricardo Santhiago mapeia as
seguintes possibilidades de atuação para os historiadores públicos: “história para o
público, história com o público, história feita pelo público e história e público”
(SANTHIAGO apud SOARES, 2017, p. 569).
Em especial, na “história feita pelo público” estão as variações não acadêmicas e
com frequência desenvolvidas por pessoas sem formação de historiador (SANTHIAGO
apud SOARES, 2017, p. 583). Dentro delas situam-se os memorialistas e seus projetos de
difusão da história/memória.
O enfoque deste texto na história feita pelo público converge com diversas
inquietações ligadas à relação entre redes sociais e espaço urbano, surgidas da disciplina
“Cidade, Patrimônio Urbano e Ensino de História”, ministrada pelo prof. Dr. Michel
Kobelinski, no Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História da
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A História Pública é um movimento centrado na divulgação da história para diferentes públicos. Nele,
além dos historiadores, outros profissionais encontram espaço de atuação, por exemplo: “jornalistas,
radialistas, cineastas, em suas tantas subcategorias”. “E há também os bibliotecários, sociólogos,
arquivistas, escritores, memorialistas, diletantes e tantos outros agentes que têm a história e o público em
sua pauta de interesses. A forma de inserção de cada um desses agentes no campo da história pública é
que é uma questão delicada, já que eles respondem a demandas muito diferentes que nem sempre se
afinam, nem deveriam se afinar, ao crivo acadêmico. Fazer a mediação entre essas várias instâncias é um
desafio” (SANTHIAGO, 2014, n.p.).
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A “história vista de baixo” diz respeito à história das “pessoas comuns”, aquelas sem um envolvimento
direto com os grandes acontecimentos políticos e econômicos do passado (SHARPE, 1992, p. 54), por
exemplo: a história das mulheres, dos operários, dos camponeses, etc.
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“Embora a prática seja muito anterior, muitos autores já mostraram como o conceito de “história pública”
surgiu com a grande crise de empregos da década de 1970 nos Estados Unidos, quando o historiador
Robert Kelley, entre outros, procurou conceituar esse fenômeno do surgimento (ou da criação!) de
carreiras ou de um potencial mercado de trabalhos alternativos à carreira acadêmica para historiadores
que não conseguiam ingressar nos postos das universidades” (MALERBA, 2014, p. 28).
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Na pós-graduação, dentro da realidade particular brasileira, algumas iniciativas voltadas à construção das
bases de um movimento mais consistente já podem ser mapeadas. Este é o caso do mestrado em História
Pública da Universidade Estadual do Paraná cuja primeira turma de pós-graduandos iniciou suas atividades
no ano de 2019. Em relação aos eventos, registra-se o 1º, 2º, 3º e 4º Simpósio Internacional da Rede
Brasileira de História Pública.