FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.246-270, jan.-jun., 2019
Amerino Raposo e a Polícia Federal: quando o medo do esquecimento se traduz na obsessão pela imposição de uma narrativa
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vinculadas ao DPF reflete-se na capa e no título do livro de Raposo publicado em 2015.
Em primeiro lugar, sua capa é praticamente uma réplica da capa do livro oficial publicado
pelos delegados em 2004, ainda que de qualidade inferior. Um fundo preto, com a
insígnia dourada da Polícia Federal colocada no canto direito da capa. Em relação ao
título, se para os delegados a PF comemorava 60 anos em 2004, Amerino Raposo e Aline
Veroneze destacam a comemoração dos 50 anos da instituição, em 2014, por meio do
livro Polícia Federal do Brasil: 50 anos de História, Como a reestruturação do DFSP
viabilizou a respeitada PF de hoje, publicado em 2015. Observamos no título, de forma
muito sutil, que Raposo não se refere ao DPF, criado por lei em 1967, mas a uma Polícia
Federal do Brasil.
Com esta observação, podemos afirmar que o vaidoso Raposo teve ao longo
destes anos uma verdadeira obsessão em definir o seu papel enquanto principal agente
responsável pela criação do que é hoje o Departamento de Polícia Federal. Em 24 de
agosto de 2015, antes da publicação do livro, o coronel concedeu nova entrevista na qual
reforçou toda a sua produção intelectual na elaboração do que considerou ser esta nova
polícia federalizada
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. Nesta entrevista, deixa clara a capacidade que tem de comprovar
este “parto”, ao referir-se ao livro publicado no mesmo ano:
Tudo o que eu fiz ali, deixo provado. Um princípio axiomático, não tem nada a
ver com a Polícia Federal. É natural que eles queiram dizer, aqueles saudosos,
“foi criado na lei... não valia nada, estou falando em termos conceituais,
doutrinários, filosóficos, conceituais, científico. Eu não estou falando como um
leigo, tá aqui, como é que eu construí a Polícia Federal nova (...) Porque aí matou
o problema. Tá, era reestruturação, é verdade, já tinha do DFSP, mas não era
nem uma coisa, nem outra. Agora, se eles vão querer por saudosismo dizer, há,
bom, eu já existia né, é um diletantismo que eu não entro nisto. Eu estou falando
agora, eu não estou falando aleatoriamente, eu estou falando que isto foi criado
de maneira conceitual, filosófica, teórico, doutrinária e operacional e eu estou
colocando os vários níveis de planejamento. Eu não estou,... me desculpe, mas
eu me considerava um pouco entendido nisto. Mas ninguém pode evitar que um
velhinho lá do Egito, um faraó, diga que é o dono da História. (...) Eu coloco os
conceitos que esses delegados não sabem, o que é um conceito de um poder de
polícia? O que é um poder discricionário? É, por lei, mas não é arbitrário. E eu
vou fazendo isto. Eu entro mostrando coisas aqui que eles ignoram. Eu estou
dando aula para eles, entende? Tá bem! Ah, eu sou da antiga portuguesa! Tá
bem, pode ser, mas tem que se curvar a uma realidade sobre o que se implantou
em 1964. É o mesmo caso para o SFICI. Como disse o Castello, as duas colunas
mestras que deveriam fundar todo o processo revolucionário (Amerino Raposo,
entrevista, 25 ago. 2015).
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Entrevista concedida a Priscila Brandão e Samantha Viz Quadrat, no Rio de Janeiro, em 24 de agosto de
2015.