FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.483-489, jan.-jun., 2019
Folia de Reis em Florínea: manifestação popular, memória e patrimônio
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continuidade do festejo. Cita, inclusive, a decretação da lei municipal de 2010 que coloca
o dia 6 de janeiro (Dia de Santos Reis) como feriado municipal. O que seria mais uma
tentativa de conscientização sobre o caráter de patrimônio da Folia de Reis de Florínea.
A autora discorre também sobre educação patrimonial e aprendizagens sociais.
Para isso, recorre as ideias de Carlos R. Brandão e Sônia R. Florêncio. Ela cita a
formulação da Coordenação de Educação Patrimonial (CEDUC) sobre o termo
“Educação Patrimonial”, fazendo uso das palavras de Sônia R. Florêncio:
[...] todos os processos educativos formais e não formais que tem como foco o
Patrimônio Cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão
sócio-histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim
de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação.
Considera, ainda, que os processos educativos devem primar pela construção
coletiva e democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre
os agentes culturais e sociais e pela participação efetiva das comunidades
detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas
noções de Patrimônio Cultural. (FLORÊNCIO; et al, 2014, p. 19 apud GOULART,
2018, p. 237-238).
O ato de ensinar o outro sujeito a fazer declamações, danças ou demais aspectos
da Folia de Reis faz parte de um processo de aprendizagem em Florínea, demonstra
Goulart. A rigor, ela discorre sobre o assunto pautada em Carlos R. Brandão relatando
que as comunidades detentoras dos patrimônios fazem fluir o saber, o ensinar e o
aprender. E com o tempo transformam-se em representações sociais.
Conhecer o trabalho de Goulart com as fontes orais nos remete à categoria de
“memória coletiva” desenvolvida por Halbwachs (1990). Embora ela não o tenha usado
em sua pesquisa, esse sociólogo, que tem raízes no pensamento de Durkheim, nos traz
conceitos, procedimentos e entendimento quanto ao trabalho com memórias. Ele nos
alerta que o convívio social é determinante sobre a formação da memória. A lembrança
de um indivíduo tem relação com lembranças coletivas dos grupos em que ele esteve ou
está inserido. As memórias dos sujeitos da Folia de Reis de Florínea, transcritas por
Goulart no livro, podem assim ser classificadas como coletivas. Elas têm pontos em
comum, se entrecruzam, pertencem a grupos sociais presentes num mesmo espaço, que
no caso é a cidade de Florínea e a área rural da região. Entretanto, a memória individual
não pode ser ignorada. Ela é uma das lembranças que compõem a memória coletiva. O
indivíduo exerce papéis tanto na memória individual, como na memória coletiva.
[...] a memória coletiva tira sua força e sua duração do fato de ter por suporte
um conjunto de homens, não obstante eles são indivíduos que se lembram,
enquanto membros do grupo. Dessa massa de lembranças comuns, e que se
apoiam uma sobre a outra, não são as mesmas que aparecerão com mais