Recebido em: 11/03/2019
Aprovado em: 20/05/2019
Memórias de experiências e a cultura escolar da escola
pública de Itoupava Norte no período da
nacionalização do ensino 1940
Memories of experience and the school culture of the
Itoupava Norte public school in the period of
nationalization of teaching 1940
NEVES, Anne Caroline Peixer Abreu
*
Resumo: Esse texto dialoga com as memórias de experiências dos sujeitos no cotidiano
da Escola Pública de Itoupava Norte município de Blumenau/SC, durante a campanha
de nacionalização do ensino conduzida pelo governo de Getúlio Vargas. As alises que
mobilizaram a história oral possibilitaram compreender que as entrevistadas evocaram
recordações que, nem sempre, estabeleciam relações com as ações nacionalizadoras que
impuseram o ensino da língua vernácula e a exaltação de símbolos nacionais. Isso não
invisibilizou, nas narrativas a presença dos instrumentos governamentais utilizados para
implementar as leis, apesar de terem sido relatados na sutileza. O trabalho de memória
evidenciou experiências que referenciaram outros contornos da escola valorizando os
movimentos de integração das crianças, as convivências em diferentes lugares do
ambiente escolar; e outras formas de se relacionar com as professoras.
Palavras-chave: memórias; experiências; cultura escolar; nacionalização do ensino;
Escola Pública de Itoupava Norte.
*
Licenciada em História pela Universidade Regional de Blumenau, Blumenau-SC, mestranda do Programa
de Pós-Graduação em História/UDESC, Florianópolis, SC. Professora da Rede Pública de Ensino do Estado
de Santa Catarina. E-mail: annecpan@gmail.com
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.182-202, jan.-jun., 2019
Memórias de experiências e a cultura escolar da escola pública de Itoupava Norte no período da nacionalização do ensino - 1940
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Abstract: This text dialogues with the experiences of the subjects in the quotidian of the
Public School of Itoupava Norte - municipality of Blumenau / SC, during the
nationalization campaign of the education conducted by Getúlio Vargas' government.
The analyzes that mobilized oral history made it possible to understand that the
interviewees evoked memories, not always establishing relations with the nationalizing
actions that imposed the teaching of the vernacular and the exaltation of national
symbols. This did not obscure in the narratives the presence of the governmental
instruments used to implement the laws, although they have been reported in the subtle.
The memory work evidenced experiences that referred to other contours of the school
valuing the integration movements of the children, the coexistence in different places of
the school environment, other ways to relate to the teachers.
Keywords:
memories; experiences; school culture; nationalization of education; Itoupava Norte
Public School.
As páginas desse texto foram escritas por meio de análises preliminares
elaboradas para a pesquisa de Mestrado que se encontra em andamento. Portanto,
apresento alguns apontamentos e possíveis considerações referentes às memórias de
experiências que (re) elaboraram a cultura escolar na Escola Pública de Itoupava Norte
na década de 1940, localizada no município de Blumenau/SC e imersa na campanha de
nacionalização do ensino promovida no governo de Getúlio Vargas (19301945). Essa
discussão configura tanto um recorte temporal da pesquisa, que abrange também a
década de 1950, como se trata de uma abordagem, direcionada ao trabalho de memória
de sujeitos que foram alunas entre 1943 e 1950 na escola. Mesmo a história oral
definindo os encaminhamentos para essa narrativa, determinados documentos escritos
como as atas escolares, produzidas pelos sujeitos nas relações estabelecidas na escola,
permitiram que alguns encontros fossem articulados. As cinco mulheres que foram
entrevistadas recordaram experiências vivenciadas no cotidiano escolar entre as
crianças, com as professoras e o professor
1
, além da interação com as “coisas”, ou seja,
os objetos que compunham o cenário daquela escola e também dos lugares dentro da
instituição ou ainda no seu entorno.
Ao dizer que foi possível articular alguns encontros, me refiro à aproximação
entre as fontes orais e determinadas fontes escritas, que inicialmente estavam afastadas,
por serem de naturezas diferentes, mas que foram reunidas no acervo que foi viável
selecionar: condição que, inicialmente, se apresentou sem nenhuma intencionalidade.
Logo nas primeiras análises observei que algumas meninas registradas nas atas das
reuniões como membros das associações escolares ou participantes de alguma atividade
promovida por elas, eram as senhoras que tinham sido entrevistadas para a pesquisa. Ao
1
Foram recordadas pelas entrevistadas um total de três professoras e um professor: Alice Pauli da Silva,
Auta Balland Skork e Maria Cecília Moskorz, além de José Moskorz.
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aproximar essas fontes e promover esse encontro, uma das preocupações era não
permitir hierarquizações entre o escrito e o oral. Também era preciso cautela ao
mobilizar a história oral para que recebesse um tratamento adequado e não fosse
considerada como uma metodologia complementar, noção compartilhada de Alessandro
Portelli (2016, p. 10) entendendo que “[...] as fontes orais são utilizadas como eixo de um
outro tipo de trabalho histórico, no qual questões ligadas a memória, narrativa,
subjetividade e diálogo moldam a própria agenda do historiador.”
Para encaminhar a pesquisa, escolhi operar com algumas categorias de análise:
cultura escolar e memória, que possibilitaram o reconhecimento da experiência como
chave articuladora entre elas. Desta forma, assumi a noção de “experiência inscrita” no
sujeito para pensar que as pessoas precisam estar disponíveis para que as vivências
sejam inscritas como experiências e, assim, permaneçam como memória de um presente
anterior que se encontra ausente e precisa ser evocado. Para compreender melhor essa
“experiência inscrita” que elaboro aqui, as reflexões de Paul Ricoeur (2007), Jorge
Larrosa (2017), e Hans Ulrich Gumbrecht (2010), são fundamentais.
Cada um de sua forma, porém, entrelaçados, emitem percepções sobre a
experiência que percorre a ideia de que algo precisa emanar com significado sensorial,
que permita abstração e potencialize afecção. Em todas as leituras foi possível observar
que se encontra latente a noção de afeto, ou seja, para ter uma experiência é preciso ser
afetado e também, se permitir afetar. Quando essas perspectivas teóricas se atravessam,
consideram que a modernidade introduziu a racionalidade nas formas de se relacionar,
sentir, estar, agir; o que formulou e propagou a ideia de experiência como algo que pode
ser justificado apenas porque faz parte das práticas cotidianas, e não necessariamente
vinculado às sensações.
