Tania Regina de Luca
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.1, nº1, p. 3-5, jan.-jun., 2014.
jornais e revistas levados a cabo nesses países, com seu novo rol de indagações e sugestões
de abordagem.
O Rio de Janeiro do século XIX e suas revistas humorísticas são objeto de reflexão de
Renan Rivaben Pereira, que fornece um panorama das principais publicações lançadas a partir
de 1850, seus responsáveis, objetivos e fontes de inspiração. O autor detém-se de forma mais
pormenorizada nos projetos de Henrique Fleiuss e Angelo Agostini, evidenciando as
possibilidades analíticas e os debates suscitados pela Semana Ilustrada e Revista da Semana.
Camila Soares López, por sua vez, apresenta a fervilhante vida intelectual da Paris de fins do
século XIX que se tem a oportunidade de adentrar por meio do Mercure de France, periódico de
destaque no cenário francês e a partir do qual se acompanham os debates literários e culturais
daquele tempo.
No que respeita às questões de gênero, não restam dúvidas quanto à importância dos
periódicos para revelar valores, hábitos e prescrições que cercavam as mulheres, como bem
evidencia o artigo de Tânia Regina Zimmermann e Ana Carolina Oliveira Carlos, que retoma o
jornal A Cruz, em circulação em Cuiabá entre os anos 1910 e 1915. O título do periódico
explicita sua a vinculação com a Igreja Católica, cuja intenção era a de definir papéis bem
claros e distintos para homens e mulheres, confinando às últimas ao espaço doméstico e às
obrigações para com os filhos, o marido e o lar, tal como se observa no exemplo estudado.
A imprensa periódica é um produto híbrido, de caráter transnacional cujos modelos e
gêneros circulam para além das fronteiras nacionais, aspecto patente nos artigos já citados,
mas que se assume o centro da cena no texto de Flavio Ribeiro Francisco. Este trata das
apropriações entre o jornal da imprensa negra paulista Clarim da alvorada (1924-1926) e o
norte-americano Negro World, que divulgava as atividades políticas do líder radical negro
Marcus Garvey, o que acabou por alterar a linha editorial inicialmente adotada e reservar outro
lugar à África.
Em contexto e registro diversos, é também a questão da linha política adotada na
contribuição de Raquel Oliveira Silva, cujo tema é o posicionamento da imprensa baiana
durante a Segunda Guerra Mundial frente ao tenso desenrolar dos acontecimentos daqueles
anos, registrado nos jornais do estado. Se, antes de 1942, era possível a circulação de um
periódico simpático aos regimes totalitários, a exemplo do que se observava no Rio de Janeiro
com o diário Meio Dia, de Joaquim Inojosa, a situação alterou-se em 1942, com a entrada para
a ordem do dia do esforço de guerra e a presença marcante dos EUA e sua política da Boa
Vizinhança, como se observa no exemplo apresentado.