FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.478-482, jan.-jun., 2019
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abordagem da história global objetiva suprimir tal história, já que o Estado Nação tem
sido tão problematizado pela historiografia desde o final do século XX. O objetivo não é
escrever uma história total do planeta ou ser um sinônimo de macro-história, mas uma
tentativa de ressaltar conexões globais e condições estruturais que, na verdade, sempre
houve, mas em níveis de impacto diferentes. Sendo assim, tudo pode se tornar história
global. Sobre esta perspectiva, o trabalho, enquanto conceito, é uma das temáticas que
pode ser analisada numa perspectiva global, por exemplo, como parte da economia da
escravidão, que estabeleceu relações entre Brasil, Angola e Portugal.
O capítulo II, “Historiografia Ecumênica”, apresenta ao leitor autores que teriam
uma visão planetária da história, como o otomano Mustafa Ali (1541–1600) ou o
historiador mongolês Tahir Muhammad (ca. 1560). Conrad (2016) afirma que esses
autores teriam produzido uma História Mundial na época da hegemonia ocidental,
entretanto, não obtiveram reconhecimento, pois eram considerados historiadores
amadores. Ampliando o conceito de história global, segundo o autor, Heródoto e Ibn
Khaldun também já teriam escrito uma história considerada planetária. Além disso,
pesquisa olhares de pensadores periféricos sobre a Europa, um dos temas deste capítulo,
como o exemplo do livro História da Índia Ocidental (Tarih-i Hind-i garbi), escrito em
Istambul, em 1580, por um turco em anonimato, que tentava compreender a inesperada
ampliação de horizonte e do dilema cosmológico apresentado pela descoberta do “Novo
Mundo”.
Ademais, o autor reconhece que fazer uma história global não seria algo novo, e
cita que a teoria da dependência produzida na América Latina, os estudos subalternos e
de gênero, o pan-africanismo e o movimento de negritude, produzidos por autores como
Frantz Fanon (1925-1961), Aimé Césaire (1913-2008) e Léopold Senghor (1906-2001),
seriam o ponto de partida para ou uma tentativa de produzir uma história global.
História comparativa, transnacional, estudos pós-coloniais, concepção de
múltiplas modernidades e teoria dos sistemas mundiais são abordados no capítulo III,
“Disputa de Abordagens”. Estas correntes são colocadas em diálogo com a História
Global pelo autor. Ele explicita a influência destas sobre os historiadores globais (por
vezes sem reconhecimento), que são potencialmente usadas para escrever uma narrativa
global coerente. Cada uma dessas abordagens é apresentada também com seus limites.
No conjunto da produção de história comparativa, os estudos permaneceram vinculados
ao conceito de diferentes “civilizações” e muitas vezes foram escritas a partir da
perspectiva da cultura europeia. A concepção de múltiplas modernidades pressupõe a
existência de vários modelos de modernidade, que não são construídos sobre o
paradigma da ocidentalização, todavia esta metodologia acaba por negligenciar