A instituição escolar, como produto dessa racionalidade moderna, também foi, de
muitas formas contínuas, entendida por esse viés, que desconsidera as relações
vivenciadas pelos sujeitos e suas interações sensoriais, inclusive com as coisas. A
concepção de cultura escolar, apresentada por Agustín Escolano Benito (2017),
estabelece reflexões envolvendo essa discussão e promove a noção de cultura pensando
o campo da experiência, além das permanências que permitem o reconhecimento de uma
cultura escolar pertencente a um tempo e espaço. Em suas análises, Escolano Benito
(2017, p. 110) lembra que “a ideia de cultura foi, pois, em sua origem um conceito
carregado de intencionalidade hermenêutica e esteve ligada à observação, análise e
compreensão da realidade empírica.”
Com as recordações das experiências evocadas pelos sujeitos que permearam a
cultura escolar da Escola Pública de Itoupava Norte nos anos de 1940, é possível
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percorrer outros caminhos para pensar a campanha de nacionalização do ensino em
Blumenau, alargando as percepções para além das práticas repressoras contra as
escolas ou de resistências por parte das mesmas.
São vários os estudos referentes ao período do governo de Getúlio Vargas e as
implicações para Santa Catarina no que diz respeito à campanha de nacionalização,
promovida entre as décadas de 1930 e 1940. Algumas pesquisas se dedicaram à
investigação dos acontecimentos na região do Vale do Itajaí
2
, ou especificamente em
Blumenau, quando construíram suas análises envolvendo a repressão por parte dos
órgãos governamentais na proibição das manifestações culturais e de forma mais
incisiva da língua estrangeira, principalmente a alemã. Segundo a historiadora Méri
Frotscher (2007, p. 23), “Blumenau foi uma das localidades mais visadas pela repressão,
controle e nacionalização durante o Estado Novo, no sul do Brasil”. Toda essa atenção e
investimento de leis e ações nacionalizadoras foram justificadas tanto governo federal
quanto estadual devido a predominância da cultura alemã e os vínculos ainda estreitos
entre os habitantes da região com o governo da Alemanha, questão que assumiu maior
importância com o posicionamento do Brasil contrário a Alemanha na Segunda Guerra
Mundial, a partir de 1942.
O governo federal que passou a governar por meio de decretos-lei, direcionou
interventores estabelecendo um alcance direto com o nível administrativo local. “Ou seja,
o congresso nacional, as assembleias legislativas estaduais e as câmaras municipais
foram fechados e [...] todos os partidos políticos proibidos.” (FROTSCHER, 2007, p. 160)
No caso de Blumenau, o prefeito integralista Alberto Stein e todos os vereadores foram
destituídos do cargo e a administração do município foi direcionada para José Ferreira da
Silva, que acabava de deixar o cargo como vereador eleito pelo partido integralista. A
nível estadual, o interventor nomeado foi Nereu Ramos que pertencia, anteriormente, ao
Partido Liberal Catarinense e já era governador de Santa Catarina desde maio de 1935
sendo mantido no poder até o fim do governo Vargas em 1945.
Ao elaborar sua narrativa sobre o Estado Novo, Marcos Napolitano (2017)
evidenciou a propagação de uma “ideologia nacionalista” que prezava pela unidade
nacional e desqualificava os conflitos sociais como manifestações das divergências e
diferenças, na maioria das vezes, criminalizando os grupos que destoavam do caráter
homogêneo que era a todo custo estimulado. Nesse sentido e pensando o contexto em
que está inserida a análise que articulo, acrescento a essa concepção a noção de
conflitos étnicos que, no governo Vargas, deixou de ser tratada por meio da perspectiva
2
Região de Santa Catarina que abrange os municípios que foram fundados e que se localizam interagindo
com o rio Itajaí-Açú e seus ribeirões, como é o caso de Blumenau.
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de mediação dos conflitos entre os imigrantes e seus descendentes e os brasileiros
natos. Esse entendimento de mediaçãoo deve ser confundido com apaziguamento e
passividade, mas concebendo que por algum tempo, mediar era a forma de sustentar
interesses que potencializavam a presença do imigrante como um benefício para o
desenvolvimento do Brasil, principalmente no campo econômico, ou melhor, no setor da
indústria têxtil. Além das questões étnicas, “a brasilidade estado-novista deveria
propiciar um encontro simbólico entre todos os grupos sociais, na formação de uma
novo ‘homem brasileiro’, acima das divisões de classe e região” (NAPOLITANO, 2017, p.
126).
No breve momento que sua narrativa se posiciona referente aos conflitos étnicos
no sul do Brasil, Marcos Napolitano (2017) atribuiu que, o olhar “implacável” do governo
para essas reges envolvendo as populações de origem estrangeira, especialmente
alemã, estava associado à noção do “perigo alemão”, ou seja, uma concepção
amplamente divulgada a partir do início do século XX que relacionava as áreas de
colonização alemã com uma possível extensão dos domínios da Alemanha na América do
Sul. “Sobre elas, aliás, o Estado Novo desenvolveu uma implacável política de vigilância e
nacionalização cultural, proibindo, por exemplo, o ensino de alemão e italiano nas
escolas comunitárias e religiosas da região” (NAPOLITANO, 2017, p. 131).
A própria Escola Pública de Itoupava Norte é uma dessas “escolas comunitárias,
entre centenas que foram criadas na região do Vale do Itajaí, tendo sido fundada, ainda
no século XIX, por iniciativa particular organizada em forma de Associação/Sociedade
Escolar; era formada pelos moradores da localidade de Itoupava Norte que tinham
origem alemã e que financiavam essa escola mista e o pagamento do professor, além do
fato de que, desde o terreno, a casa servia de escola e a moradia para o professor.
(KRAMER; KRAMER, 2015, p. 96).
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Imagem 1. Estudantes com a professora Maria Cecília Moskorz na Escola Pública de
Itoupava Norte Blumenau/SC no final da década de 1940
Fonte: Acervo da Escola Professor João Widemann (atual nome da Escola Pública de Itoupava Norte).
Durante a década de 1940, o terreno onde funcionava a Escola Pública de
Itoupava Norte ainda pertencia à Sociedade Escolar que, até aquele momento continuava
a existir; além das atividades de ensino continuarem na antiga construção, uma casa
enxaimel
3
, conforme os relatos apresentados nas entrevistas, possuía uma sala de aula
grande e outra menor, com turmas de 1º ao 3º ano do ensino primário, sendo desdobrada
durante alguns anos, dito de outo modo, funcionando em dois turnos e com mais de uma
professora atuando na escola.
Com as campanhas nacionalizadoras do ensino, mobilizadas nos anos de 1910 e
depois nas décadas de 1930 e 1940, essa escola, como outras, precisou se adequar às leis
impostas e entre uma campanha e outra, passou a ser subvencionadas pelo poder
público, até onde foi possível identificar, estadual. Uma das formas de subvenção foi o
pagamento dos professores que atuaram na escola, permanecendo os bens materiais
como terreno, construções, no domínio da Sociedade Escolar, que manteve sua
existência até o ano de 1956.
