FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.141-161, jan.-jun., 2019
Os sentidos do patrimônio: história oral, edificações e modos de viver no Bairro da Barra/Balneário Camboriú – SC
153
O valor da Capela de Santo Amaro já era algo esperado nas entrevistas, tanto por
já ser tombada, quanto pela tradição que o catolicismo tem no local. A capela é aberta
para visitações turísticas e é o único bem cultural que recebe uma política pública
cultural, por meio da Fundação Cultural de Balneário Camboriú, visando a sua
conservação. Vale ressaltar que não há nenhuma política de educação patrimonial
específica para o local, somente um esforço da própria comunidade para resguardá-la.
Para além do patrimônio edificado da capela, as festas religiosas possuem um papel
importante na comunidade como momentos de lazer, confraternização e demonstração
de fé. O consenso popular afirma que a Capela de Santo Amaro foi inaugurada em 1758.
Entretanto, as fontes não comprovam a sua existência neste período. A primeira
documentação sobre ela aparece somente no século seguinte, mais especificamente, na
Lei Provincial de 28 de março 1840 que autorizava sua construção.
Nessa primeira metade do século XIX, era uma capela filial, pois Camboriú
pertencia à Freguesia de Porto Belo. Quando o Arraial de Camboriú se tornou Freguesia,
em 1849, foi promovida a Igreja Matriz do Bom Sucesso. Camboriú tornou-se município
em 5 de abril de 1884 com sede na Barra, porém, com o crescimento da população na
chamada Vila dos Garcias, a sede municipal foi transferida para lá em 1890. Alguns anos
depois, a igreja Matriz também mudou para este mesmo local. Neste momento, retornou
à condição de capela e, na documentação oficial, era chamada de Antiga Matriz, Capela
da Barra ou de Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso (SANTA CATARINA, 1840, p.
3). Por muito tempo, as festas de Nossa Senhora do Bonsucesso e a de Santo Amaro
foram as principais festas de toda a região. A festa do Bomsucesso ainda ocorre com
incentivo da Fundação Cultural, mas não nos mesmos moldes como relatos por Júlio, que
relata:
A festa de janeiro, eu me lembro de duas festa de janeiro que tinha procissão
pelo mar, aquilo dava uma missidade de gente, esse altar da igreja aqui ó, isso
aqui era coberto de massa de pão, pessoal que fazia promessa. Tinha perna,
tinha cabeça, tinha mão, tinha braço, tinha pé, tudo feito de massa de pão,
inclusive agora em agosto teve uma mulher que trouxe a perna, foi uma
promessa de Santo Amaro, o João Batista que eu falei pra vocês, no fina ele
fazia um leilão, quem dava mais por esta peça. Tudo era pra ganhar fundos pra
igreja né. Mas era muita massa, aqui nois ficava umas duas, três hora fazendo
aquele leilão ali né, pra ver quem dava mais por aquela massa, quem queria
comprar, tinha gente de Itapema, Camboriú, de tudo quanto é lugar, Porto Belo.
A segunda festa que eu vi de Santo Amaro também foi grande, foi a maior de
todas. Teve aqui a dupla Tunico e Tinoco, pô e aquilo foi um festão rapaz, essa
festa todo mundo até hoje lembra, todo mundo que é nativo lembra tinha carro
estacionado daqui da igreja até o final da Barra. Nunca vimo tanto carro na vida
(Júlio Cesar Alexandre, entrevista, 15 set. 2017).