FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.271-284, jan.-jun., 2019
Paulo Emílio e as fontes não-fílmicas na formação do cinema brasileiro
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Depoimentos e fotografias
Os primeiros resultados da investigação histórica do cinema brasileiro a partir da
realização de entrevistas aparecem publicados no artigo Dramas e Enigmas Gaúchos, no
qual Paulo Emílio relata suas impressões sobre a “variedade de obstáculos” que o
historiador poderia encontrar ao se dedicar ao cinema brasileiro. No artigo, o historiador
delineia os obstáculos percorridos em sua viagem ao Rio Grande do Sul, na qual pôde
constatar a riqueza de fontes históricas sobre o cinema no estado, onde curiosamente
muitos realizadores de diferentes partes do país afluíram e se estabeleceram,
particularmente na cidade de Porto Alegre, como o russo Isaac Saidenberg, produtor de
uma das versões d´O Crime da Mala (GOMES, 1982, p. 55).
A presença das antigas personalidades de cinema se constituiu, naquele
momento, uma excelente oportunidade para a realização de entrevistas, coleta de
documentos, filmes, fotogramas, fotografias etc. Ao descrever a oportunidade, Paulo
Emílio acentua a profícuo levantamento que realiza de parte dos arquivos fotográficos e
de alguns filmes do “[...] antigo comerciante cinematográfico Stephan Fischer” (GOMES,
1982, p. 55), cedidos por sua viúva, mas também informa os reveses, como a
impossibilidade de colher o testemunho do cinegrafista José Gomelli Barbosa, pouco
tempo antes assassinado por envenenamento.
Apesar dos obstáculos, Paulo Emílio dedica parte significativa de seu artigo às
novas descobertas, ao apresentar “a radiosa atividade” de Ítalo Mageroni, membro de
uma famosa família de artistas, atores de teatro, mágicos, ilusionistas e hipnotizadores.
Seguindo a tradição familiar, Mageroni fundou duas companhias cinematográficas: a
primeira chamada Leopoldis Eila e, posteriormente, Leopoldis Som. Mageroni, também
conhecido como Leopoldis, “[...] iniciou sua carreira cinematográfica no Recife em 1915,
produzindo atualidades”, e, um ano depois, já atuava como “[...] colaborador artístico e
galã do filme Vivo ou Morto, dirigido por Luís de Barros” (GOMES, 1982, p. 55).
No ensejo de forjar uma tradição cinematográfica para o país, Paulo Emílio afirma
que Vivo ou Morto era um marco histórico de nosso cinema por ser mais “evoluído” em
relação às produções realizadas até 1920. Como estratégia narrativa, o historiador
descreve o argumento central do filme: a ambição da amante abandonada em reaver seu
parceiro, vivo ou morto. Apesar da inexistência do filme, mais uma perda da história do
cinema nacional, o historiador analisa uma “coleção de documentos fotográficos” e
constata “[...] uma assimilação das lições do film d´art francês numa realização em estilo
próximo ao do cinema italiano das divas, cujo desenvolvimento” àquela altura “ainda não
se processara” (GOMES, 1982, p. 55).