3
A construção enxaimel esteve presente em localidades do Vale do Itajaí/SC por se tratar de uma técnica
utilizada por imigrantes alemães que ocuparam a colônia Blumenau a partir da metade do século XIX. Esse
“estilo” de construção é considerado característica cultural da região, associada as influências étnicas
alemãs.
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Diversas pesquisas sobre a campanha de nacionalização do ensino no Vale do
Itajaí, incluindo Blumenau
4
, se fundamentaram em um corpus documental oficial, que
legitimou as pessoas que cumpriam as leis nacionalizadoras como patriotas e aquelas
que não obedeciam como sendo traidoras. Nos estudos que abriram possibilidades para a
interação com outras fontes não investidas de oficialidade, o próprio pesquisador, por
vezes, encaminhou suas análises buscando confrontar e comparar suas fontes com
documentos de cunho governamental como uma forma de validar a discussão. Outro
exemplo, envolve algumas discussões que mobilizaram a história oral e, de certa forma,
habilitaram narrativas que procuraram enquadrar a pessoa entrevistada por meio de dois
extremos: tendo sofrido repressão ou sido repressora. Ou ainda, a existência de
trabalhos que ressaltaram formas de resistências deliberadas por sujeitos das escolas
contra as leis e práticas nacionalizadoras, expressadas de maneira explícita ou
camuflada.
É importante afirmar, que o desejo combater ou negar essas perspectivas,
porque não se trata de invalidar as abordagens que cada pesquisador decidiu
implementar para construir suas análises. Contudo, entendo que posso oferecer um
outro olhar para essa paisagem que não é estanque e permite múltiplas percepções,
tendo em vista o lugar de vista que se deseja assumir como posição. O meu, permeia a
cultura escolar, entendida por meio das memórias de experiências passíveis de serem
anunciadas, especialmente pelo percurso da história oral.
Recordações de experiências inscritas nos sujeitos e na cultura escolar
5
A senhora Elfi Thompsem, atualmente com 84 anos e chamada na infância de Elfi
Schoenau
6
, realizou seu trabalho de memória e recordou experiências do tempo em que
foi aluna na Escola Pública de Itoupava Norte, entre os anos de 1943 a 1945. Iniciou sua
fala repleta de entonação afirmativa e, por vezes, interrompida por discretos risos, com a
recordação de sua professora Alice Pauli da Silva; recordação que envolveu momentos
que contornaram a relação professora-aluna, mas que não se restringiam ao espaço
físico da escola. A entrevistada evidenciou, em sua narrativa, que se a professora fosse
para a escola com uma roupa escura, não adiantava esperar por ela na outra margem do
rio após o desembarque da balsa, pois, estaria irritada e “não chegava com bons ares.”
4
Não se tratam de estudos apenas na área da História, muitos deles foram desenvolvidos na área da
Educação.
5
Todas as entrevistas presentes nesse artigo foram concedidas à Anne Caroline Peixer Abreu Neves com a
finalidade de serem utilizadas e analisadas na pesquisa de Mestrado da autora deste artigo.
6
Entrevista realizada na casa da senhora Marilena Terezina Godizigiogesk após conversas informais no dia
10/09/2017.
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Isso fazia com que os alunos saíssem correndo para a escola, aguardando de forma
ordeira a sua chegada. Porém, se a roupa fosse de cor clara, todos que tinham ido
esperar por ela ficavam na beira do rio e a acompanhavam até a escola sendo acolhidos
com gentileza, já que a professora “ficava feliz da vida que todas as crianças chegavam
para abraçar ela.” (Elfi Thompsem, entrevista, 23 set. 2018).
Considerar que um “trabalho de memória” foi realizado pela senhora Elfi, significa
assumir a concepção de Paul Ricoeur (2007), entendendo que ela percorreu um caminho
de busca para recordar o que foi narrado. Ao capturar imagens-lembranças da
professora chegando na escola, vestida com roupas de cores claras ou escuras e a
relação dessas cores com o humor dela naquele dia, a entrevistada efetivou uma
rememoração, o que não se trata de acessar a “versão original” daquilo que se passou,
mas uma espécie de cópia.
Nessa perspectiva, existiu um presente que apenas pode ser acionado como
aquilo que está ausente, porém, tem significado de ser e estar. Para Ricoeur (2007),
existe o tempo vivido, que foi presença e possibilitou uma inscrição como “impressão-
afecção”, isso porque, deixou marcas por meio de sensações. No entanto, só é possível
mobilizar aquela presença anterior como ausência na forma de articulada nas discussões
de Paul Ricoeur (2007), é acionada para pensar que são apenas os rastros que podem ser
mobilizados no trabalho de memória e não o acontecimento vivido como tal.
A senhora Elfi Thompsem demonstrou, por meio da oscilação na tonalidade da
voz, expressões que simbolizavam “alertas” devido a chegada da professora, que foi
possível rememorar porque as sensações envolvendo as decisões de esperar ou não na
outra margem do rio a travessia da balsa, marcaram suas vivências, ou melhor, o que
estou entendendo como experiências na escola, e como memória. Nas palavras do
filósofo da história Paul Ricoeur (2007, p. 248), “[...] a lembrança se dá como uma
imagem do que foi antes visto, ouvido, experimentado, aprendido, adquirido; e é em
termos de representação que pode ser formulado o alvo da memória enquanto é dita do
passado”.
A noção de experiência que assumo, irá permear as investigações envolvendo as
recordações anunciadas por sujeitos que tiveram suas vidas, de alguma forma tocadas ao
viver o cotidiano da Escola Pública de Itoupava Norte. Digo tocadas, porque estou
entendendo, por meio das concepções de Jorge Larrosa (2017, p. 2526), que “a
experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca”. Portanto, tudo o que
se vive são necessariamente experiências? Considero que não. Para que aconteça uma
experiência, o sujeito precisa estar passível, ou seja, dispovel para ser afetado. Ainda
nas palavras de Larrosa (2017, p. 25 26), “[...] o sujeito da experiência se define não por
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sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade,
por sua abertura”. Nessa perspectiva, ser passível adquire outras dimensões, onde a
experiência se efetiva no momento em que o sujeito permite ser espaço e tempo de
passagem.
