FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.162-181, jan.-jun., 2019
PEREIRA, Pedro Jardel Fonseca
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Os armazéns, chamados pelos trabalhadores de comércio atacadista, eram outro
local onde a prestação de serviço de transporte também era constante. Essas memórias
nos permitem, inclusive, conhecer alguns costumes da população. O Sr. Antônio que
atuou nessa ocasião nesses locais, lembrou que:
Sei que ali era um monte de atacadista pra povo comprar (próximo a Catedral),
povo que vinha de fora também comprava tudo. Ai eu já ficava com a carrocinha
lá, eles comprava dois três sacos e pedia pra levar, vamos supor lá no Cintra ai
levava. Macarrão, feijão, arroz, comprava saco, saco de sessenta quilos, naquela
época o poder aquisitivo era muito forte né, a pessoa não comprava quilinho,
ela comprava o saco. Acho que até hoje tem essa tradição, comprar um saco de
arroz, um saco de açúcar, povo falava a dispensa né, porque eles tinha um
desconto, porque se ocê comprar quilo, sai mais caro do que ocê comprar um
saco, não tem muita gente que é econômico, já vai lá compra o saco de sessenta
quilos. A família grande, naquela época a família era vinte pessoa, trinta pessoa
da família, então cozinhavam, comia bastante, tinha um saco lá durava quarenta
e cinco dia. Quase que num mês detona um saco de arroz, (risos) né verdade
(Antônio Alves, entrevista, 15 mar. 2017).
Na medida em que nos deparamos com as memórias dos carroceiros, percebemos
que na maior parte dos locais que demandavam pelos serviços de transportes eles
estavam presentes. Aprendemos que era comum a relação de proximidade deles com o
cotidiano da população. O Sr. Antônio, por exemplo, recordou como parte da população
comprava os gêneros alimentícios. E a carroça era o meio de condução mais acessível
para que a “feira do mês” chegasse as residências. Nesse sentido, percebemos
novamente que o trabalho do carroceiro não era tido apenas como atividade de
sobrevivência, mas que era exatamente a função fundamental que eles ocupavam no
serviço de transporte. Isto é, era uma relação de mão dupla, o trabalhador dependia da
cidade para viver, e essa dele. O que nos possibilita entender, o que Moraes (2002, p. 13)
nos chama atenção, ou seja, “a relação entre o trabalho e a cidade”.
O I Plano Diretor e o Código de Posturas Municipal proibiram, desde a década de
1970, atividades como: os matadouros, cocheiras, estábulos, galinheiros, pocilgas e
lavadouros. Eles foram proibidos de funcionar dentro do perímetro urbano, obedecendo
aos decretos federais. O que contribuiu para que a população adotasse novas táticas de
apropriação. As áreas nos entornos da cidade passaram a ser ocupadas, ou seja, esses
locais de manejo dos animais são transferidos para outras regiões.
O Sr. Antônio relatou que sua mãe adquiriu na ocasião um terreno fora do
perímetro urbano, com o objetivo de construir uma pocilga: “Tinha uma comunidade,
chamava era Cachorro Deitado, ai minha mãe comprou, uns seis mil metros, até na beira
do rio, ai ela pegou e fez um chiqueiro, pôs lá uns 300 porcos lá” (Antônio Alves,
entrevista, 15 mar. 2017). É possível perceber nesse trecho do depoimento que pelo