A experiência da senhora Elfi Thompsem contribui para pensar que apesar da
Escola Pública de Itoupava Norte ter sido impactada pelo processo de nacionalização do
ensino, as crianças não deixaram de ser e estar na escola. Continuaram a estabelecer
relações por meio de brincadeiras, situações de confrontos, arranjos de amizades,
afrontamento de normas, mesmo perante às formas de controle impostas pelos
mecanismos legais, por vezes, manifestados abertamente ou ainda, na sutileza das
práticas escolares cotidianas.
As recordações narradas pela senhora Maria de Lourdes Pereira, com 81 anos de
idade e quando criança chamada de Maria de Lourdes Ramos
7
, também demonstraram
sensibilidade. Após relatar sobre a falta de materiais de estudo na escola considerando
que se tratava de uma “escolinha” muito simples, ela rememora a imagem-lembrança de
um abacateiro e associa os abacates aos recursos financeiros que a professora Alice
Pauli da Silva conquistava, com a intenção de comprar elementos básicos e manter a
escola funcionando. (Maria de Lourdes Pereira, entrevista, 26 set. 2018.)
Num primeiro momento, o que poderia dizer a lembrança de um abacateiro? Mais
do que uma árvore frutífera, os abacates que dali eram coletados tinham uma função de
“ser”. Poderia estar destinado para algum lanche na escola? Tudo indica que não. Eram
encaminhados para a venda, com o objetivo de usar o dinheiro arrecadado para algumas
necessidades materiais que existiam na escola. A recordação da senhora Maria de
Lourdes associou os abacates não pelo seu sabor, nem pela necessidade de servir de
alimento ou ainda pela norma da escola de não coletar o fruto, mas ao compromisso da
professora junto à escola: “muito querida, depois assim, era aquela precariedade da
escola.” Na sequência, seu relato evidenciou a preocupação da professora com questões
que ultrapassavam a sala de aula e que referenciavam outros significados para “um pé de
abacate” no pátio da escola. “Nunca esqueço disso, que ela dizia: você não apanhe esse
abacate, é para vender lá para o seu Schoenau, pai da Elfi Schoenau. Com aquele
dinheiro ela comprava alguma coisa para aula, para a escola.”
Com as observações, imaginei um cenário que integrasse a escola, o abacateiro,
os abacates, as crianças e a professora preocupada em manter os frutos íntegros para
serem comercializados. Assim, uma curiosidade pulsava devido ao desejo de conhecer
7
Entrevista realizada na residência da entrevistada após conversas informais ocorridas no dia 25/04/2018.
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mais sobre a cultura escolar: que tipo de “coisa” interessava comprar para a escola?
Infelizmente, não direcionei essa pergunta à senhora Maria de Lourdes durante a
entrevista. No entanto, nem tudo estava perdido e pela segunda vez me deparei com os
abacates. Agora não mais na escola, porque já tinham sido vendidos, possivelmente para
o senhor Schoenau, um dos comerciantes da comunidade. Em 27 de abril de 1946, num
sábado, a “Liga de Bondade”
8
realizou na Escola Pública de Itoupava Norte sua 3ª sessão
que foi registrada em ata pelo secretário Valdir Lange (APESC, 1946, v. 96). De forma
organizada, o aluno escreveu sobre a “campanha do abacate”, que estava sendo
encerrada e tinha rendido Cr$ 20,00. Com esse valor total e a arrecadação de uma rifa,
foi pago “a pintura dos nossos quadros e compramos um balde novo e vassouras. Nossa
professora [Alice] agradeceu a boa ação de todos”.
As práticas e seus significados, que vão sendo entrelaçados no cotidiano da
escola, são (re) elaboradas pelos sujeitos e constituem a cultura escolar, o que permite
dizer que existe pulsão atravessando essa cultura. É uma travessia que viabiliza múltiplos
caminhos, atalhos, encruzilhadas, desvios, bloqueios. Nesse transitar, quando as
experiências acontecem, reverberam nas formas de ser e estar do sujeito no mundo,
permanecendo inscritas nas memórias e produzindo subjetividades. De acordo com
Agustín Escolano Benito (2017, p. 26), em uma sociedade que reconheceu a escola como
fundamental, “isso se projetou na construção de uma nova subjetividade, apoiada nas
narrativas que recolhem a experiência da formação, como elemento da identidade
biográfica das pessoas [...]”.
As “coisas”, compradas com o dinheiro arrecadado, os próprios abacates que
foram vendidos, precisam ser considerados componentes da cultura escolar e não meros
objetos usados pelos sujeitos sem valor simbólico. Aquelas imagens-lembranças foram
assumindo, na busca para recordar, outras configurações para além da lembrança de
alguns objetos isolados das relações que possibilitaram para ele significados. Desta
forma, o objeto só existe como tal na sua interação com o sujeito, ou seja, apenas se
constitui em um movimento relacional, e para ser reconhecido como tal, não deveria ser
entendido de forma hierárquica. Assim, “a natureza da relação entre sujeito-objeto, tal
como a modernidade ocidental veio a concebê-la, [...] não é evidente para a maioria das
sociedades existentes no planeta”. (BITAR; GONÇALVES; GUIMARÃES, 2013, p. 7)
Todas essas relações entre os sujeitos e com as “coisas” da escola que são
promovidas por iniciativas próprias das demandas escolares ou implementadas por
8
De acordo com a historiadora Maria Teresa Santos Cunha (2013), a “Liga da Bondade” era entendida
como uma associação auxiliar ou complementar da escola recebendo maior incentivo para funcionar a
partir do Decreto-Lei nº 3.735, 17 de dezembro de 1946. Tinha como finalidade promover e ensinar “bons
costumes” para as crianças que fossem consideradas aptas a frequentar aquele grupo.
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mecanismos e agentes externos como as leis e ações governamentais, permitem “efeitos
de presença” e “efeitos de sentidos” na cultura escolar promovendo sua (re) elaboração.
As noções compartilhadas das reflexões de Hans Ulrich Gumbrecht (2010) permitem
considerar que a experiência é elaborada quando inserida em um campo de tensão onde
estão dispostos de forma relacional; portanto, não hierárquica, os “efeitos de presença”
e os “efeitos de sentido”. A palavra “efeito” é indispensável porque considera que a
presença e os sentidos só existem enquanto efeitos, dito de outra maneira, precisam ser
reconhecidos por sua duração. A “produção de presença” que está sendo pensada por
Gumbrecht (2010), diz respeito àquilo que precisa ter sua manifestação reconhecida,
poiso se trata de criar a presença, mas de permitir que ela tenha ressonância
corpórea, concreta e atravessando os seres no mundo; sendo capaz de emitir sensações
que mais do que explicadas racionalmente devem ser vividas.
Representação das “festinhas” evocada pelas memórias e os “efeitos” na cultura
escolar
Uma questão que permitiu o entrelaçamento das cinco entrevistas realizadas, foi
a prática do que as senhoras chamaram de “festinhas”. Inicialmente, escolhi apresentar e
refletir apenas sobre os relatos em que as entrevistadas utilizaram a expressão
“festinhas” ou “festas”. Aparentemente, esse termo pode indicar que se tratavam apenas
de acontecimentos envolvendo brincadeiras, diversão, atividades recreativas, não sendo
compreendidos como um vestígio “interessante” para refletir sobre as possibilidades de
se relacionar em uma escola que vivia o projeto nacionalizador. As “festinhas”, que
representavam para as entrevistadas, todas as características mencionadas acima, foram
relatadas como experiências consideradas prazerosas, promovidas pelas professoras
Alice Pauli da Silva e Maria Cecília Moskorz no pátio da escola ou no campo de futebol
do clube esportivo vizinho.
9
As narrativas envolvendo as “festinhas”, rememoraram lembranças de uma
prática que foi ritualizada na cultura escolar na década de 1940 e que pode ser entendida
como um mecanismo de integração nacional, sem ter necessariamente um caráter
violento. Nem de longe eram momentos descompromissados na escola, sem propósitos.
Por isso, entendo que a história oral possui potencial para encaminhar algumas reflexões
9
O campo citado era da associação “Guarani Esporte Clube” que tem sua história de fundação e
desenvolvimento relacionada à história da escola desde meados do século XIX quando ainda era a
Comunidade Escolar de Itoupava Norte.
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que não pretendem ser reveladoras de verdades, mas que apresentam possibilidades de
percepção. Conforme a concepção de Alessandro Portelli (2016, p. 20),
a forma narrativa sempre contém mais camadas de significado, mais
caminhos de interpretação do que uma análise lógica, racional. Embora
nós não nos abstenhamos de desenvolver hipóteses e de sugerir
interpretações, estamos cientes do fato de que o material que
apresentamos pode sempre ser lido de outras maneiras.
A leitura que realizo, considera que essa prática escolar demonstrou ter “efeitos
de presença” e “efeitos de sentidos”, que foram preservados na memória das
entrevistadas. Então, o que seriam as “festinhas” que aconteciam na Escola Pública de
Itoupava Norte? As recordações das mulheres; acionaram algumas características
relacionadas com esse movimento promovido pelas professoras como: presença das
crianças atuando nas manifestações cívicas, realização das atividades fora da sala de
aula, brincadeiras estimulando o uso da língua portuguesa e lanches coletivos.
A investigação que estou propondo mobiliza, em primeiro plano, o entendimento
dos sujeitos que vivenciaram esse movimento no cotidiano escolar e não como as leis
nacionalizadoras determinavam que fosse executada essa atividade. Essa é uma
diferença de perspectiva que desejo encaminhar, pautada no campo das memórias de
experiências e interessada no percurso da cultura escolar. Entretanto essa perspectiva,
não invalida as tensões existentes nas relações entre os sujeitos que participaram desse
movimento conhecido como “festinhas”, no que diz respeito às disputas, conflitos e
punições que foram vivenciadas. Não significa que as lembranças das entrevistadas
tenham sido inscritas naquele presente permeadas por essas tensões, que tenham
sentidos tensionados. No entanto, que essas “festinhas” também foram entendidas como
momentos prazerosos, considero não ser possível negar. Talvez, porque permitiram
experimentar a escola por outros contornos: o deslocamento por outros lugares, as
brechas para as conversas com os colegas, o prestígio de participar declarando um verso
escolhido pela professora, a interação por meio das brincadeiras, a possibilidade de
comer algo não habitual. Penso que vivenciar as “festinhas” deixou marcas afetivas que
potencializaram a percepção desses sujeitos de uma escola que podia ter práticas
consideradas mais interativas.
A senhora Marilena Teresina Godizigiogesk
10
, na época chamada de Marilena
Teresina Moskorz, além de ser aluna da Escola Pública de Itoupava Norte, certamente no
10
Entrevista realizada na residência da própria entrevistada após conversas informais ocorridas em
10/09/2017.
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NEVES, Anne Caroline Peixer Abreu
194
ano de 1950
11
, era filha dos professores da escola: Maria Cecília Moskorz e José Moskorz,
que chegaram em Blumenau no ano de 1947, tendo sido a professora removida para essa
escola. Em sua entrevista, de forma bem humorada, com risos e descontração na fala
recordou sobre sua participação e também de outras crianças nessas “festinhas”:
“Porque a gente sempre tinha as festinhas. Hoje em dia não fazem, né? Ou fazem ainda,
para os alunos dizerem um versinho. Eu só sei dizer que, aí meu deus, eu também dizia
bastante versinho”. (Marilena Teresina Godizigiogesk, entrevista, 23 set. 2018.)
A senhora Maria de Lourdes, entrevistada já apresentada, também recordou das
“festinhas” e mais uma vez assumiu a sua admiração pela professora Alice Pauli da Silva,
associando as boas lembranças dessas “festinhas” ao empenho da professora que se
dedicava a esses movimentos na Escola Pública de Itoupava Norte. Por meio de uma
narração que apresentou pela tonalidade da voz e nas expressões faciais um sentimento
de saudade daquelas experiências, a entrevistada foi descrevendo como aconteciam
aqueles movimentos que passaram a pertencer à cultura escolar:
Lembro assim das festas que ela promovia, do jeito que a gente tinha
festa, dia 1º de maio, então ela festejava o dia 22 de abril que era o
descobrimento do Brasil [...], cantava o hino nacional, a gente cantava o
hino a bandeira, [...] dizia versinho do Brasil, aquilo tudo para a gente era
[sorriso]. (Maria de Lourdes Pereira, entrevista, 26 set. 2018.)
É possível perceber que essa recordação de participar com a leitura de versinhos
e dos cantos dos hinos, foi narrada com entusiasmo e no plural, relacionando com suas
recordações, outros alunos e considerando que era um movimento que agradava as
crianças da escola, e não apenas ela. Na sequência, a senhora Maria de Lourdes recorda
um acontecimento onde, após as manifestações cívicas, os alunos foram encaminhados
para o campo de futebol e puderam interagir por meio das atividades direcionadas pela
professora Alice Pauli da Silva envolvendo brincadeiras e comidas:
Depois a gente ia lá para o campo do Guarani e lá a gente fazia uma festinha,
então ela fazia corrida de saco, ela fazia corrida de ovo na colher, corrida dos
meninos. Depois ela fazia assim um balde cheio de capilé, aquilo era groselha
com água do poço e pirulito. Então aquilo para nós era a maior festa. que a
gente tinha que ir de meia branca e grampo no cabelo, as meninas. Os meninos
com sapatos, bem, muitos não tinham sapatos, aqueles que tinham botavam
uma meia branca, camisinha. Tinha que ser bem bonitinho. E aquilo era a nossa
festa. Aí então, a gente chegava, 7 de setembro, então era aquela festa, bandeira
hasteada, todos os sábados a gente hasteava a bandeira [...]. (Maria de Lourdes
Pereira, entrevista, 26 de set. 2018.)
11
A presença dela na escola é afirmada nesse ano devido algumas atas do “Pelotão da Saúde” encontradas
no Arquivo Público do Estado de Santa Catarina - APESC.
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Memórias de experiências e a cultura escolar da escola pública de Itoupava Norte no período da nacionalização do ensino - 1940
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Considero fundamental mobilizar outras recordações narradas pela senhora
Maria de Lourdes Pereira relacionadas às “festinhas”, associando a professora Alice
Pauli da Silva como uma incentivadora da cultura nacional, interessada em destacar
questões referentes ao Brasil: “Era muito patriota, muito patriota. A gente tinha festinha
no dia da árvore, ela fazia uma festinha para a árvore, lá mandava os meninos plantar
uma árvore, a gente cantava, tinha música da árvore. Então, aquilo tudo era, a gente
amava aquela professora”.
É possível observar que não apenas manifestações patrióticas permeavam o
movimento das “festinhas” na escola. Existiam outros elementos que estavam presentes
e diversificavam as atividades que relacionavam as crianças naquele processo como, por
exemplo, cantar um versinho sobre a árvore, plantar uma mudinha de árvore, ou ler,
declamar um versinho sobre amizade. A própria senhora Maria de Lourdes recordou
esses versinhos e, mesmo envergonhada, decidiu cantar alguns. Iniciou com o versinho
que ela considera “assim de menina”, e com um tom de voz sutil e ritmado, cantou:
“Amiguinha venha cá, vem comigo vem dançar, para lá para cá, vira a roda dance já”. Em
seguida, relatou que “isso a gente cantava em roda” e cantou mais um versinho, dessa
vez, sobre a árvore: “Cavamos a terra, plantamos nossa árvore, nas sombras ou frutos
ou flores dará”.
Pensar pelo percurso da cultura escolar significa reconhecer que existem
permanências que atravessam as relações dos sujeitos na escola e que continuam
atuantes, mesmo após anos sendo manifestadas. Muitas vezes, segundo Agustín
Escolano Benito (2017, p. 26), os “testemunhos das coisas e das pessoas compõem,
precisamente, o patrimônio material e imaterial, que o passado da escola nos legou.” Em
outras palavras, a senhora Maria de Lourdes conservou a letra e o ritmo dos versos
como um patrimônio imaterial possivelmente porque a experiência foi associada não
apenas aos ensinamentos de como cantar, mas com a roda, com o pátio sendo o lugar
onde aconteciam as práticas. Um conjunto de elementos requisitados para acionar
“efeitos” de presença/sentido para aquelas manifestações na escola.
Com essas recordações, foi possível refletir que as “festinhas” foram entendidas
como formas de confraternização e integração. A cultura brasileira era, em certa medida,
estimulada e ensinada por meio de uma didática que não envolvia apenas os usos dos
símbolos nacionais como recursos de aprendizagem; também não utilizava somente a
escrita e a leitura em sala de aula ou ainda, nem sempre se valia da aplicação de castigos
como maneira de ensinar. Eram operacionalizadas práticas no cotidiano escolar que
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fomentavam aspectos lúdicos no ensino. Ao que tudo indica, não era exclusivamente por
meio de mecanismos repressivos que o ideal de identidade nacional brasileira era
introjetado na Escola Pública de Itoupava Norte.
Para considerar os significados desses movimentos de “festinhas” e seu caráter
pedagógico, retomo, de forma direta, o contato com as concepções de Agustín Escolano
Benito (2017) para pensar que a prática dessas “festinhas” permitia às crianças outras
percepções da escola; o que não significar dizer que deixavam de existir ou de serem
cobrados contornos rígidos em relação a essa prática. Mesmo de forma mais despojada
em relação ao rigor da sala de aula, o que já era visto como uma mudança, as
manifestações cívicas associadas às “festinhas” e a maneira didática de ensinar
elementos de brasilidade não perdiam sua ritualística e seu caráter oficializado.
É possível, inclusive, que tais comportamentos sejam praticados com prazer: as
crianças gostam dos cumprimentos; às vezes, exageram nas reverências;
acatam com entusiasmo determinadas condutas rituais... [...] De igual modo, eles
gostam dos rituais que repetem, em forma de protocolo bem pautado,
executado de forma lúdica, porém com o devido rigor. Mesmo quando criticam
ou tratam com ironia, a disciplina ou o humor sempre facilitam a aceitação geral
das cerimônias obrigatórias, que requerem a cooperação entre as crianças e os
adultos, assim como entre pares geracionais. (BENITO, 2017, p. 86)
Portanto, deslocando o olhar para as memórias de experiências que as crianças
vivenciaram no cotidiano escolar, no caso desse estudo por meio da história oral, surge a
possibilidade de pensar essa escola sendo nacionalizada para além da noção de mando e
sujeição, pautada na hierarquia que verticaliza as relações e entende os alunos e as
alunas como pessoas que não tinham ou não podiam fazer escolhas.
Na entrevista da senhora Marilena, ainda é possível acessar outro relato: uma
recordação que envolve um momento de sofrimento, mas que foi apresentada em sua
narrativa como emocionante, por se tratar de um elogio conferido à sua mãe e
professora da escola, Maria Cecília Moskorz na ocasião do seu enterro. Com a voz
embargada pelo choro e a cabeça baixa, ela contou o que escutou do diácono que
participava dos rituais fúnebres e que foi aluno da sua mãe: “Ele disse: não sabia falar
uma palavra em português e d o que fazia a dona Maria, [...] ela levava nós no campo e
nós brincava de roda, de rodar, daquele ovo podre, aquelas coisas. E daí eu aprendi a
falar o português.” Mesmo sem usar a expressão “festinhas”, o homem relatou como as
brincadeiras foram importantes para que ele aprendesse angua brasileira, evidenciando
que as experiências inscritas de uma forma lúdica tinham sido positivadas em relação ao
aprendizado da nova língua.
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Memórias de experiências e a cultura escolar da escola pública de Itoupava Norte no período da nacionalização do ensino - 1940
197
Outra entrevistada que também acionou a lembrança dos versinhos recitava,
porém, não se referiu a esses acontecimentos na escola usando o termo “festinhas”, foi a
senhora Elfi Thompsem, já apresentada em outro momento da escrita. Além do fato de
ter sido aluna da professora Alice, suas recordações demonstraram que as
manifestações cívicas permitiram que as crianças se sentissem valorizadas: “A gente
gostava, era uma pessoa importante porque a professora chamou para a gente dizer um
verso. Ela dava para a gente aprender, depois declamar o verso”.
Também sem utilizar propriamente o termo “festinhas”, mais uma entrevistada
recordou os movimentos ritualizados na escola. A senhora Verônica Stank
12
, atualmente
com 81 anos de idade e que tinha quando criança outro sobrenome Verônica Puff,
possivelmente estudou na Escola Pública de Itoupava Norte entre os anos letivos de 1947
e 1950 cursando até o 3º ano do ensino primário, sem interrupções, sendo esse último
ano frequentado por duas vezes devido a uma reprovação. Em seus relatos, as
manifestações cívicas são recordadas reiterando a participação dos alunos envolvidos
nos cantos e o hasteamento da bandeira: “Sábado então, se cantava o hino nacional, [...]
tinha todo sábado, tinha com a bandeira [...]. Nós não podia mais nem esperar até que
chegasse, era tão bom [...] também o hino do soldado”. Ao significar aqueles momentos
como “bons”, entendo que a senhora Verônica indicou não associar diretamente àquela
prática como algo negativo, mesmo ela tendo sido implementada por determinão
governamental na escola, para incutir o “espírito de brasilidade” nas crianças, se tornado
parte da cultura escolar e alterando o cotidiano. (Verônica Stank, entrevista, 02 out.
2018.)
É importante declarar que as “festinhas” foram acionadas nas recordações das
entrevistadas, pela via da história oral, que permitiu pensar o campo da experiência por
meio da memória. Porém, as “festinhas” também foram registradas em documentos
escritos que estão sendo mobilizados como fontes dessa pesquisa as atas escolares
13
.
Os documentos analisados se referem às seguintes associações da Escola Pública
de Itoupava Norte nos anos de 1940: Liga Pró-Língua Nacional, Pelotão da Saúde, Liga da
Bondade, Clube Agrícola e Caixa Escolar. Ao observar seus conteúdos, foi possível
identificar que não eram todas as atas que registravam a realização de “festinhas”, isso
porque, esse movimento parece ter sido direcionado especificamente para a Liga Pró-
12
Entrevista realizada na residência da senhora Melânia Laitske após conversas informais ocorridas em
27/03/2018.
13
Todas as atas escolares foram encontradas no Arquivo Público do Estado de Santa Catarina (APESC, no
fundo de Educação e a maioria das atas não apresenta uma sequência sendo exemplares aleatórios. Em
poucos casos é possível analisar as atas de forma quase contínua percebendo uma movimentação anual.
Foram selecionadas atas das associações escolares referentes ao ano de 1944, 1945, 1946, 1949, 1950 e 1951.
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NEVES, Anne Caroline Peixer Abreu
198
Língua Nacional”
14
. Em nenhuma ata analisada, produzida pelas outras associações
escolares, existe qualquer registro que envolva a realização de algum tipo de:
comemoração, brincadeira, homenagem e apresentação das crianças envolvendo os
propósitos de cada associação.
Essa constatação possibilita inferir, que acionar atividades lúdicas na escola
estava diretamente relacionado à promoção da nacionalização do ensino; e, portanto,
demonstra ter sido um mecanismo governamental para propiciar o envolvimento das
crianças com as questões da cultura nacional por meio de uma abordagem mais
“pedagógica”. Essas percepções permitem apontar questionamentos sobre a noção, já
estabelecida em outros estudos historiográficos, de que a nacionalização do ensino,
promovida no governo de Getúlio Vargas, teria sido “menos pedagógica” em comparação
com a nacionalização das décadas de 1910 e 1920 encaminhadas em Santa Catarina por
Orestes Guimarães. Penso que não se trata de comparar os dois movimentos, pois, cada
um foi estruturado com fundamentos, propósitos educacionais e políticos de sua época.
No entanto, as análises desse estudo apresentam pelo percurso da cultura escolar, que é
viável observar que algumas experiências inscritas na memória dos sujeitos que
vivenciaram a Escola Pública de Itoupava Norte, durante a campanha de nacionalização
do ensino na década de 1940, foram elaboradas como prazerosas. O que não inviabiliza a
existência de lembraas do cotidiano da escola que remetam à traumas, práticas
repressivas e conflitos, que também se mostraram presentes nas narrativas das
entrevistadas.
Geralmente, no final das atas da Liga P-Língua Nacional, a criança escolhida
como secretária, registrava, aparentemente com a supervisão de uma professora, as
informações sobre a organização da “festinha” na escola e os alunos que iriam participar
diretamente com alguma função na manifestação cívica daquele dia. Na ata de 25 de
agosto de 1945, a aluna e secretária Elfi Schoenau, uma das senhoras entrevistadas,
registrou: “Realizamos a seguinte festa em homenagem ao Duque de Caxias e ao valente
soldado expediciorio” e seguiu o registro com o que habitualmente era nomeado como
programação, descrevendo as “homenagens” para os símbolos, personalidades ou
eventos nacionais que teriam sido estudados naquela reuno por meio de uma
14
O programa escolar intitulado “Liga Pró-Língua Nacional” foi colocado em prática por Luiz Sanches
Bezerra da Trindade, que foi o primeiro inspetor a comandar a Inspetoria Geral das Escolas Particulares e
Nacionalização criada com o Decreto-Lei n. 124 de 18 de junho de 1938. As Ligas estiveram mais voltadas
às escolas em áreas de imigração. (LUNA, 2000, p. 56).
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Memórias de experiências e a cultura escolar da escola pública de Itoupava Norte no período da nacionalização do ensino - 1940
199
“preleção
15
” realizada pela professora que, de acordo com a ata, estava acompanhando
aquela reunião (APESC, 1945, v. 85).
A senhora Maria de Lourdes não aparece em nenhum documento analisado como
secretária de alguma associação, mas está registrada na posição de monitora do Pelotão
da Saúde em 1946. Na ata da 7ª reunião da Liga Pró-Língua Nacional, ocorrida em 19 de
novembro de 1946, foi escolhida como a aluna responsável pela a “saudação á Bandeira”
durante a “festinha” na Escola Pública de Itoupava Norte (APESC, 1946, v. 106, p. 06).
Aparentemente, para a senhora Maria de Lourdes, participar da Liga P-ngua
Nacional significava desenvolver funções não apenas por desejar estar perto da
professora e do professor ou estar inserida em um grupo de amigos. Assumiu uma
centralidade na vida escolar da aluna, que não precisou aprender a falar o português, já
que era “brasileira pura” conforme declarou na entrevista. Contudo, seus relatos
indicaram que também precisou encontrar mecanismos para interagir em uma escola e
comunidade de descendência alemã, onde, por meio dos laços de sociabilidades muitas
vezes pautados em questões étnicas, não existia muita abertura para aqueles que não
compartilhavam certos elementos culturais como a língua.
Suas recordações enfatizaram as experiências juntamente com a associação da
Liga P-Língua Nacional, talvez porque para além dos versinhos ou os cantos que ainda
remetem orgulho, seu envolvimento nessa associação permitia que ela tivesse maior
destaque e se distinguisse de outros alunos, já que de acordo com seu relato “era
responsável por cuidar pra ninguém falar em alemão na escola ou também não falar
palavrão, assim, falta de educação”. Quando identificava que a proibição contra angua
alemã estava sendo desrespeitada tanto dentro como fora do espaço escolar, contava
para o professor José Moskorz: “O fulano lá falou palavrão em alemão e xingava a gente
em alemão também. Aí o seu José chamava atenção, dava as vezes castigo por escrito,
copiar não sei quantas vezes aquelas coisas”.
No entanto, tudo indica que essas práticas no cotidiano escolar limitaram suas
relações de convivência e contribuíram para que a menina Maria de Lourdes fosse
tratada de certa forma com indiferença por várias crianças, o que reverberou no
presente por meio de recordações de momentos solitários: “A maioria é de origem alemã
aqui, muito pouco brasileiro. Assim, a gente sentia a diferença, pouca gente falava o
português. A gente não tinha, quase amiga, a única amiga que a gente mais se adaptou foi
a Verônica Puff”.
15
Esse era o termo utilizado em algumas atas da Liga Pró-Língua Nacional quando se registrava a
explicão que o professor tinha realizado sobre determinada personalidade ou evento considerado
referência de patriotismo.
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NEVES, Anne Caroline Peixer Abreu
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Essa percepção de indiferença, também adquire consistência quando são
analisados os registros na ata do Pelotão da Saúde, que esteve reunido no dia 23 de
fevereiro de 1946 para escolher a nova diretoria do grupo para aquele ano. A aluna Maria
de Lourdes se colocou à disposição para exercer um dos cargos, mas não recebeu
nenhum voto, ficando como monitora junto com outras crianças menos votadas (APESC,
1946, v. 102). No caso da Liga Pró-Língua Nacional, sua presença recebia, aparentemente,
destaque, e interessava aos professores seu envolvimento; porém, para muitos alunos
sua presença era sinônimo de denúncias e possíveis castigos.
A entrevistada Marilena Teresina Godizigiogesk
16
, agora em outra entrevista,
evidenciou que também era alguém que não tinha muitos amigos, considerando que sua
presença era avaliada pelos colegas como incômoda. Para ela, um dos motivos era por
ser filha do casal de professores, além de morar em uma construção nos fundos da
escola destinada a servir como residência do professor, o que fazia com que as crianças
desconfiassem dela por acharem que as conversas e atitudes seriam remetidas a seus
pais e ocasionassem consequências. Relatou a questão com lamento, dizendoque tinha
as amizades, às vezes eu ia na casa deles quando eles me convidavam. Assim, a gente
tinha crianças que gostavam da gente, brincavam, mas a maioria não gostava”. (Marilena
Teresina Godizigiogesk, entrevista, 02 out. 2018.)
Na sequência dessa fala, a senhora Melânia Laitske
17
, chamada quando criança de
Melânia Puff, que também participou dessa mesma entrevista, apresenta de forma direta
sua justificativa: “Sempre tinha aquela diferença, eles são caboclos”. Nesse momento foi
possível observar que a senhora Marilena é pega de surpresa com essa fala e responde,
de forma breve, não querer abordar a questão: “Há, também tem essa”. Em seguida a
senhora Melânia continua sua fala parecendo tentar amenizar a tensão: “Eram os
caboclos. Para nós, os descendentes de alemães, chamavam eles de caboclos. Não só a
família dela, em geral. Os brasileiros que não falavam alemão eram caboclos”. (Melânia
Laitske, entrevista, 02 out. 2018.)
É preciso dizer que as duas entrevistadas, tanto a senhora Maria de Lourdes
como a senhora Marilena, possuem memórias de experiências que as aproximam; e, com
isso, permite pensar que determinados elementos em comum, como; falar a língua
brasileira, estar envolvida com situações ou com pessoas responsáveis pela escola, que
era pública porque recebia subvenção do governo do estado de Santa Catarina, e
16
Entrevista realizada na residência da senhora Melânia Laitske após conversas informais ocorridas em
27/03/2018.
17
A senhora Melânia Laitske esteve presente durante a entrevista com a senhora Marilena Teresina
Godizigiogesk. Entrevista realizada na residência da senhora Melânia Laitske após conversas informais
ocorridas em 27/03/2018.
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Memórias de experiências e a cultura escolar da escola pública de Itoupava Norte no período da nacionalização do ensino - 1940
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portanto, ao que tudo indica, implementava as leis nacionalizadoras que proibiam a
ngua alemã, podem ser elementos preponderantes para entender a indiferença com que
as alunas eram tratadas.
Considerações finais
Pelo percurso da cultura escolar, onde as experiências narradas estão
mobilizando as análises por meio do trabalho de memória, a campanha de nacionalização
do ensino implementada na Escola Pública de Itoupava Norte na década de 1940, não
aparece como uma atuação exclusivamente repressora, que efetivou instrumentos de
controle deliberados envolvendo o cotidiano da escola. As entrevistadas apresentaram
recordações das “experiências inscritas” em suas trajetórias de vida, e que tamm
compuseram a cultura escolar, não evidenciando as leis e ações nacionalizadoras de
maneira impositiva.
Isso não significa que as relações entre os sujeitos e com as coisas na escola não
tenham sido permeadas pelos encaminhamentos governamentais que influenciaram a
vida escolar de forma tensionada. Ocorreram disputas, trocas de interesses,
aproximações e distanciamentos que viabilizaram, ou não, relações apaziguadas em meio
a outras formas de existência da escola, que agora adquiria certos contornos porque
estava sendo enquadrada no processo de nacionalização do ensino conduzido entre os
anos de 1930 e 1940 durante o governo de Getúlio Vargas.
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______________, v. 102, 1946, Escola Pública de Itoupava Norte, Atas, ESC/GE, 1946.
______________, v. 106, 1946, Escola Pública de Itoupava Norte, Atas, ESC/GE, 1946.
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Verônica Stank, entrevista, 02 out. 2018.